Às vezes me falta alguma coisa que nem eu sei. Uma vontade de comer sei lá o quê, não sei onde. Sinto falta mesmo! Como quem perde o celular.
Me vejo andando meio surda, sem rumo, lembrando e esquecendo quem sou eu. Nem sei onde procurar isso que me falta. Passo pelas vitrines, bancas de jornal, tudo é lindo, mas nada me agrada. Provo a calça 36 e até fico satisfeita, mas nem me serve; e assim, não levo nada pra casa. Sabe como é isso?
Vou às igrejas que cruzam meu caminho, sigo as procissões, novenas, sacrifícios; faço terapia, foco na energia, reforma íntima urgente, radiestesia, centro espírita, rezas e benzas, tutoriais do YouTube, grupos de autoajuda. Ouço, participo, reúno, socializo; mas tudo só passa por mim num vôo bem distante.
Procuro em cheiros e em fotos; busco travesseiros que abafem meu som choroso antes de dormir, olho nos espelhos pra ver se encontro algo, bem lá no fundo dos meus olhos. Busco nos meus pensamentos durante o banho, que é onde eu penso melhor; mas nem assim encontro.
Não sei se está na geladeira, nos armários da cozinha, no banco de trás do carro. Fico rolando minha timeline do facebook, mas não acho nada. Fico vendo mensagens do WhatsApp… Mas não está ali, e definitivamente; não acho nada parecido com o que me falta.
Assisto os 167 canais; mais os filmes começados, tudo ao mesmo tempo. Tem coisas bem legais, mas todas as coisas são bem chatas! Entende isso?
Leio livros pulando as linhas, como quem sobe as escadas pulando os degraus…. pra ver se chego mais rápido. Mas aonde preciso chegar, afinal? Pulo parágrafos, páginas, capítulos inteiros; e nada acontece.
Sinto-me no aeroporto, esperando alguém bem especial, mas que não sei quem é, nem sei de onde vem. Paro pra pensar se esse alguém, essa coisa vai me achar; se também me procura assim. Se sente minha falta- falta da minha risada, da minha concentração, da minha certeza de viver a vida. Tento ser mais confiante e calma, só pra ver se venço essa espera, essa angústia, esse buraco.
Um dia estudei- à luz da filosofia e de mil explicações existenciais do caramba à quatro, sobre o que pode ser essa alguma coisa: um buraco na rua, por exemplo. Na verdade, aquilo não é um buraco. É uma falta de rua- que alguém nomeou buraco. Aquilo, na verdade, é a negação da existência- da rua, no caso. É luz e sombra, preto e branco (eu e coisa saudosa. Eu e você).
Assim, não é que falta algo que venha de fora pra dentro…. É que há uma ausência de mim, em mim mesma. Um buraco na alma, podendo ser chamado de tantas coisas, por tanta gente.
Um buraco que não tem encaixe pra quase nada desse mundo….
Dá um desespero; dá ainda mais vontade de aumentar minha fé: pra eu poder ser merecedora desse preenchimento pleno de Amor. Vontade de expandir meu olhar sobre mim, pra entender porque existem faltas e buracos transponíveis; enquanto outros nos desestabilizam e angustiam dessa forma.
Pena não estar na prateleira do banheiro, do mercado…. pena continuar perdida pela casa, pela cidade; pela vida. Procurando por mim mesma, nesse pedaço que é você.