As últimas palavras de Carlos Teixeira, o estudante de 13 anos que faleceu depois que os colegas o pularam nas costas dentro da Escola Estadual Júlio Pardo Couto, em Praia Grande (SP), no litoral de São Paulo, foram sobre o medo que ele sentia de morrer.
A informação foi confirmada ao portal G1 neste sábado (20) pelo pai do menino, que estava ao seu lado no hospital.
Meu filho disse que tinha medo de morrer na hora que ele estava morrendo […]. Eu falei que o pai estava do lado dele e ia dar tudo certo, só que no final aconteceu uma tragédia declarou Julisses Fleming, de 42 anos.
Na terça-feira (16), o adolescente faleceu depois de enfrentar três paradas cardiorrespiratórias enquanto estava hospitalizado na Santa Casa de Santos (SP). Ele necessitou de cuidados médicos após ser agredido na escola em 9 de abril.
Julisses relatou à equipe de reportagem que, mesmo sofrendo fortes dores nas costas e com dificuldades para respirar no hospital, o menino expressava gratidão aos médicos e a Deus.
Minutos antes da morte de Carlos, porém, o homem disse ao portal G1 que teve que acalmá-lo. O adolescente começou a repetir que estava com medo de partir.
Me sinto acabado e destruído disse o pai.
Família pede justiça
Com emoção, Julisses afirmou perdoar os estudantes que feriram seu filho. Em uma entrevista à TV Tribuna, afiliada da Globo, ele também expressou sua indignação pelas agressões que seu filho sofreu na escola.
Os meninos que machucaram meu filho, que fizeram bullying, eu perdoo de coração. Não quero mal nenhum, nem sangue com sangue. Mas quero justiça. O que aconteceu hoje com o meu filho, amanhã pode acontecer com outros filhos. Isso que está me matando desabafou ele.
O homem mencionou que a morte de Carlos “tirou um pedaço” dele, de sua esposa e da irmã do menino.
Quero a justiça dentro da lei. Sobre a escola, quero que os diretores e professores que viram [as agressões] sejam penalizados também. Isso não aconteceu de agora, mas sim, há tempos.
![Pai diz que as últimas palavras do adolescente agredido na escola foram sobre o medo de morrer](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2024/04/2_Pai_adolescente_agredido.jpg.webp)
Secretaria de Educação
Em comunicado, a Secretaria de Educação do Governo de São Paulo (Seduc-SP) declarou que condena todo tipo de agressão e de estímulo à violência dentro ou fora das escolas.
A Seduc também expressou profundo pesar pela morte do estudante:
A Diretoria de Ensino de São Vicente instaurou uma apuração preliminar interna do caso e colabora com as autoridades nas investigações.
A Prefeitura de Praia Grande expressou profundo pesar pelo ocorrido com um aluno da Escola Estadual Júlio Pardo Couto, no Bairro Nova Mirim. A Administração municipal manifesta solidariedade aos familiares e amigos do jovem.
A Prefeitura requisitou à secretaria estadual uma investigação completa dos acontecimentos, pois a escola é estadual. A administração municipal também informou que está revisando todos os procedimentos realizados no atendimento feito no pronto-socorro da cidade.
Entenda o caso
Carlos Teixeira faleceu na terça-feira (16), na Santa Casa de Santos. O pai declarou que o filho estava saudável e suspeita que a morte foi consequência da agressão sofrida. Conforme apurado pelo portal G1, o caso foi reportado à Polícia Civil e a causa do falecimento está em investigação.
Julisses relatou que os médicos indicaram que a suspeita era de uma infecção pulmonar como possível causa da morte. A Santa Casa de Santos, em comunicado, confirmou a transferência da UPA Central, porém, informou que não estava autorizada a fornecer mais detalhes sobre o caso.
O portal G1 obteve acesso à declaração de óbito, que será utilizada como base para o atestado, o qual leva de 30 a 90 dias para ser emitido. No documento, a causa do falecimento é registrada como broncopneumonia bilateral, uma inflamação nos alvéolos, estruturas dos pulmões responsáveis pela troca de oxigênio com o sangue.
O estudante era frequentemente alvo de bullying e já havia sido agredido em outras ocasiões. Um vídeo obtido pela equipe de reportagem mostra um dos incidentes em que o jovem foi vítima dentro da escola.
Médicos
Antes da emissão do atestado de óbito, a pedido do portal G1, os médicos clínicos Carlos Machado e Marcelo Bechara examinaram o caso com base em suas próprias experiências profissionais e nas informações fornecidas pela equipe de reportagem.
Ambos afirmaram que o excesso de peso nas costas pode ter causado um trauma – lesões provocadas por um evento externo ao corpo e que ocorrem de maneira imprevista.
Segundo Carlos Machado, o trauma poderia ser uma fratura ou esmagamento da vértebra na coluna cervical, torácica e até mesmo na costela.
Se ele estiver com uma dessas lesões, […] podia estar furando o pulmão, o que dificulta a respiração e, respirando menos, faz com que tenha secreção acumulada, que é uma infecção pulmonar declarou o profissional.
Marcelo Bechara acrescentou que, devido ao mesmo motivo, pode ocorrer uma parada cardiorrespiratória.
O excesso de peso nas costas podem ter levado a um trauma que pode levar a um pneumotórax […], [quando] o pulmão não consegue ventilar e uma hora chega a parada cardíaca mesmo comentou ele.