A paralisia do sono é um fenômeno misterioso relacionado ao sono que ocorre quando a pessoa está em processo de transição entre o estado da sonolência e de vigília, ficando temporariamente incapaz de falar ou realizar movimentos voluntários.
O estado de paralisia costuma ser acompanhado de uma sensação de pressão no peito, percepção de eventos assustadores, como alucinações visuais ou auditivas ou presenças. A paralisia do sono é classificada como um distúrbio do sono, podendo ser uma experiência aterrorizante para quem a vivencia.
Segue abaixo alguns pontos importantes sobre a paralisia do sono:
Confira os fatores a seguir para entender melhor como a paralisia funciona na prática.
- Alucinações: muita gente relata experiências sensoriais intensas durante a paralisia do sono. Isso pode incluir alucinações auditivas, visuais ou táteis. As alucinações variam de pessoa para pessoa e podem ser assustadoras;
- Fase de transição do sono: a paralisia do sono geralmente ocorre durante o período de transição entre o sono acordado e o sono REM (movimentos rápidos dos olhos). No sono REM, os músculos voluntários ficam naturalmente relaxados para prevenir que o corpo se mova em resposta aos sonhos;
- Incapacidade de mover-se ou falar: durante a paralisia do sono, a pessoa nota que está acordada, mas encontra-se incapaz de mover-se voluntariamente ou de falar de forma temporária. A paralisia é breve e costuma durar de alguns segundos a minutos;
- Associação com parassonias: a paralisia do sono está comumente associada a outros distúrbios do sono, como terrores noturnos e sonambulismo;
- Sensação de pressão no peito: algumas pessoas descrevem sensação de forte pressão no peito durante episódios de paralisia do sono, o que pode acarretar no aumento da sensação de ansiedade.
![Paralisia do sono: qual a explicação científica por trás?](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2024/01/Paralisia-do-sono-qual-a-explicacao-da-ciencia-imagem-1.jpg.webp)
Vale ressaltar que a paralisia do sono não representa danos físicos nem uma ameaça direta à vida. Entretanto, os episódios podem impactar diretamente na qualidade do sono causando muita angústia. Caso alguém enfrente episódios frequentes de paralisia do sono ou se sinta perturbado por essas experiências anormais, é essencial buscar orientação de um profissional de saúde, como por exemplo um médico especializado em distúrbios do sono.
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Algumas pessoas têm alucinações com fantasmas, demônios, alienígenas, intrusos ameaçadores e até parentes mortos. Há quem veja partes dos próprios corpos flutuando no ar, em pé ao lado da cama ou cópias clonadas de si próprias. Alguns veem anjos e acreditam que tiveram uma experiência sobrenatural.
Há pesquisadores que acreditam que as alucinações possam ter alimentado a crença nas bruxas na Europa, logo no início da Idade Moderna, e supostamente até expliquem alguns relatos recentes de abdução por alienígenas. Cientistas acreditam que a paralisia do sono certamente tenha existido desde o surgimento da vida humana.
Existem inúmeras descrições detalhadas de episódios no decorrer da história da literatura. A autora Mary Shelley inspirou-se em uma pintura ilustrando um episódio de paralisia do sono para escrever uma cena no livro “Frankenstein”.
Contudo, a paralisia do sono começou a ser estudada apenas de uns tempos pra cá. De acordo com o pequisador do sono Baland Jalal, da Universidade Harvard, nos Estados Unidos. Em meados de 2020, Jalal conduziu o que provavelmente foi o primeiro teste clínico sobre diferentes opções de tratamento da paralisia do sono. Se antes a paralisia do sono era um fenômeno ignorado, agora aumentaram os estudos sobre esse acontecimento.
Este homem é um dos poucos cientistas do sono que estão investindo energia e tempo na pesquisa dessa condição. Espera-se que a paralisia possa desvendar os mistérios do cérebro humano por completo.
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Até pouco tempo atrás, não havia um consenso em relação à experiência da paralisia do sono. Havia pouca consistência entre os métodos e os estudos eram esporádicos. Em 2011, o psicólogo clínico Brian Sharpless efetuou uma análise mais abrangente sobre a incidência da condição.
Na ocasião, ele trabalhava na Universidade Estadual da Pensilvânia, e hoje em dia, é professor visitante do St. Mary’s College de Maryland, ambos nos Estados Unidos. O psicólogo também é um dos autores do livro “Paralysis: Historical, Psychological and Medical Perspectives” (“Paralisia do sono: perspectivas históricas, psicológicas e médicas”, na tradução livre).
Sua análise incluiu dados envolvendo 35 estudos realizados ao longo de cinco décadas. Eles envolveram mais de 36 mil voluntários coletivamente. Sharpless chegou à conclusão que a paralisia do sono é algo bastante comum. Em torno de 32% dos pacientes psiquiátricos e 28% dos estudantes universitários afirmam ter passado por essa experiência em algum momento da vida. Adultos em geral também já encararam este episódio (8%).
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Qual a explicação científica para a paralisia do sono
Após a experiência com a condição, muitas pessoas buscam explicações paranormais ou até sobrenaturais. No entanto, a causa é mais simples do que possa parecer. Acontece que durante à noite, nosso corpo passa por quatro estágios de sono. O último deles é o movimento rápido dos olhos (REM, na sigla em inglês). É justamente neste estágio que sonhamos.
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É durante o sono REM que o cérebro paralisa os músculos, provavelmente a fim de evitar que você atue fisicamente em seus sonhos e acabe se machucando. No entanto, às vezes a parte sensorial cerebral sai prematuramente do sono REM. Com isso, a pessoa acorda, mas a parte inferior do cérebro ainda está neste estágio, e continua enviando neurotransmissores a fim de paralisar os músculos.
A pesquisa feita por Sharpless concluiu que entre 15 a 44% das pessoas que sofrem de paralisia do sono enfrentam estresse clinicamente significativo por conta dessa condição. Os problemas costumam surgir como efeito colateral da reação à paralisia do sono, ao invés da condição em si. Os pacientes ficam estatelados pensando em quando irá surgir o próximo episódio.
A paralisia do sono pode gerar ansiedade no início e final da noite. É cultivada uma rede de preocupação em torno dela, o que leva a uma espécie de ataque de pânico. Em casos mais sérios, a paralisia do sono acaba se tornando um sinal de narcolepsia latente – condição mais séria envolvendo o sono, na qual o cérebro é incapaz de regular os padrões de vigília e sono, fazendo com que a pessoa durma em momentos inapropriados.
Médicos alegam que a paralisia do sono costuma ocorrer quando a pessoa dorme pouco, o que pode fragmentar a arquitetura do sono. Alguns pacientes sofrem mais quando dormem de barriga para cima, apesar de a explicação para este fenômeno ainda seja desconhecida.
Como é o tratamento para essa condição?
O tratamento mais indicado para a paralisia do sono é educacional. Os pacientes são tranquilizados ao aprender a ciência por trás da condição, sabendo que não tem perigo algum. É válido utilizar alguma forma de meditação também.
O principal intuito neste caso é diminuir a ansiedade dos pacientes na hora de ir dormir e treiná-los para continuarem calmos no momento em que a paralisia do sono surgir. Existem casos mais sérios em que pode ser necessário o uso de remédios, como inibidores seletivos da recaptação de serotonina (SSRIs, na sigla em inglês), comumente empregados para o tratamento da depressão, mas que apresentam efeito colateral de suprimir o sono REM.
Por trás do medo
Os episódios mais memoráveis e dramáticos da paralisia do sono costumam ser acompanhados de alucinações vívidas e muito realistas. As visões noturnas causam medo, mas os cientistas acreditam que elas possam nos contar histórias fantásticas sobre o cérebro humano.
No momento em que entramos em paralisia do sono, o córtex motor cerebral começa a enviar sinais para o corpo, ordenando que ele se mova. No entanto, os músculos ficam paralisados, de tal forma que o cérebro não receba sinais de retorno.
Como consequência, o cérebro preenche uma lacuna e cria sua própria explicação para a falta de movimento dos músculos. Devido a isso as alucinações acabam incluindo uma criatura estranha segurando o corpo ou sentada no peito da pessoa.
O processo reforça a ideia comum entre cientistas evolucionistas de que o cérebro humano consiste em uma ‘’máquina de retratar histórias’’. É fato que o cérebro idealiza narrativas bastante dramáticas, em um esforço considerável para atribuir algum significado em algo passageiro.
O chefe da unidade de pesquisa sobre psicologia anomalística da Universidade Goldsmiths, em Londres, Christopher French, passou mais de dez anos conversando com pessoas do mundo inteiro que sofreram alucinações e registrando seus relatos.
French afirma que algumas alucinações são inexplicáveis de tão grotescas! Ele já apontou um homem sendo estrangulado por nada mais nada menos do que plantas e um gato preto com aparência horripilante. No entanto, outros tipos de alucinações são mais comuns e parecem influenciadas pela cultura local.
Já no Canadá, mais especificamente em Terra Nova, é unânime a figura de uma bruxa velha sentada sobre o peito. Em Santa Lúcia, no Caribe, os moradores da região falam sobre kokma, almas das crianças não batizadas, asfixiando-as durante o sono. Mexicanos acreditam na existência de um homem morto sobre o peitoral.
Os italianos têm alucinações com bruxas e os turcos comentam sobre o karabasan, criatura fantasmagórica e misteriosa que insiste em assombrá-los na calada da noite. Agora resta saber o que assombra os brasileiros.
Essa junção de perspectivas por pessoas espalhadas em diversas partes ao redor do mundo reforça a ideia de que o ser humano é fortemente influenciado pelas expectativas que o cerca bem como pela cultura que o rodeia.
Dinamarca e Egito
Continuando a saga de países, Baland Jalal fez um comparativo dos sintomas da paralisia do total envolvendo dinamarqueses e egípcios, com idades e gêneros distintos. O abismo cultural nas formas que a paralisia do sono se manifesta são gritantes!
Quem é do Egito sofre a paralisia com mais frequência que as pessoas da Dinamarca (44% contra 25%) e apresenta maior propensão para apresentar explicações sobrenaturais. Os egípcios que acreditavam em demônios e fantasmas passaram muito mais tempo paralisados em cada episódio que os dinamarqueses.
Acredita-se que o medo do sobrenatural aumenta o medo das pessoas em relação à paralisia do sono. A ansiedade é responsável por tornar o fenômeno mais comum, sendo uma demonstração da relação íntima entre a mente e o corpo.
Quem sofre de estresse e ansiedade, tende a ter uma menor qualidade de sono, de forma que isso desencadeie um sofrimento maior no que se refere à paralisia do sono. A cultura é capaz de criar um efeito fora de série!
E você, já teve paralisia do sono? Qual foi a sua reação depois de despertar por completo?
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