Durante a infância, é comum pais quererem agradar os filhos com alguns mimos, como brinquedos. Mas a cultura vai sendo passada ao longo das gerações, às vezes, de maneira desapercebida. Meninas recebem bonecas e a partir daí, são, consciente ou inconscientemente educadas para uma responsabilidade que terão na vida adulta: ser mãe.
Apesar do sexo biológico definir que mulheres são os únicos seres humanos a poder gerar uma nova vida em seus ventres, a maternidade não é desejada por algumas e também se encontram aquelas mulheres que sofreram algum tipo de violência e se viram obrigadas a assumir uma nova responsabilidade à força.
Mesmo com os estigmas maternos sendo cada vez mais debatidos na sociedade, muitas mulheres ainda devem lidar com a maternidade solo. Algumas perdem ou não têm rede de apoio, outras são abandonadas pelos parceiros e existem aquelas que sofrem ao ter que abdicar da vida profissional em prol da criação dos filhos.
O papel do ser mãe ainda é pouco discutido entre as famílias e existem inúmeros tabus que rondam várias mulheres. Com Dandara Ramalho, de 26 anos, não foi diferente. Ao se ver em uma nova situação, ao ser mãe do pequeno João, ela tinha o apoio da avó, que a ajudava nos cuidados do menino enquanto ela terminava a faculdade de Psicologia.
Dandara e o pai de João se separaram e ambos concordaram com a guarda compartilhada do menino. Quando seu filho cresceu, ela decidiu retomar os estudos e se viu quase que desamparada.
Em um primeiro momento, ela cogitou deixar o menino em uma creche, mas achou que seria mais factível para o menino crescer ao lado da família e passou a receber a ajuda da avó.
A mineira perdeu o apoio da avó e precisou pausar novamente os estudos, o que começou a lhe trazer certa infelicidade. Dandara morava com a mãe e o irmão e quando a mineira informou aos familiares que estava cogitando a ideia de que o pai cuidasse do menino durante a semana, ela foi severamente julgada.
A mãe de Dandara disse que ela poderia trabalhar meio período enquanto João estivesse na escola e ela poderia retomar os estudos à noite. “Minha mãe foi uma pessoa que não teve oportunidade para fazer uma graduação cedo. Ela me teve com 17 anos e, logo depois, meu irmão, com 20. Hoje ela é contadora, mas só foi fazer a graduação quando a gente já estava maior”, explicou a mineira em entrevista ao site Incrível Club.
Devido a própria experiência de vida, a mãe da mineira passou a julgá-la e a criticá-la por sua decisão de deixar João com o pai. Para a mãe de Dandara, ela deveria esperar o menino crescer para voltar a estudar, porque ela tinha feito o mesmo por ela e seu irmão.
Dandara pediu ajuda para a mãe na criação de João e, mesmo assim, a mulher se negou a ajudar a filha, retificando que era obrigação da estudante de Psicologia de cuidar do filho. A ideia de deixar a guarda para o pai foi trabalhada em terapia, após várias sessões, Dandara entendeu que existe uma culpa construída nas mulheres.
Com a decisão tomada, a mãe de Dandara resolveu expulsá-la de casa e ela precisou alugar uma quitinete próxima à faculdade. O imóvel não tinha as condições de abrigar uma criança e Dandara conversou com o pai de João que entendeu sua situação e aceitou o filho.
Hoje com a decisão tomada e o menino passando os finais de semana com ela, Dandara entendeu que a decisão foi a melhor para todos. Ainda assim, ela continua enfrentando olhares de desaprovação e até críticas quando comenta sua história.
“Quando eu conto a minha história, eu recebo muitos olhares tortos e perguntas indiscretas. Eu vou ignorando, levando minha vida em paz, buscando meu diploma e tendo a certeza de que meu filho tem qualidade de vida”, explicou.