Um familiar do entregador atingido por tiros no Rio de Janeiro por um policial militar afirmou que Nilton Ramon de Oliveira não consegue dormir desde que recebeu alta da UTI. Ele está hospitalizado no Hospital Salgado Filho, localizado na zona norte do Rio.
O que aconteceu
Nilton Ramon de Oliveira, de 24 anos, está “com muito medo”. Um tio, que optou por não se identificar, relatou ao UOL que esteve com o jovem ontem.
“Estamos pensando em colocar alguém para dormir com ele porque ele não está dormindo. O medo dele é tanto que quando escuta qualquer barulho na porta, já se assusta”, esclareceu.
O receio aumentou após Nilton sair da UTI e ser transferido para a enfermaria. Questionada pela reportagem, a Secretaria Municipal de Saúde do Rio não informou se há segurança na entrada do quarto onde ele está hospitalizado. O órgão declarou que os detalhes estão sob restrição da família.
O familiar explicou que já é evidente o impacto psicológico do acontecimento. “O psicológico dele não está legal. Ontem, ele perdeu a fala, não conseguia pronunciar uma palavra. Sabe o que é uma pessoa olhar para você e não conseguir falar? Parecia uma crise de ansiedade”.
O estado de saúde do entregador é descrito como “estável”. Ele agora consegue se alimentar autonomamente e está mantendo conversas. O entregador foi atingido por um tiro na perna. Conforme o tio, o disparo atingiu a veia femoral, resultando em uma significativa perda de sangue
Não há estimativa para a liberação. O rapaz de 24 anos passou por duas intervenções cirúrgicas. A bala, que atravessou a perna de Nilton, não precisou ser removida do corpo.
Família diz ter sido intimidada por PMs
Familiares relataram que foram ameaçados por policiais militares enquanto estavam no Hospital Salgado Filho.
Luiz Carlos, cunhado do entregador, mencionou que a família necessita de uma medida protetiva.
Ontem estávamos na porta do Salgado Filho, e, enquanto minha esposa dava entrevista no hospital, tinha policiais gravando ela, tirando foto, zombando e rindo. Na minha concepção, policiais são pagos para proteger, não coagir, e ela se sentiu coagida declarou ao RJ1, da TV Globo.
Nesta quarta-feira (6), ele se encontrou com a Comissão de Direitos Humanos da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro). “Eu clamo por justiça. A gente não sabe o que pode acontecer. O policial cometeu uma tentativa de homicídio contra meu cunhado, não pode ficar impune”, acrescentou Luiz Carlos.
Através de comunicado, a assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que não foi notificada sobre a alegada intimidação.
“A SEPM [Secretaria de Estado de Polícia Militar] ressalta que a captação de imagens está entre as rotinas dos policiais em serviço nas ruas para fins diversos, como passar detalhes do cenário a instâncias superiores ou registrar movimentações atípicas”.
O policial militar Roy Martins Cavalcanti afirmou que agiu em legítima defesa. Ele disparou contra o entregador, que se recusou a subir até o apartamento para entregar o pedido. O incidente ocorreu na segunda-feira (4).
Testemunha contesta explicação de legítima defesa. Em uma entrevista ao programa Encontro, da TV Globo, Yuri Oliveira, colega de trabalho no iFood e testemunha do incidente, afirmou que não presenciou Nilton fazendo qualquer movimento para tentar pegar a arma de Roy.
“Um menino de bom coração”, diz tio
Reconhecido pelos familiares como “Niltinho”, o entregador atua na área há quase quatro anos. O tio relata que ele teve poucas oportunidades na vida, mas é um jovem dedicado.
Não foi criado pela mãe, passou pouco tempo com o pai, um menino esforçado, largou os estudos para trabalhar, que era o que ele estava fazendo, um menino muito esforçado, um menino de bom coração, sabe? declarou.
O tio explicou que jamais imaginou que o sobrinho seria baleado durante o trabalho. “Minha cunhada veio me avisar dizendo que seria um acidente. Eu troquei de roupa rapidinho, peguei o carro e fui até o encontro dele. No caminho, descobri que ele tinha sido baleado”, lamentou.
Imagina você receber uma notícia de que um anjo querido teu tomou um tiro, foi parar no hospital, sabe, ensanguentado, sei lá, a gente tomou um susto muito grande, mas Deus é tão bom que ele deu todo o suporte, o menino tá se recuperando bem Tio de Nilton
Relembre o caso
O policial militar e sua esposa realizaram um pedido de comida por aplicativo, o qual foi entregue por Nilton. Depois da chegada do pedido, o policial e sua esposa teriam se recusado a descer para retirá-lo, e o entregador informou que não subiria até o apartamento deles, pois não fazia parte de seu trabalho.
Como o policial militar não desceu, o entregador procedeu com os trâmites para a devolução do produto e retornou ao estabelecimento onde a compra foi realizada.
Nesse momento, foi abordado pelo cliente, na praça Saiqui. Imagens capturadas por Nilton mostram ele e Roy envolvidos em uma discussão. O agente está armado e questiona por que o entregador está “com a mão na cintura”. O jovem nega que esteja armado, levanta a camisa e diz: “Tô armado não, filho. Sou trabalhador”.
Logo depois, o jovem alega estar sendo ameaçado pelo policial. “Ele está tentando me agredir. Mostrou a arma na minha cara. Tira a arma e faz na mão”, relatou o trabalhador.
O agente rebate o entregador e alega que ele teria sido mal-educado com sua esposa.
Trabalhador o caralh*. Minha mulher te tratou com maior educação, vai tomar no seu c*. Seja educado. Não se propõe a fazer entrega? Então seja educado. Minha mulher tem 42 anos e te respondeu na maior educação.
Posteriormente, é perceptível ver Nilton no chão, ferido e ensanguentado, atingido por um tiro na perna.