“Vê, estão voltando as flores! Vê, nessa manhã tão linda! Vê como é bonita a vida! Vê, há esperança ainda! Vê, as nuvens vão passando! Vê, um novo céu se abrindo! Vê, o sol iluminando! Por onde nós vamos indo?
( Letra da música “Estão Chegando as Flores” de autoria de Paulo Soledade ).
Assim como dizem as belas frases que compõem a canção que tomei emprestada para dar início a este texto, além das flores estão chegando também muitas outras criaturas abençoadas para alegrar os nossos dias como as cigarras (embora alguns considerem como pragas, mas ela tem sua utilidade no ecossistema), os sabiás, os sanhaços, os bem-te-vis e, certamente, muitas outras pequenas espécies estão se movimentando em seus imperceptíveis habitat para receberem a primavera que bate à porta.
É impossível, pelo menos para mim, seguir pelos meus caminhos diários, seja caminhando ou de automóvel, sem notar a exuberância radiosa dos ipês florescendo e muitas outras flores multicoloridas, cujos nomes desconheço, mas que enfeitam o meu trajeto cotidiano.
A natureza tem muitas manifestações de deslumbre, porém nós, os urbanóides, não somos presenteados com freqüência por esta mãe, uma vez que escolhemos viver nos grandes centros, temos por paisagem as construções de concreto, o asfalto, a poluição visual e sonora, que sufoca o som do cantar dos pássaros, enfim, somos habitantes das chamadas selvas de pedras.
Porém, nesta época, em uma atitude maternal, a mãe natureza nos visita repleta de presentes para seus filhos cansados de paisagens cinzentas, tristes envoltas em névoas, absorvidas por ruídos incômodos e desagradáveis odores. Ela vem nos trazendo repouso para os olhos e trégua para os ouvidos.
Os grandes astros deste fantástico período são os ipês que chegam majestosos, exuberantes, esbanjando beleza, causando admiração enchendo os nossos olhos e o coração de sensações agradáveis.
Há ipês por todos os lados, só não os percebe quem não tem olhos para vê los.
Costumam perder todas as suas folhas durante o inverno, ficando secos a ponto de ser inimaginável que, de uma hora para outra, ficarão carregados de flores no início da primavera.
Presenteiam-nos com um espetáculo de cores se destacando em meio a tantas outras espécies nos espaços públicos. Sua variedade de fabulosas cores inclui a branca, amarela, vermelha, rosa e roxa. E quando se misturam, é a própria visão do paraíso.
Aprendi uma curiosidade emocionante sobre os ipês: eles florescem em função do estresse causado pelo frio, pela seca, como explicado por um entendido do assunto: “é da experiência de quase morte, de seu flagelo frente às severidades do clima que vem a beleza dos ipês. A planta entende o estresse como sinal de que seu fim pode ser iminente – e, como resposta, busca produzir o máximo de sementes para deixar descendentes”. Isso é tão dramático quanto maravilhoso!
O mais inaceitável é que há pessoas capazes de ignorar toda essa beleza, recusar esse presente da natureza e menosprezam essa dádiva como apenas uma árvore que promove “sujeira” nas calçadas e nos quintais.
Inadmissível esta percepção, pois sujeira é o que o ser humano deixa por onde passa, poluindo a natureza com seus maus hábitos, sua falta de respeito e de amor ao nosso planeta.
E a chegada da primavera é mesmo muito especial.
Há as cigarras que entoam sua cantoria, contado até mesmo nas fábulas infantis.
Ao passar pelas ruas da cidade, prepare os ouvidos quando se aproximar de lugares arborizados e poderá ouvir uma cantiga em coro absoluto, numa sincronia e afinação espetaculares! Seu show dura apenas duas semanas, período em que, além da cantoria, acasalam e põem seus ovos.
Além do espetáculo das cantorias nas tardes quentes, estes insetos apresentam uma metamorfose. Os jovens passam um período imóvel, fixados às árvores, e então, ao se tornarem adultos abandonam suas “cascas”, aquelas que, muitas vezes, encontramos perdidas sobre as vegetações.
E a passarada? Ah estes enriquecem nossos dias de primavera com suas cantigas alegres, relaxantes e envolventes!
O sabiá, cantado em verso e prosa por muitos poetas de todos os tempos, é o símbolo brasileiro entre a infinidade de espécies que fartamente habitam a nossa fauna.
“Tu que anda pelo mundo (Sabiá).Tu que tanto já voou (Sabiá).Tu que fala aos passarinhos (Sabiá).Alivia minha dor (Sabiá).Tem pena d’eu (Sabiá). Diz por favor (Sabiá).Tu que tanto anda no mundo (Sabiá). Onde anda o meu amor (Sábia)” – Luiz Gonzaga
E além dessas criaturinhas aladas e delicadas que Deus colocou neste mundo, há outros que entoam cantigas diferentes, porém igualmente belas, proporcionando aos que querem ouvi las uma diversidade de melodias ressoadas por esses anjos que habitam nosso planeta; são os sanhaços, os bem-te-vis e tantos outros.
Com suas cantigas delicadas alegram as nossas manhãs azuis e ensolaradas. E mereceram também homenagens como nesta canção de Renato Terra:
“Ai de ti, oh meu amor, se entre as notas da canção. Bem-te-vi, ah meu bem-te-vi, brilho frágil de emoção. Na alegria das manhãs, no começo de estação. Bem-te-vi, ah meu bem-te-vi, brilho frágil de ilusão. Bem-te-vi, bem-te-vi, bem-te-vi como o verão. Voa livre por entre os jasmins. E pousa no meu coração”
Todas as estações do ano têm o seu encanto, o verão quanto o astro rei exibe toda sua majestade, o outono, tempo propício para as reflexões e o inverno, que nos permite o recolhimento e aconchego, mas a primavera é a alegria, o deslumbre, o espetáculo da natureza, onde a fauna e a flora harmonizam, mostrando para todos que estejam dispostos e prontos para ver algumas das tantas maravilhas existentes em nosso planeta, infelizmente tão sofrido pelo descaso de muitos.
“A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la.” Cecília Meireles
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