É bom ter alguém que viva suas crises existenciais, que seja sensível, complexo, às vezes, meio escorregadio e complicado. É bom ter alguém que não tenha certeza de tudo, que se encontre meio perdido de vez em quando. Como ouvi uma vez, há milênios, um amigo dizer: “Não confie em ninguém que não tenha uma tristezinha no canto dos olhos”.
Quando somos extremamente jovens e idealistas (na minha época, as garotas eram idealistas). Ok. Ok. Ok. Esta coisa de minha época parece papo de gente bem idosa, olhando com desdém para as netas ou bisnetas vestidas com biquínis simbólicos. Biquínis que são mais metáforas do que uma vestimenta propriamente dita.
Sim, o tempo está passando tão depressa e as gerações estão se transformando de forma tão vertiginosa que já vi gente com 20 anos de idade dizendo o mesmo: “Quando era criança, não era assim”.
Ah? Como assim? Você foi criança ontem! Sim, é possível alguém que nasceu em meados dos anos 1990 ficar chocado com o comportamento daqueles que nasceram a partir de 2010. Mas vamos deixar este intrincado e complicado tema para um outro artigo.
Voltando ao tema do meu atual post, o amor, quando somos jovens e idealistas, sonhamos com um homem realmente espetacular, sem lacunas, sem teclas quebradas, sem reticências, sem crises existenciais, sem sono na hora em que a gente quer curtir, capaz de nos conduzir sempre, nos orientando no sentido das pequenas loucuras ajuizadas.
Quando nos tornamos garotas apenas de alma, descobrimos o valor das pequenas coisas, como por exemplo, ter alguém por perto quando não conseguimos abrir o vidro de azeitonas. Ironia? De jeito nenhum! É realmente bom ter alguém para abrir vidros de azeitonas e conservas em geral. É bom ter alguém para abrir a garrafa de espumante. É bom ter alguém para massagear os nossos pés quando estes estão bem cansados e meio doloridos. É bom ter alguém que elogia os nossos pés, mesmo eles estando cheios de cutícula e sem esmalte. É bom ter alguém para te ensinar a usar o Instagram e dizer “Você está linda hoje” todos os dias em que te vê.
Alguém que acha que o seu vestidinho baratinho, comprado pela internet em 2013, é lindo. É bom ter alguém que coma com boca boa qualquer coisa que você faça, até mesmo um miojo passado na manteiga. É bom ter alguém que apesar de te achar super atraente, se apaixonou pela sua inteligência e irreverência.
É bom ter alguém que viva suas crises existenciais, que seja sensível, complexo, às vezes, meio escorregadio e complicado. É bom ter alguém que não tenha certeza de tudo, que se encontre meio perdido de vez em quando. Como ouvi uma vez, há milênios, um amigo dizer: “Não confie em ninguém que não tenha uma tristezinha no canto dos olhos”.
Como diria o filósofo rebelde Deleuze, o nosso charme é a nossa loucura. Esta coisa de gente sem tecla quebrada é muita chata. Gente que se acha perfeita demais enlouquece os outros no pior sentido da palavra loucura. Gente que não sabe rir de si mesma, que acredita saber fazer tudo da melhor maneira possível, fechada para o conhecimento alheio, fechada para aquilo que o outro tem a ensinar, fechada para novas experiências, prisioneiras de infinitos protocolos sociais.
Sim, opte por homens que não tenham tudo sob controle. Homens super poderosos são fofos apenas nas insuportáveis comédias românticas americanas. Na vida real eles são realmente chatos. Não importa o que você diga ou faça. Você sempre estará errada pois é ele quem tem o controle.