O policial militar Roy Martins Cavalcanti afirmou que agiu em legítima defesa ao disparar contra o entregador Nilton Ramon de Oliveira, que se negou a subir até o apartamento para entregar o pedido, no Rio. O caso ocorreu na segunda-feira (4), e a vítima está hospitalizada.
O que aconteceu
Após disparar contra o entregador, Roy Martins compareceu ao 32º DP de Taquara e prestou depoimento. Conforme o boletim de ocorrência, o policial alegou legítima defesa, na Vila Valqueire, zona oeste do Rio de Janeiro.
O PM foi liberado, e o ocorrido foi registrado como lesão corporal. A Polícia Civil chegou a apreender temporariamente a arma utilizada no ocorrido, mas posteriormente a devolveu ao policial.
Em comunicado, a Corregedoria da Polícia Militar do Rio de Janeiro informou que iniciou um processo para investigar as circunstâncias do caso. Não foi divulgado se o agente será afastado de suas funções durante as investigações. O delito está sendo apurado pelo 28º DP de Campinho.
Vítima está internada na UTI
Nilton Ramon encontra-se na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do Hospital Municipal Salgado Filho, na zona norte do Rio. Ele foi alvejado por um disparo na artéria femoral e passou por duas intervenções cirúrgicas.
Um tio dele, que optou por não se identificar, mencionou que o jovem já recobrou a consciência e conversou com familiares.
Conforme relatado pelo tio, o projétil atravessou a perna do entregador:
Ele fez todos os procedimentos, graças a Deus está falando, abriu os olhos e falou chamando pela minha filha. Deu um sorriso para minha esposa, que é quem está acompanhando os procedimentos relatou.
Por meio de comunicado, a Secretaria Municipal de Saúde esclareceu nesta quarta-feira (6) que o estado de saúde do entregador ainda é crítico. Em virtude do disparo, foi necessário reconstruir a artéria, que ficou danificada.
“Um menino de bom coração”, diz tio
Conhecido pelos familiares como “Niltinho”, o entregador atua no ramo há quase quatro anos. O tio relata que ele teve poucas oportunidades na vida, mas é um jovem dedicado.
Não foi criado pela mãe, passou pouco tempo com o pai, um menino esforçado, largou os estudos para trabalhar, que era o que ele estava fazendo, um menino muito esforçado, um menino de bom coração, sabe? declarou.
O tio esclareceu que nunca pensou que o sobrinho seria atingido por um tiro durante o trabalho. “Minha cunhada veio me avisar dizendo que seria um acidente. Eu troquei de roupa rapidinho, peguei o carro e fui até o encontro dele. No caminho, descobri que ele tinha sido baleado”, lamentou.
Imagina você receber uma notícia de que um anjo querido teu tomou um tiro, foi parar no hospital, sabe, ensanguentado, sei lá, a gente tomou um susto muito grande, mas Deus é tão bom que ele deu todo o suporte, o menino tá se recuperando bem Tio de Nilton
Entenda o caso
O policial militar e sua esposa fizeram um pedido de comida por meio de um aplicativo, que foi entregue por Nilton.
Após a chegada do pedido, o policial e sua esposa teriam se negado a descer para retirá-lo, e o entregador informou que não subiria até o apartamento deles, pois isso não estava incluído em suas responsabilidades de trabalho.
Como o policial militar não desceu, o entregador procedeu com as etapas de devolução do produto e regressou ao estabelecimento onde a compra foi realizada, momento em que foi abordado pelo cliente, na praça Saiqui.
Registros feitos por Nilton mostram uma discussão entre ele e Roy. O agente, armado, indaga por que o entregador está “com a mão na cintura”. O jovem nega estar armado, ergue a camisa e declara: “Tô armado não, filho. Sou trabalhador”.
Logo após, o jovem menciona estar sob ameaça por parte do policial:
Ele está tentando me agredir. Mostrou a arma na minha cara. Tira a arma e faz na mão afirmou o trabalhador.
O policial responde ao entregador afirmando que ele teria sido rude com sua esposa:
Trabalhador o caralh*. Minha mulher te tratou com maior educação, vai tomar no seu c*. Seja educado. Não se propõe a fazer entrega? Então seja educado. Minha mulher tem 42 anos e te respondeu na maior educação.
Mais tarde, Nilton é visto no chão, ferido e sangrando, atingido na perna. Ele foi socorrido pelo Corpo de Bombeiros e encaminhado ao Hospital Municipal Salgado Filho, no Méier.
iFood bane PM da plataforma e diz que Nilton agiu corretamente
Em comunicado ao UOL, o iFood comunicou que a conta do PM foi excluída da plataforma.
Ao afirmar “não tolerar qualquer tipo de violência contra os entregadores parceiros”, a plataforma mencionou que o entregador está sendo apoiado legalmente, com a atuação de uma advogada do coletivo de defensoras Black Sisters em Law, que acompanhará todo o desenrolar do processo jurídico do caso.
Nilton agiu corretamente afirma a gerente do iFood.
Tatiane Alves também comunicou que a plataforma está em contato com os familiares do trabalhador e se disponibilizou para oferecer apoio no que for preciso.
O entregador deve realizar a entrega no “primeiro ponto de contato”, que pode ser o portão da casa ou a portaria do prédio.
A empresa informou que comunica os entregadores e consumidores sobre essa recomendação. De acordo com a plataforma, estão sendo implementadas iniciativas para conscientizar moradores e capacitar profissionais de condomínios no Rio.
Esperamos que o caso não fique impune e que Nilton se recupere.