Quantas vezes não deixamos nossa essência de lado, abandonando nossos sonhos e nossa força de vontade apenas para caber nos ideais de um homem mediano?
Sabemos o quão complexas podem ser as relações interpessoais. A dificuldade que temos de nos comunicar e até mesmo de fazer com que as pessoas entendam nossas vontades, em muitos momentos é extremamente difícil.
Precisamos obedecer a certos signos sociais se não quisermos ficar sozinhas, tudo para que os homens heteronormativos nos aceitem sem sentir seus egos feridos.
As inseguranças masculinas acabam criando um ponto crucial que pode acabar com qualquer relacionamento, mesmo que no início, se não for amplamente debatida.
As mulheres são ensinadas, desde à infância, que precisam ralar muito para conseguir chegar ao nível dos homens, seja profissionalmente ou mesmo na esfera privada, lidando com questões que vão muito além de meras dúvidas.
Por exemplo, para conseguir receber o mesmo que um homem que cumpre a mesma função em uma empresa, muitas vezes a mulher precisa partir para a judicialização da questão, ou até mesmo para o confronto com o chefe, em busca de uma remuneração que seja condizente com sua força de trabalho.
Além do trabalho remunerado, as mulheres precisam abraçar os trabalhos invisíveis que fazem parte da economia do cuidado, como os afazeres domésticos e o cuidado de pessoas, sabendo que não vão receber nem um centavo por isso, mas sendo as que, majoritariamente, assumem massivamente a administração da casa.
Desde sempre precisam jogar com armas que não chegam aos pés dos homens, sempre mais privilegiados na sociedade.
Quando compreendem que merecem um lugar no mundo muito mais justo, onde não precisam se sacrificar em busca de uma pequena porcentagem do que seus colegas recebem, elas acabam indo em busca dessa emancipação social e econômica.
Quando alcançam a liberdade, as mulheres passam a não mais aceitar jogos de sedução e muito menos uma posição no mercado de trabalho que a desvalorize.
A partir desse momento, muitos homens, que nunca precisaram refletir acerca de seus privilégios, passam a assumir uma postura de negação, sentindo receio da imposição e da proeminência delas.
Os homens sabem muito bem que têm a possibilidade de manipular suas companheiras e funcionárias, basta que sejam dependentes emocional ou financeiramente.
A agressão e a violência que mulheres dependentes sofrem de chefes, maridos e namorados que se sentem no direito de usar a humilhação como ferramenta de controle, faz com que eles nunca queiram se sentir inferiorizados por elas.
Eles passam a compreender, desde muito novos, que existe uma hierarquia na sociedade, e que quando se colocam acima das mulheres, podem usufruir de ainda mais privilégios do que aqueles já concedidos pelo patriarcado, como a certeza de que sempre poderão contar com uma companheira que realize todos os serviços domésticos sem que precisem pagar um centavo por isso.
Esse trabalho do cuidado acaba sendo atribuído às mulheres como uma função social, como se fizessem “por amor”, o que as coloca em uma posição ainda mais inferior, a de não conseguir negar essa emancipação.
Mas, a partir do momento em que elas enxergam que são extremamente capazes, que suas vivências as colocam em posições muito acima do que imaginam, se sentem corajosas o suficiente para se livrar do controle e dos ciclos de abusos.
As mulheres independentes assustam aqueles homens que desejam se sentir superiores às suas companheiras, que não conseguem compartilhar suas vitórias e que, principalmente, não aceitam perder seus microespaços de poder.
Mesmo sofrendo no trabalho, por exemplo, eles querem ter a possibilidade de chegar em casa e oprimir seus filhos e sua companheira, como forma de descontar tudo o que passam.
Homens que não sabem compreender suas inseguranças, que não falam sobre elas, e que se sentem ameaçados pelo sucesso feminino, lembrando com saudosismo da época em que elas podiam ter seus direitos negados, são aqueles que não têm capacidade de viver a vida real.
Se ancoram no fracasso dos outros para conseguir lidar com seus próprios fantasmas.