Abordando questões delicadas na novela das 21h, a trama será protagonizada por uma personagem negra evangélica funkeira.
A nova novela da Globo, “Vai na Fé”, que está para ser lançada em 16 de janeiro de 2023, tem chamado a atenção nas chamadas dos intervalos da emissora. A protagonista Solange, interpretada por Sheron Menezes, vive em um grande dilema por conta das coisas que fez no seu passado, que refletem até hoje em sua história.
Casada, recatada e fiel aos preceitos da religião evangélica, a protagonista sustenta a família e o marido desempregado vendendo quentinhas no subúrbio. Ao mesmo tempo, Solange também carrega arrependimentos do passado, quando fazia sucesso dançando funk, sendo conhecida por ‘princesinha Sol’, algo inaceitável em sua religião.
Tentando sobreviver com a família humilde, a mulher negra, evangélica e funkeira, precisa se expor ao mundo secular, resistindo às tentações da carne. Escrita por Rosane Svartman, uma das autoras de sucesso na Globo, que escreveu “Totalmente Demais” (2015) e “Bom Sucesso” (2019), a novela pode ser um risco para a emissora, visto que a abordagem é ao mesmo tempo sensível e polêmica.
![Globo terá novela protagonizada por negra evangélica funkeira. Quais são os riscos?](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2022/12/Screenshot_267-1.jpg)
Como o início do ano é época de férias escolares e muitas famílias viajam e ficam fora de casa, o primeiro grande desafio da Globo é enfrentar os números mais baixos de televisões ligadas, o que pode refletir negativamente no ibope da trama. Assim, atingir a audiência desejada na novela das 19h pode trazer os mesmos números de “Cara e Coragem”, que vem em uma média de 25 pontos. Essa trama, inclusive, por não ter caído no gosto do brasileiro, deve terminar com a insatisfatória média de 21 pontos.
Outra questão importante em “Vai na Fé” é a racial, onde o núcleo principal tem vários atores negros, no qual a Globo possui um histórico de resistência a protagonistas pretos, o que pode ser claramente um reflexo da sociedade. Na novela “Viver a Vida”, por exemplo, de 2009, Taís Araújo era quem protagoniza, porém, o trabalho foi um completo fracasso.
Na época, a atriz foi duramente criticada e ficou muito abalada, especialmente porque achou que tinha ‘fechado as possibilidades de protagonistas negras’, algo totalmente contrário do que queria com aquele trabalho. Coincidentemente, Taís Araújo foi a personagem negra mais bem-avaliada da emissora, quando protagonizou a jovem Preta, na novela “Da Cor do Pecado” (2004), ao lado de Reynaldo Gianecchini.
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Apesar da representatividade de pessoas negras terem mudado desde então, após discursos como o de Fernanda Montenegro em 2015, quando destacou que era a primeira novela feita em que dois terços do elenco era atores negros, onde não eram subservientes, a Globo passou a adotar a diversidade racial como princípio. Mas mesmo com algumas produções de pouco sucesso, onde há protagonistas negros, é válido continuar insistindo nesses papeis, tanto que a próxima novela das 21h, “Terra Vermelha”, também terá uma atriz negra como protagonista.
Um outro risco que a Globo pode cometer deslizes é retratar os evangélicos sem ofendê-los, como na minissérie ‘Decadência’, no qual um pastor neopentecostal explorava os fiéis. Tentando atrair este público, a emissora tem ciência de que a maioria das igrejas protestantes proíbe ver novelas, além de muitos pastores condenarem as tramas como uma ‘ameaça demoníaca’.
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Outra resistência que se mistura com a protagonista é o funk, um ritmo tipicamente carioca, que, no geral, nem sempre agrada todo mundo. Ao apostar que Solange tente se sustentar com os shows de funks, é uma grande ousadia mostrar uma mulher evangélica funkeira, o que pode trazer críticas dos telespectadores. De qualquer modo, a Globo precisa agradar parte dos evangélicos da população brasileira se quiserem entrar nesse ramo, assim como o canal da Record TV, do bispo Edir Macedo.