Aos meus pais, que me ensinaram os caminhos do perdão.
Francis Bacon, filósofo e ensaísta inglês (1561-1626), dizia que “a vingança nos torna igual ao inimigo; o perdão nos torna superiores a ele”.
Ao longo da história, o perdão tem sido exaltado por religiões e filosofias, ateus e cristãos, e especialmente almejado por sábios. Diz-se que é necessário perdoar para seguir adiante. Mas não é fácil compreender porque o perdão é tão essencial na vida, nem acreditar que sem perdão não existe paz. Aparentemente, tanta exaltação parece fazer do perdão um conceito sobrevalorizado. Será?
O certo é que todo o ser humano busca o perdão em algum momento: quer ser perdoado ou tem que perdoar pelos erros, mágoas, palavras ásperas, gestos cortantes, atitudes insensatas, comportamentos impensados, partidas abruptas, rupturas violentas, ausências, ressentimentos, raivas ocultas, desejos proibidos…
Eventualmente, é necessário perdoar-se a si próprio, bem antes de perdoar os outros.
Algumas pessoas são incapazes de perdoar e passam pela vida acumulando rancores e gerando sofrimentos intensos e desnecessários. Pessoas rancorosas são sempre pessoas infelizes. Quanto menor for a capacidade de perdoar, maior é a inevitabilidade da infelicidade.
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Fazendo uma breve analogia: as pessoas são como casas. Com o passar dos anos vão guardando coisas dentro de si, enchendo a memória de imagens e emoções. A ausência de perdão faz com que sejam guardados rancores, mágoas, tristezas, raivas – o lixo das emoções, e exatamente como acontece com uma casa que vai sendo ocupada por objetos aleatórios e totalmente inúteis, a luz vai-se e os lugares tornam-se sombrios, feios e desarrumados.
O perdão é uma espécie de vento que areja por dentro, é uma luz redentora. Equivale a jogar fora o que é ruim para criar novos e amplos espaços interiores. É como o sol que entra pelas janelas para iluminar tudo e afastar a escuridão.
Mas os caminhos para o perdão são penosos, lentos, difíceis. Porque o perdão é um gesto de amor vindo diretamente do coração, em situações em que o coração está cheio de tudo menos de amor, em horas em que predomina a ira, o ódio, o ressentimento e a mágoa.
Para perdoar é preciso, antes de mais, querer perdoar. É preciso tocar nas feridas, e às vezes abri-las de novo. Perdoar não é esquecer. É um estado anterior ao esquecimento: é quando a memória ainda está em carne viva, e há dor, raiva e rancor – é nesse momento que se torna vital perdoar. E sabe-se que o perdão é necessário exatamente porque existe dor – quando se perdoa a dor vai-se.
Perdoar é imprescindível para um futuro feliz. Não há futuro sem perdão. Quem não perdoa torna-se prisioneiro do passado, alimenta aquilo que está na origem do seu sofrimento e acaba permitindo que as pessoas que o feriram continuem participando da sua vida.
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Perdoar é libertar-se, é ser maior do que a mágoa e o rancor, é ter controle sobre as emoções. É descobrir o melhor de si, sendo nobre e superando os sentimentos fáceis da ira e do ressentimento. Perdoar é o oposto da humilhação, da ofensa, do grito. É um gesto sincero e silencioso, que não deve ser ostentado – exatamente como a generosidade. Perdoar depende exclusivamente de cada um e é o que torna as dores mais leves, os erros mais suaves, as iras mais brandas e os inimigos mais mansos.
Perdoar é o que divide os homens em seres espiritualmente superiores e inferiores. Juan Luis Vives (1492-1540), humanista espanhol do séc. XVI, dizia que “perdoar é próprio dos ânimos generosos, mas guardar rancor é coisa de homens ásperos e cruéis, baixos e de casta ruim”.
Por tudo isso, o perdão não está sobrevalorizado. É o alicerce da serenidade, e um gesto de verdadeira liberdade e força. Mahatma Gandhi (1869-1948) defendia que “o fraco jamais perdoa; o perdão é uma das caraterísticas do forte”.