Roberto Cabrini revelou uma confissão de Ayrton Senna que poderia ter prevenido a morte do piloto.
Em uma entrevista ao UOL, divulgada nesta quarta-feira (01), que marca os 30 anos do falecimento, o jornalista compartilhou que se tivessem informado que Roland Ratzenberger havia falecido na pista e não no hospital, a corrida fatídica do GP de San Marino, na Itália, teria sido cancelada.
A morte dele [Ratzenberger] foi declarada no hospital, mas o Senna chegou para mim e falou: ‘Não posso dar entrevista, estou muito impactado, mas eu preciso contar para você: o cara morreu na pista, não pode divulgar porque se isso é comprovado, não tem corrida’. A lei da Itália prevê que um evento com morte tem que ser suspenso imediatamente e a corrida, portanto, não aconteceria nesse caso. Mas quem é que para a máquina de fazer dinheiro da Fórmula 1? recordou Cabrini.
No dia 30 de abril, enquanto Ratzenberger perdia a vida, Senna enfrentava seu destino na curva Tamburello, no circuito italiano.
Cabrini, que cruzou caminhos com o piloto brasileiro nos anos 80 ao participar de um projeto sobre automobilismo da SBT, revelou que Senna já estava insatisfeito no GP devido ao desempenho desfavorável de seu carro da equipe Williams.
O acidente sério de Rubens Barrichello durante o treino livre apenas intensificou suas preocupações.
Nunca houve uma névoa de negatividade tão grande quanto nessa corrida. Quando aconteceu o acidente em que Rubens Barrichello escapou da morte por um milagre, nunca vi o Senna tão transtornado. Ele estava realmente preocupado. Porque o carro dele estava inseguro. O carro estava desequilibrado destacou o jornalista.
O Senna chegou a considerar não correr, mas ele nunca externou. Fica claro, por todas as conversas que tivemos, que passou na mente dele, mas ele nunca colocou isso para fora. Naquele domingo, ele estava psicologicamente abalado. Era a morte do Ratzenberger, o acidente grave do Barrichello, o carro ruim, a pressão de vencer? Tudo isso trouxe um piloto em estado de tensão jamais visto. Ele não tinha que provar nada para ninguém, ele era o melhor declarou.
Todos reconheciam, inclusive os adversários. Mas para ele isso não bastava, ele tinha que vencer aquela corrida. E venceu. Venceu o medo que ele poderia ter, participou da corrida e, em nome dessa perfeição, acabou morrendo, porque foi o acidente errado, na curva errada, com a consequência errada opinou Cabrini.
O jornalista também compartilhou detalhes sobre o dia do acidente. Ele mencionou estar chocado com a quantidade de sangue e teve a certeza de que Senna não sobreviveria àquele dia.
No caminho para o hospital, eu refletia com o cinegrafista francês Armand Deus como é que eu faria para noticiar aquilo. Eu sabia que ia anunciar a morte de Ayrton. O tempo todo, eu sabia. Eu tinha visto a gravidade, havia muito sangue e eu sentia que a chance de sobrevivência era mínima. Aquele movimento da cabeça que todos vimos, era só um espasmo muscular desabafou.
Apesar de reconhecer que a situação no GP estava longe do ideal, com acidentes e fatalidades, Cabrini explicou que não “culpava” o piloto brasileiro por querer participar da corrida.
O Senna morreu fazendo o que gostava, morreu sabendo que a Fórmula 1 era arriscada, sabendo que modificações, às vezes, envolvem arrojo e riscos. Você não pode, por uma fatalidade, fazer um julgamento infinito de tudo e de todos. Eu acho que foi uma fatalidade e acidentes acontecem. A Fórmula 1 sempre soube da sua ideologia, sempre soube que existem acidentes na categoria afirmou.
Seria algo inédito os pilotos recusarem correr. Se o Senna não quisesse correr, seria compreensível, mas a decisão de competir também é compreensível. Foi o fim de semana mais sombrio de toda a história da Fórmula, mas ninguém tem bola de cristal concluiu o jornalista.