Sei que um dia partirei desta vida. Mas como deixar tudo de mim de forma imortal?
Quando eu era pequenina, meus pais faziam-me sempre acompanhar os enterros de familiares e amigos. Recordo-me até que meu pai fazia questão que eu fosse olhar de perto o corpo morto e ele me dizia:
– É apenas a morte! Tão morte quanto vida! Não há o que temer!
No entanto, confesso que a morte sempre me apavorou. Afinal… é o fim da vida! Aí alguns podem até me interpelar:
– Mas você não crê que podemos nos perpetuar através dos nossos descendentes?
Bem… eu concordo em parte. Pois, por mais que apresentem alguns traços fisionômicos e de personalidade parecidos com os meus, jamais serei eu novamente. Nem mesmo se um dia reencarnar – se, de fato, existir reencarnação – também não serei mais eu… serei parte de mim em outro corpo.
Afinal… sou obra única nesta vida… inigualável… e irrepetível… uma obra rara de mim mesma!
Sei que um dia partirei desta vida. Mas como deixar tudo de mim de forma imortal?
Eu desejo muito mais do que espalhar meus genes… quero deixar minha alma e minha essência… quero deixar-me de forma inteira, tudo o que sou. Não quero ser esquecida ou mesmo ser lembrada como os nossos antecedentes através de designações superficiais e aparentemente perfeitas:
“Sua avó era uma mulher bondosa”, “Seu tio era um homem honesto”. Todos nós já ouvimos tais títulos de honra dos nossos parentes, referindo-se aos nossos antepassados.
Sinceramente, um adjetivo bonito para mim depois de morta é muito pouco. Precisarei dos adjetivos feios para me compor como um verdadeiro e real ser humano.
A história viva de uma vida inteira é o que faz ser alguém imortal. É o que faz de uma vida, mesmo após a morte, ser muito valiosa para ser esquecida, com o passar das gerações.
Entretanto, como deixar minha história ser eterna?
Só haverá um jeito: através da escrita. Porém, não quero um conto real com disfarces e sim um conto real totalmente nu… cheio de verdades. Quero ser eu mesma, pelo menos uma vez.
Mesmo morta, não importa. Serei eu… tão viva… tão livre… inesquecível!
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