Um voluntário que se dedicou ao resgate de aproximadamente 500 pessoas durante as inundações que assolaram cidades do Rio Grande do Sul testemunhou uma cena angustiante: corpos de vítimas sendo amarrados em postes para evitar que fossem arrastados pelas águas.
Identificado apenas como Isaías, ele descreveu as imagens que presenciou como indescritíveis. Em uma entrevista ao programa Encontro da TV Globo, na terça-feira (7), Isaías compartilhou que os moradores tomaram a medida de amarrar os corpos para recuperá-los posteriormente, quando a situação se estabilizasse.
Eu vi cenas que eu falar, palavras, não vou conseguir falar. É muito triste, tipo, eles amarravam os corpos para depois buscar, porque a correnteza poderia levar [os corpos], pessoas que já estavam mortas, amarravam os [cadáveres] em postes para depois buscar porque eram muitas pessoas mortas relatou Isaías.
O voluntário, residente de Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, estimou ter auxiliado no resgate de pelo menos 500 indivíduos e 200 cães. Ele iniciou sua atuação durante a madrugada de quinta-feira (2), quando resgatou uma idosa de 95 anos que havia sido deixada para trás pelo filho.
Salvei mais de 500 pessoas, 200 cachorros, que é o que eu contei. Eu pisava em cima dos cachorros mortos que, infelizmente, não conseguiram se salvar. Tinha uma vizinha minha que tinha uma ONG, [no bairro] Novo Esteio, que ela abandonou os cachorros, e quando eu cheguei para salvá-los [os animais estavam em gaiolas], faltava 10 cm para [a água] matá-los. Entrei dentro da água até o pescoço [para resgatá-los].
Isaías e família estão em abrigos após perderem casa nas enchentes:
Perdi toda a casa até o telhado. Estava em Esteio, onde eu moro, lá foi alagado desde quinta. A partir das 2h30, comecei a socorrer [as pessoas] explicou ele, destacando a colaboração de dois bombeiros em Esteio e em cidades próximas, como Canoas, onde ajudou a salvar numerosas vidas.
Chuvas deixaram 90 mortos no RS
A Defesa Civil anunciou que o número de vítimas fatais agora chega a 90. O dado foi atualizado na manhã de terça-feira (7).
As chuvas no estado impactaram mais de 850 mil pessoas, com 132 desaparecidos e 361 feridos, de acordo com o relatório da Defesa Civil Estadual. O número de desalojados chega a pelo menos 155.741.
Dos 497 municípios do Rio Grande do Sul, 388 foram impactados pelos temporais. Na região metropolitana de Porto Alegre, as inundações deixaram pessoas isoladas e provocaram o fechamento de hospitais em Canoas. A situação é descrita como semelhante a uma “zona de guerra”.
O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu alerta para chuvas intensas em algumas regiões do Rio Grande do Sul nas próximas 24 horas.
Preveem-se tempestades entre hoje e amanhã, com Pedro Osório, Bagé, Arroio Grande e outras cidades próximas à fronteira com o Uruguai sendo as mais afetadas. Além disso, há risco de queda de energia elétrica, danos em plantações, quedas de árvores e possíveis inundações.