“Proteja e abençoe a minha família, meus amigos, e aqueles que me cercam”
Todas as noites, começo as minhas orações assim. Pedindo. Talvez se eu começasse agradecendo, Papai do Céu teria reforçado a vigilância sob aqueles que eu amo. Prefiro acreditar que não. Ele é justo. E esse é o tipo de fé que se tem, ou que precisa-se ter, quando perdemos alguém.
É um assunto chato, difícil, doído? Sim, mas nem só flores margeiam nossos caminhos. Ouso dizer, aliás, que nossa vida é mais cheia de espinhos do que de pétalas. A gente se acostuma com os espinhos. Se acostuma com as pétalas, também. Mas cada pétala perdida é um espinho que jamais sairá de nossos corações. Insubstituível.
Alguns meses atrás, eu perdi o meu pai. Não vou usar palavras como morte ou falecimento. Esse é pra ser um texto feliz, ok? Fique feliz. Por mim.
O que eu quero dizer é que todos os segundos, em todos os cantos do Planeta, pessoas estão indo embora. Para sempre. E deixando entes queridos à mercê de sentimentos horríveis, mágoas, lembranças, saudade, choros. Sentimentos irrecuperáveis. E dói. Meu Deus, como dói.
Eu achei que depois que eu chorasse todas as últimas lembranças, revivesse toda a vida juntos, passasse todas as fotos mentalmente, e entendesse o real significado da palavra “viver”, passaria. Mas não passa nunca.
Não poder ver, cheirar, abraçar, cuidar, conversar com a pessoa que ama, é uma dor terrível. E, cada um, sabe como lidar com a sua dor. Eu chorei um dia. Muito. Muito. Muito. Briguei, contestei, culpei, bebi. Ninguém entendeu. Pessoas me julgaram ao me ver fragilizada e raivosa. Pessoas que nunca perderam ninguém. Aliás, nunca conversei com alguém que passou pelo mesmo que eu. Talvez nem precisasse. Acredito que o sentimento deva ser bem parecido. Eu sei que sim.
Depois, as pessoas me julgaram por estar me divertindo. Estranharam os sorrisos, o jeito doce, a fala mansa, estranharam, inclusive, eu não julgar mais outras pessoas. A perda, para não dizer a morte, ensina tantas, tantas coisas.
E não é para aprender que a gente vive? Dizem que sim.
A dor não passa. Mas diminui consideravelmente. Vira uma saudade gostosa, não um fardo. Uma lembrança saudável, não um buraco nas paredes internas. As pessoas vão embora. Simples assim. Terrível assim. E não há nada que possamos fazer em relação a isso. Curtir o luto, sim, é sinal de respeito. Se derrubar, não. A vida continua. Não fomos. Ainda estamos aqui.
O bom de conhecer a maior das dores, é que qualquer ferimento aparentemente grave, vira um arranhão sem importância.
Provavelmente, nenhum outro garoto irá ferir seu coração. E será necessário um batalhão de babacas para agredir o seu orgulho.
Você estará forte. Eu estou forte. Vamos continuar assim?