“O instinto de amar um objeto demanda a destreza em obtê-lo, e se uma pessoa pensar que não consegue controlar o objeto e se sentir ameaçado por ele, ela age contra ele”. Freud.
Amar é um estado que povoa o centro cardíaco da condição humana em muitas dimensões prazerosas, mas também nos confronta com desespero mais profundo. Talvez não haja maior encanto do que aquele proporcionado pelo estado do amor. Em contrapartida, não há miséria mais dilacerante do que a desilusão amorosa.
Amar alicerça a existência humana e compõe de certa maneira o sangue da vida. Amar verdadeiramente o outro é uma das mais complexas de nossas capacidades. Também é inerente com a educação. “Talvez seja o trabalho para o qual todos os outros trabalhos não sejam mais do que a preparação”, diz Laing (1954, citado por Gans). “No ensinamento bíblico”, velho e novo, amar o nosso próximo como a nós mesmos. Isto não é de fato tarefa fácil. O amor é um sentimento que não comandamos; invade-nos sem nosso consentimento. A própria psicanálise consolida essa reflexão. Nos mandamentos bíblicos temos o maior de todos e o que complementa todos os demais mandamentos: “Ama o próximo como a ti mesmo”. Mais aplicado seria: “Aja como se amasse o próximo como a ti mesmo”. Amar não é dever, não é repressão: estabelece, sim, um ato de liberdade.
Existe um tipo de amor que é carregado de idealização sobre o outro e reza a transcendência entre os amantes, que faz crer que os dois se fundirão num só. Há também a idealização de que ambos se completam, ou seja, andamos sempre atrás da cara metade; caso encontre a outra metade esta será a única salvação. E se encontrar a cara metade os parceiros terão todas as suas necessidades satisfeitas pelo amado.
A verdade é que esse imaginário não sustenta a realidade de convivência no dia a dia, porque somos compelidos a enxergar aquele o qual idealizamos com características que nos desagradam. Surgi desse ponto, a verdade sobre a convivência, pois não mais sustenta a idealização. Nesse caso surgi o desencanto, o ressentimento e a mágoa.
Se uma pessoa ama a outra e/ou no mínimo gosta e respeita a outra ela será atenciosa, carinhosa, vibrante, presente… Jamais fará um sexo tão vadio e frio, a ponto de deixar o parceiro com um sentimento de que é descartável…
A questão, é que há pessoas emocionalmente infantilizadas/fragmentadas e não buscam ajuda para enxergar a verdade sobre seus entulhos. E é nesse ponto, que o amor vira entulho. Há aqueles que sintomaticamente sentem um prazer inconsciente em se iludir. Sintoma! Não seria produtivo se permitir buscar ajuda para sair do sintoma da criança que idealizou um conto de fadas e/ou sofreu com seus fantasmas externos que se tornaram internos?
Usar mais razão e menos emoção. Se o parceiro não ama, não respeita, se ele sempre busca uma desculpa diante de suas queixas, então ele não ama. E isto não sendo amor só pode ser entulho, fragmentos de seus sintomas… E caso se pense que isso acontece exteriormente SE engana, isto acontece desde o interno e se retroalimenta do externo. No entanto, o coração de um homem é o melhor afrodisíaco que existe!
Contudo, há uma noção que é possível agregar a este artigo sobre amor e entulho, que é um acontecimento mais sobre a práxis e a técnica psicanalítica. Às vezes, por parte de alguns indivíduos, que têm o privilégio de fazer análises e enxergar que através de seus entulhos-sintomas-fragmentos podem encontrar aspectos “positivos” em suas falas. Curiosamente, esses que SE permitem a serem analisados enxergam seus entulhos, quando eles percebem desenvolvimentos significativos, que poderíamos chamar de “melhora” – evolução, isto é, maior possibilidade de suportar a dor e fazer uma experiência emocional corretiva. Para só, então, SE perdoar e, sobretudo, destoar do entulho e SE dar a oportunidade de SE amar… Enfim, uma pessoa em análise em estado maior de regressão: atua, repete, e nesse estágio, precisa ser compreendido – continuando frequentemente nessa evolução.
No âmago do humano, o amor preserva sempre o seu mistério.
__
Créditos ao Blog: luzzianesoprani.com.br