Você passa muito tempo no celular antes de dormir? Confere todas as suas redes sociais, assiste a vídeos ou troca mensagens até tarde com amigos e familiares? Então pode fazer parte do grupo de pessoas precisa tomar melatonina, e pior, pode estar suscetível aos riscos do excesso de consumo da melatonina.
Quer saber mais sobre como a melatonina age no nosso corpo? Então continue a leitura. Vamos te explicar o que é esse hormônio e quais são os riscos que ela pode apresentar à nossa saúde quando consumida exageradamente.
O que é a melatonina?
Melatonina é um hormônio produzido pela glândula pineal, uma estrutura que fica bem no centro do nosso cérebro. A melatonina é frequentemente chamada de “hormônio da escuridão”, uma vez que a escuridão faz com que os seus níveis aumentem durante a noite.
A principal função da é regular o ciclo de descanso e despertar do nosso corpo. Em resumo, ela é quem “avisa” aos nossos órgãos que a noite chegou, e prepara o nosso organismo para o sono.
Mas muito mais do que esse “meio de campo”, a melatonina é o hormônio que comanda todas as mudanças fisiológicas pelas quais o nosso corpo passa quando chega o momento do descanso, isso inclui não apenas o sono, como também todas as alterações endócrinas, cardiovasculares, metabólicas, respiratórias, imunológicas, entre outras. E ele fica no comando até o começo do dia, quando nos preparamos para acordar e cumprir com as nossas atividades diárias.
Embora a melatonina seja muito poderosa, vários fatores podem interferir ou até mesmo parar a sua produção, desde remédios, idade a até mesmo o brilho das telas dos nossos aparelhos celulares.
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E levando em conta que o nosso contato com esses aparelhos está cada vez maior, durante todo o dia, não é de se surpreender que muitas pessoas estejam com dificuldades de manter uma rotina de sono saudável e dormindo menos do que as sete a oito horas diárias de sono que é necessária para a grande maioria das pessoas.
As consequências do uso da melatonina
Sofrendo com a falta de melatonina natural, milhões de pessoas em todo o mundo recorrem aos suplementos que repõem esse hormônio no corpo e ajudam a combater a dificuldade de dormir, a insônia e o jet lag.
Mas será que o uso da melatonina é tão tranquilo assim? Evidências científicas mostram que não. Na realidade, o excesso no consumo desse hormônio pode trazer sérias consequências para o nosso organismo de maneira geral.
Segundo informações da BBC, Michael Toce, pediatra do pronto-socorro do Hospital Infantil de Boston, nos Estados Unidos, percebeu uma realidade muito preocupante durante a pandemia de Covid-19: o número de crianças que passaram por overdose de melatonina e precisaram de internação aumentou. Segundo ele, crianças engoliram o hormônio por acidente e vários adolescentes consumiam a melatonina como uma forma de automutilação.
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O pediatra realizou um estudo em 2022 onde descobriu que os chamados para relatar casos de overdose de melatonina aumentaram 530% entre os anos de 2012 e 2021. Inclusive, em 2020, os serviços de controle de intoxicação nos EUA tiveram mais relatos de casos de overdose infantil por melatonina do que por qualquer outra substância.
Um estudo de 2023 mostrou um aumento de 420% no número de crianças levadas ao pronto-socorro por overdose de melatonina nos EUA na última década. E uma das principais razões para esse crescimento absurdo, segundo Toce, é o aumento no uso de melatonina.
A grande maioria das crianças participantes dos estudos não presentaram qualquer sintoma ou apenas sintomas leves.
Quanto mais acesso às crianças e os jovens têm a esse tipo de medicação, maiores são as possibilidades de se intoxicarem com a melatonina. E vale relatar que esse hormônio também está disponível para uso pediátrico.
O uso de melatonina pode resultar em morte?
Toce conduziu uma análise de 260.435 casos de ingestão de melatonina. De todos esses casos, quase 300 resultaram em internação em UTI. Dessas 300 crianças, 5 precisaram ser entubadas, e duas faleceram.
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Um estudo realizado em 2019 mostrou dois casos mortes de crianças associadas ao uso de melatonina. Uma delas tinha 9 meses e a outra 13 meses.
Ambas foram encontradas desmaiadas e tiveram altos níveis de melatonina encontrados no seu organismo. A substância também foi encontrada no copo usado pelo bebê de 13 meses.
No entanto, em ambos os casos outros fatores contribuíram para o resultado. O bebê de 9 meses dormia na mesma cama do que o irmão mais velho, e o de treze havia sido deixado em um quarto quente. Esses dois cenários aumentam o risco de morte súbita infantil.
E para os adultos o cenário tem sido igualmente alarmante. Um estudo deste ano contou o caso de uma jovem de 21 anos que morreu de overdose de melatonina e difenidramina, remédio usado no tratamento de insônia, sintomas de resfriados e alegrias. Um adolescente também sofreu com baixa pressão sanguínea após consumir melatonina na tentativa de causar uma overdose em si mesmo.
Se a melatonina foi responsável por esses episódios ou se outras condições de saúde influenciaram não é 100% claro, mas algo que precisa ser levado em considerado é que a melatonina não é regulada pela FDA, a agência que controla alimentos e remédios nos EUA. E essa falta de controle se deve ao fato de que a melatonina é classificada como suplemento.
São necessários mais estudos para compreender qual é o verdadeiro impacto do uso melatonina no nosso organismo, e de como esse hormônio interage com outros alimentos e suplementos.
David Ray, professor de Endocrinologia e codiretor de sono e neurociência circadiana na Universidade Oxford comparou o uso da melatonina como “um velho oeste”. Ele também afirmou que alguns estudos mediram a dosagem de melatonina desses produtos, e que nunca a dosagem indicada foi compatível com a quantidade encontrada nos produtos.
Além disso, até o momento atual, os pesquisadores não sabem dizer em quais cenários exatos a melatonina pode resultar em morte ou reações adversas.
Por isso o cuidado o consumo dessa substância deve ser feito de maneira controlada.
Embora estudos feitos com ratos e camundongos mostrem que a melatonina tem um efeito tóxico em doses extremamente altas (mais de 400mg por quilo), a dose recomendada para tratar questões relacionadas ao sono é apenas de 2 a 10mg, o que não traz uma resposta muito significativa ao nosso cenário.
Também ainda não conhecemos o efeito da melatonina fora do cérebro, e ainda assim milhões de pessoas em todo o mundo consomem o hormônio diariamente, sem experimentar qualquer efeito colateral grave.
Sanford Auerbach, professor e diretor do Centro de Distúrbios do Sono do Centro Médico de Boston, defendeu a melatonina para tratar o sono, comparada com outros remédios com o mesmo objetivo. No entanto ele ressaltou que ainda há muitas coisas que não sabemos sobre o consumo excessivo do hormônio:
“Acho que o que mais preocupa é o desconhecido. Se você dá (a melatonina) a uma criança em desenvolvimento, qual impacto isso vai ter daqui a dez anos? Não sabemos. Sequer sabemos quanta melatonina é em excesso, porque tais estudos simplesmente nunca foram feitos”, pontuou.
Como estimular a melatonina do próprio organismo?
Podemos perceber que a melatonina em excesso é uma substância perigosa. Por isso, é importante organizarmos a nossa rotina de uma maneira que consigamos obter esse hormônio de maneira natural, produzida pelo nosso próprio organismo.
Existem algumas medidas que ajudam a estimular a produção de melatonina pelo organismo. São elas:
- Diminuir o contato com luzes à noite, especialmente de celulares
- Evitar celulares, computador e tabletes duas horas antes de dormir
- Ter contato com a luz durante o dia, principalmente a luz solar
Agora que você sabe o que é a melatonina e como ela age no seu organismo, siga essas dicas para estimular a produção natural desse hormônio e evitar a necessidade de medicação.
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