Um estudo foi publicado na última quinta-feira (30/03) na revista científica Cell e revelou que plantas “gritam” quando se machucam. O ruído é semelhante a um estalo e não pode ser percebido pelos ouvidos humanos. As frequências podem aumentar se a planta se encontrar em uma situação grave de estresse.
A descoberta, que é intrigante, foi realizada por pesquisadores da Universidade de Tel Aviv, em Israel. Os cientistas usaram tomateiros, pés de tabaco e de milho para a experiência. Em estudos anteriores, os cientistas chegaram à conclusão de que os vegetais conseguem emitir sons em situações que envolvem um alto estresse fisiológico. Situações como cortes, mordidas de animais ou insetos e tempos de seca fazem com que as plantas emitam sons.
Os pesquisadores colocaram uma série de sensores no caule das plantas e começaram a gravar os sons obtidos após algumas intervenções físicas nas plantas. O barulho percebido se aproxima bastante ao som de um estalo ou estouro de pipoca. A frequência do som tende a ser maior quando a planta é submetida a uma condição entendida como “mais assustadora”.
Segundo o R7, a pesquisa descobriu, em 2019, que um tomateiro consegue emitir menos de um sinal por hora, quando não está baixo nenhum tipo de situação estressora. Quando os pesquisadores privaram a planta de água, o tomateiro passou a transmitir cerca de 35 ruídos e 25 quando seu caule foi cortado.
No último estudo, que foi publicado na revista científica Cell, os pesquisadores chegaram à conclusão de que as plantas estressadas também têm fenótipos alterados, isto é, algumas podem mudar de cor, cheiro e forma.
Segundo a pesquisa, liderada pelo cientista Itzahk Khait e seus colegas da Universidade de Tel Aviv, as plantas foram observadas em câmaras acústicas e em estufas e os microfones conseguiram captar frequências ultrassônicas, algo entre 20 e 150 kHz.
Esses sons podem ser detectados por insetos e alguns mamíferos, entre distâncias de 3 a 5 metros. Quando a planta é cortada ou fica sem água, os sons são diferentes. Através de um programa de computador, os pesquisadores conseguiram identificar, com 70% de precisão, os padrões sônicos produzidos pelas plantas.
Para os autores, segundo a BBC Brasil, os organismos podem detectar e classificar os sons emitidos e assim reagir a eles. “Nossos estudos sugerem que animais e possivelmente até outras plantas
poderiam usar estes sons para obter informações sobre a condição de uma planta”, informaram os cientistas responsáveis pela pesquisa.
Também é parte da conclusão que alguns animais possam usar essas informações sonoras a seu favor. As plantas ao emitirem sons quando estão sob ataque de algum animal, enviam essas informações para outros predadores naturais, que ao detectarem que as plantas estão sendo atacadas, eles podem comer os animais que estão na planta.
Essas descobertas são úteis também para a agricultura, uma vez que as emissões sonoras podem também significar a necessidade de hidratação as plantações e lavouras. Com o avanço dos estudos, outras técnicas de irrigação podem aparecer e visar a redução do uso de água e um possível desperdício de recursos naturais.
Com as mudanças climáticas e os períodos de seca aumentando, a pesquisa pode oferecer um padrão mais próximo às necessidades da agricultura. “O uso eficiente da água se torna mais crítico, tanto para a segurança alimentar, quanto para a ecologia”, afirmam os pesquisadores israelenses.
Ainda de maneira preliminar, outros cientistas também constataram que outras plantas também emitem sons. Com os avanços nos estudos, os cientistas agora querem explorar outras situações de estresse, como frio, ataques de pragas ou radiação solar extrema e detectar se há diferença sonora.
Qual é o processo de som das plantas?
Os sons emitidos pelas plantas são formados pelas cavitações, que são bolhas de ar que ficam nos tecidos vegetais. Essas bolhas só estouram depois de algumas mudanças nas composições dos líquidos nos mesmos tecidos vegetais.