O amor, em todas as suas formas e momentos, é um tema bastante presente na arte brasileira, especialmente na literatura.
Ao longo da história, grandes nomes da literatura brasileira se inspiraram no amor para produzir poemas que exploram esse sentimento de forma profunda e emocionante, inspirando os leitores.
Se você é um admirador da poesia do nosso país, com certeza já se deparou com muitas outras voltadas a esse sentimento. O amor é um dos temas mais explorados pelos nossos artistas, desde a época colonial até os tempos contemporâneos. Os poetas usam a sua sabedoria com as palavras para retratar a intensidade, a beleza e as contradições desse sentimento que permeia a existência humana.
Ao analisarmos a vasta coleção de poemas de amor da literatura brasileira, encontramos grandes obras que se tornaram famosas por tocar a alma dos leitores ao transmitir o sentimento do amor em sua maneira mais pura.
Tomemos como exemplo Vinicius de Moraes, Carlos Drummond de Andrade, Mário Quintana, Gonçalves Dias, Cecília Meireles, entre muitos outros.
Todos esses artistas foram capazes de explorar o amor e a sua essência durante diferentes momentos da vida. Ainda que cada um tenha a sua própria maneira de escrever e falar sobre esse sentimento transformador, todos nos convidaram a mergulhar no universo desse sentimento inerente à nossa natureza, que apesar de suas dualidades é uma das sensações mais transformadoras que podemos experimentar ao longo da vida.
![Os 22 maiores poemas de amor da literatura brasileira Os 22 Maiores Poemas De Amor Da Literatura Brasileira](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/07/37-38-1-Os-22-maiores-poemas-de-amor-da-literatura-brasileira.jpg.webp)
Os poemas de amor da literatura brasileira nos levam para um novo mundo, onde esse sentimento é traduzido em versos, e conseguimos nos conectar com pessoas que viveram em eras opostas a nossa, mas que também compartilharam dos mesmos sentimentos que nutrimos hoje.
Explorar esses poemas é nos conectar com a essência mais profunda de nossa humanidade.
Se você não é poeta, mas adora conhecer mais sobre os nossos artistas e está em busca de poemas de amor que possam te inspirar a explorar esse sentimento ou se declarar para alguém, te convidamos a ler esse texto até o final.
Nós juntamos os 22 maiores poemas de amor da literatura brasileira em apenas um texto. Escolhemos grandes obras para compor essa lista, e esperamos que cada uma delas te ajudem a enxergar o amor com todo o seu poder e magnitude.
Vamos para a lista?
Confira todos os poemas
Soneto de fidelidade – Vinícius de Moraes
O Soneto da fidelidade é certamente um dos poemas mais conhecidos e admirados do inesquecível Vinicius de Moraes. Nessa obra cheia de sentimentos e reflexões, ele fala sobre fidelidade e o compromisso inabaláveis do amor verdadeiro. Confira abaixo.
Soneto da fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Amar – Carlos Drummond de Andrade
Neste poema único, que é um verdadeiro presente para todos os apaixonados, Drummond aborda as complexidades do amor, e faz uma importante reflexão acerca da importância de amar e se entregar mesmo diante das imperfeições e desafios propostos pelos relacionamentos românticos. Aprecie a obra.
Amar
Que pode uma criatura senão,
Entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar,
Amar, desamar, amar?
Sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
Sozinho, em rotação universal, senão
Rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia,
O que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
É sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
O que é entrega ou adoração expectante,
E amar o inóspito, o áspero,
Um vaso sem flor, um chão de ferro,
E o peito inerte, e a rua vista em sonho,
E uma ave de rapina.
Este o nosso destino: Amor sem conta,
Distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
Doação ilimitada a uma completa ingratidão,
E na concha vazia do amor à procura medrosa,
Paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
E na secura nossa, amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.
Eu Sei e Você Sabe – Vinícius de Moraes
Neste poema, Vinícius de Moraes nos presenteia com um texto maravilhoso sobre a cumplicidade e o entendimento mútuo entre os amantes, que formam uma conexão que vai muito além das palavras. Confira.
Eu sei e você sabe
Eu sei e você sabe
Já que a vida quis assim
Que nada nesse mundo levará você de mim
Eu sei e você sabe
Que a distância não existe
Que todo grande amor
Só é bem grande se for triste
Por isso meu amor
Não tenha medo de sofrer
Que todos os caminhos
Me encaminham a você.
Assim como o Oceano, só é belo com o luar
Assim como a Canção, só tem razão se se cantar
Assim como uma nuvem, só acontece se chover
Assim como o poeta, só é bem grande se sofrer
Assim como viver sem ter amor, não é viver
Não há você sem mim
E eu não existo sem você!
As sem-razões do amor – Carlos Drummond de Andrade
Esse poema tem uma importância muito grande dentro da literatura brasileira, e fala sobre como o amor de manifesta de maneira espontânea, arrebatando o amado independente do comportamento de seu parceiro. Ele é uma reflexão sobre o poder do amor. Leia e se encante.
As sem-razões do amor
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor
![Os 22 maiores poemas de amor da literatura brasileira Os 22 Maiores Poemas De Amor Da Literatura Brasileira](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/07/37-38-2-Os-22-maiores-poemas-de-amor-da-literatura-brasileira.jpg.webp)
Canção do Exílio – Gonçalves Dias
Embora o seu foco não seja exatamente o romântico, o poema “Canção do Exílio” é uma expressão lírica da saudade e do amor pela terra natal, tornando-se um símbolo do sentimento de amor à pátria. Ele também merece um espaço em nossa lista. Confira.
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá,
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite,
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores,
Que tais não encontro eu cá;
Em cismar – sozinho, à noite –
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Não permita Deus que eu morra,
Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.
Canção – Cecília Meireles
Esse poema é uma grande prova do talento de Cecília Meireles com as palavras. Em uma obra simples, de 15 versos, ela fala sobre a urgência do amor, e pede pelo retorno do amado. Canção nos ensina sobre a transitoriedade do amor e a influência do tempo. Aprecie.
Canção
Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!
Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!
Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo…
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo…
Eu te amo – Adélia Prado
Adélia Prado tem uma poesia linda e digna de admiração. Em seus trabalhos, ela explora a simplicidade e a intensidade dos relacionamentos amorosos. “Eu te amo” é um de seus poemas mais conhecidos, e fala sobre a intensidade e paixão que acompanham o amor. Leia abaixo.
Eu te amo
Eu te amo, homem, hoje como toda vida quis e não sabia, eu que já amava de extremoso amor o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos de bordado, onde tem o desenho cômico de um peixe — os lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer te amo.
Teço as curvas, as mistas e as quebradas, industriosa como abelha, alegrinha como florinha amarela, desejando as finuras, violoncelo, violino, menestrel e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo o teu coração, o que é, a carne de que é feito, amo sua matéria, fauna e flora, seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas perdidas nas casas que habitamos, os fios de tua barba.
Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto:
“Dize-me, ó amado da minha alma, onde apascentas o teu gado, onde repousas ao meio-dia, para que eu não ande vagueando atrás dos rebanhos de teus companheiros”.
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece, tira de mim o ar desnudo, me faz bonita de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega, me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando os panos, se alargando aquecido, dando a volta ao mundo, estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo, o que não queria dizer amo também, o piolho.
Assim, te amo do modo mais natural, vero-romântico, homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,a luz na cabeceira, o abajur de prata; como criada ama, vou te amar, o delicioso amor: com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso, me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles eu beijo.
Futuros amantes – Chico Buarque
Um verdadeiro clássico da poesia brasileira voltadas ao amor. Futuros amantes é uma obra impecável de um dos grandes letristas brasileiros. A mensagem poderosa que esse poema carrega precisa ser sempre lembrada, por casais de todas as épocas e idades. Confira.
Futuros amantes
Não se afobe, não
Que nada é pra já
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante
Milênios, milênios
No ar
E quem sabe, então
O Rio será
Alguma cidade submersa
Os escafandristas virão
Explorar sua casa
Seu quarto, suas coisas
Sua alma, desvãos
Sábios em vão
Tentarão decifrar
O eco de antigas palavras
Fragmentos de cartas, poemas
Mentiras, retratos
Vestígios de estranha civilização
Não se afobe, não
Que nada é pra já
Amores serão sempre amáveis
Futuros amantes, quiçá
Se amarão sem saber
Com o amor que eu um dia
Deixei pra você
Amor e seu tempo – Carlos Drummond de Andrade
Neste poema, Drummond usa toda a sua genialidade para expressar a intensa e ao mesmo tempo delicada complexidade dos sentimentos amorosos. A obra retrata o amor como uma força transformadora. Aprecie.
Amor e seu tempo
Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. Amor começa tarde.
Meu destino – Cora Coralina
Nesse poema, Cora Coralina fala sobre o amor de uma maneira simples e muito assertiva. Ela compôs essa sua obra com uma grande delicadeza, e nos impressiona ao fazer parecer que construir um amor duradouro é uma tarefa simples. Leia abaixo a história de suas pessoas que resolveram viver um amor juntas.
Meu destino
Nas palmas de tuas mãos
leio as linhas da minha vida.
Linhas cruzadas, sinuosas,
interferindo no teu destino.
Não te procurei, não me procurastes –
íamos sozinhos por estradas diferentes.
Indiferentes, cruzamos
Passavas com o fardo da vida…
Corri ao teu encontro.
Sorri. Falamos.
Esse dia foi marcado
com a pedra branca
da cabeça de um peixe.
E, desde então, caminhamos
juntos pela vida…
Soneto do Amor Total – Vinicius de Moraes
Vinicius de Moraes se casou nove vezes, e isso o trouxe uma grande experiência no amor. Nesse poema, escrito com muita delicadeza, ele celebra o amor de forma única, retratando-o como uma experiência que transcende as fronteiras do tempo e do espaço. Leia a obra a seguir.
Soneto do amor total
Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
![Os 22 maiores poemas de amor da literatura brasileira Os 22 Maiores Poemas De Amor Da Literatura Brasileira](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/07/37-38-3-Os-22-maiores-poemas-de-amor-da-literatura-brasileira.jpg.webp)
O Amor Antigo – Carlos Drummond de Andrade
Mais um poema maravilhoso de Drummond. Nessa obra, ele explora a memória que todos carregamos sobre os amores passados, bem como a saudade que perdura mesmo após o fim da relação. O Amor Antigo retrata a dualidade de beleza e dor do amor, e é uma obra prima da literatura brasileira.
O Amor Antigo
O amor antigo vive de si mesmo,
não de cultivo alheio ou de presença.
Nada exige nem pede. Nada espera,
mas do destino vão nega a sentença.
O amor antigo tem raízes fundas,
feitas de sofrimento e de beleza.
Por aquelas mergulha no infinito,
e por estas suplanta a natureza.
Se em toda parte o tempo desmorona
aquilo que foi grande e deslumbrante,
o antigo amor, porém, nunca fenece
e a cada dia surge mais amante.
Mais ardente, mas pobre de esperança.
Mais triste? Não. Ele venceu a dor,
e resplandece no seu canto obscuro,
tanto mais velho quanto mais amor.
Beijo eterno – Castro Alves
Um grande poema brasileiro sobre o amor. Nessa obra, Castro Alves fala sobre um amor pleno e eterno, adicionando alguns detalhes sobre a sua amada. Contemple a obra abaixo.
Beijo eterno
Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
Fora, repouse em paz
Dormindo em calmo sono a calma natureza,
Ou se debata, das tormentas presa,
Beija inda mais!
E, enquanto o brando calor
Sinto em meu peito de teu seio,
Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
Com o mesmo ardente amor!
Diz tua boca: “Vem!”
Inda mais! diz a minha, a soluçar… Exclama
Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
“Morde também!”
Ai! morde! que doce é a dor
Que me entra as carnes, e as tortura!
Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
Morto por teu amor!
Quero um beijo sem fim,
Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
Beija-me assim!
O ouvido fecha ao rumor
Do mundo, e beija-me, querida!
Vive só para mim, só para a minha vida,
Só para o meu amor!
O amor comeu meu nome – João Cabral de Melo Neto
Nesse poema, João Cabral de Melo Neto homenageia o amor de uma maneira muito bonita, descrevendo de maneira muito certeira o sentimento que todos compartilhamos quando nos apaixonamos. Você com certeza vai se identificar com essa obra. Aprecie.
O amor comeu meu nome
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu
retrato. O amor comeu minha certidão de idade,
minha genealogia, meu endereço. O amor comeu
meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos
os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas
camisas. O amor comeu metros e metros de
gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o
número de meus sapatos, o tamanho de meus
chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a
cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas
médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas,
minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus
testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de
poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações
em verso. Comeu no dicionário as palavras que
poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso:
pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto
ainda, o amor devorou o uso de
meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada
no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto
mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu
a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de
propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos
que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde
irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta,
cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas.
O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos,
e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua
chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba
de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam
sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas
de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a
água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os
mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde
ácido das plantas de cana cobrindo os morros
regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo
trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de
cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de
que eu desesperava por não saber falar
delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas
folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de
meu relógio, os anos que as linhas de minha mão
asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro
grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da
terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e
minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu
silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.
Bilhete – Mario Quintana
Bilhete é um poema de muita delicadeza, que fala sobre o amor de uma maneira simples, focando no sentimento e na conexão compartilhada pelos parceiros, que não precisa de alardes. Confira.
Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda…
![Os 22 maiores poemas de amor da literatura brasileira Os 22 Maiores Poemas De Amor Da Literatura Brasileira](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/07/37-38-4-Os-22-maiores-poemas-de-amor-da-literatura-brasileira.jpg.webp)
Teresa – Manuel Bandeira
Teresa mostra como o amor vai se modificando com o passar do tempo. Nessa obra, Bandeira explora o primeiro de um casal e como a visão dele sobre a sua amada muda após o relacionamento se desenvolver. Leia com atenção e aprecie.
Teresa
A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna
Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do corpo nascesse)
Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.
Amor – Álvares de Azevedo
Um dos poemas clássicos. Nessa obra, Álvares de Azedo fala sobre um homem apaixonado que tem uma postura de devoção em direção a mulher amada. O seu poema retrata a época em que vivia, mas a mensagem de amor que ele carrega perdura até hoje.
Amor
Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Casamento – Adélia Prado
Nesse poema, Adélia Prado mergulhou na essência do amor e do compromisso que é o casamento. Ela explora a simplicidade e a profundidade desse vínculo, revelando o valor dos pequenos gestos e a importância do cuidado mútuo.
Casamento
Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difícil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.
Tenta-me de novo – Hilda Hilst
Hilda Hilst aborda o tema do amor com intensidade e desejo. Ela expressa a vontade de ser tentada novamente, mergulhando na paixão e na entrega apaixonada que o amor desperta.
Tenta-me de novo
E por que haverias de querer minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas, deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim que gostávamos.
Mas não menti gozo prazer lascívia
Nem omiti que a alma está além, buscando
Aquele Outro. E te repito: por que haverias
De querer minha alma na tua cama?
Jubila-te da memória de coitos e acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
XXX – Olavo Bilac
Nessa obra, Olavo Bilac expressa o amor com sutileza e romantismo. Ele utiliza linguagem poética e imagens vívidas para transmitir a beleza e a exaltação do amor em todas as suas formas.
XXX
Ao coração que sofre, separado
Do teu, no exílio em que a chorar me vejo,
Não basta o afeto simples e sagrado
Com que das desventuras me protejo.
Não me basta saber que sou amado,
Nem só desejo o teu amor: desejo
Ter nos braços teu corpo delicado,
Ter na boca a doçura de teu beijo.
E as justas ambições que me consomem
Não me envergonham: pois maior baixeza
Não há que a terra pelo céu trocar;
E mais eleva o coração de um homem
Ser de homem sempre e, na maior pureza,
Ficar na terra e humanamente amar.
Amar você é coisa de minutos… – Paulo Leminski
Paulo Leminski explora a efemeridade e a intensidade do amor. Ele brinca com a ideia de que amar alguém pode ser uma questão de minutos, mas esses minutos podem ser cheios de emoção e significado.
Amar você é coisa de minutos…
Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui.
![Os 22 maiores poemas de amor da literatura brasileira Os 22 Maiores Poemas De Amor Da Literatura Brasileira](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/07/37-38-5-Os-22-maiores-poemas-de-amor-da-literatura-brasileira.jpg.webp)
Cantiga para não morrer, de Ferreira Gullar
Neste poema, Ferreira Gullar aborda o amor como uma força vital que nos mantém vivos. Ele celebra a paixão e a entrega, revelando a importância do amor como uma fonte de inspiração e renovação.
Cantiga para não morrer
Quando você for se embora,
moça branca como a neve,
me leve.
Se acaso você não possa
me carregar pela mão,
menina branca de neve,
me leve no coração.
Se no coração não possa
por acaso me levar,
moça de sonho e de neve,
me leve no seu lembrar.
E se aí também não possa
por tanta coisa que leve
já viva em seu pensamento,
menina branca de neve,
me leve no esquecimento.
Esperamos que esses grandes poemas da literatura brasileira tenham te ajudado a explorar todas as facetas do amor. Até a próxima!