– Eu nunca vou me envolver com ela. O que existe é pele.
Foi isso que eu imaginei depois daquela noite que passamos juntos. Ela compromissada e eu acreditando que não tínhamos nada a ver um com o outro. Estilos, jeitos e modos de pensar totalmente opostos. Distintos de um modo tão louco que, se eu contasse, ninguém acreditaria no que rolou. Uma única vez, claro.
Mas aí, uma semana se passou. E veio outra primeira vez para nós. Outra “única vez”. Outro “só hoje”. E depois outra… E mais outras. Acontecia algo quando nossas bocas e corpos se tocavam que era fora do comum. E ela dizia o mesmo, me encarando e fodendo o meu juízo. Uma química que acredito nunca ter sentido antes. Talvez por ser proibido.
Confesso que tudo aquilo me jogou direto para a minha zona de conforto.
Sempre fui desapegado. Enxergava aquela situação como mera curtição, mesmo com o perigo de querer ficar jogado naqueles braços por tempo indeterminado. “Cuidado para não se machucar”, me avisou um amigo. Retruquei um “tá tudo sob controle” sem muita convicção. Vi na cara dele a expressão do “eu tô te avisando”.
Eu precisava ter plena consciência de que o cenário era completamente desfavorável para o nosso envolvimento. Deveria saber que nem nos devaneios mais loucos e idiotas existia uma chance para ficarmos juntos. Meu lado racional ainda falava mais alto e me ajudava a apagar qualquer besteira assim.
Apesar de querer se mostrar forte e durona, fui entrando no Mundo dela e descobrindo cada vez mais. Entendi que experiências ruins do passado criaram uma espécie de casca protetora e a tornaram uma pessoa fechada. Quantos segredos aqueles olhos azuis guardavam? Aquilo, de certa forma, foi me encantando. Mais e mais. Como uma água que não matava a sede, mas que parecia querer me afogar.
- Relacionamentos: Traços que predispõem à traição: Perfil dos indivíduos mais propensos à infidelidade
E então, depois de várias primeiras e únicas vezes, nossas conversas secretas na madrugada passaram a me incomodar. Eu queria falar com ela mais vezes ao dia, não apenas quando o namorado já estava dormindo. Um “oi” que fosse, mas não queria causar possíveis transtornos. Não queria que tivéssemos nos tornado duas pessoas que só se encontram nas sombras.
Veio o ciúme. E uma confusão de sentimentos me invadiu. Não tinha o direito de cobrar nada dela. Eu sabia dos riscos, mas mesmo assim acabei envolvido até o pescoço. Até o coração. E ela também. Seu relacionamento estava falido, indiscutivelmente. Sexo? Isso só existia comigo. Ela queria se libertar, mas não tinha coragem. Era pressão demais.
– Acho melhor a gente parar de se ver, para o nosso bem. Não está mais saudável. – disse um certo dia.
Eu já estava vulnerável demais e não enxergar futuro pra nós dois me fez tomar a decisão. Ela chorou copiosamente e se viu obrigada a concordar. Queria que tivéssemos nos conhecido num outro momento, noutras circunstâncias, mas sinto que a vida ainda nos reserva surpresas boas. “Somos tão jovens” diz a música que escolhemos para simbolizar o que vivemos.
E tenho certeza de que se for pra ser, será.
___
Originalmente Publicado em Gustavo Lacombe