Qual o certo: que ou quê? Ambos os termos têm usos diferentes a depender de sua classificação gramatical e posição na frase. Enquanto “que” é átono, “quê” é tônico. Continue a leitura para entender na prática essas diferenças!
Que ou quê?
Os dois termos são gramaticalmente corretos. O termo “que” pode ser classificado como conjunção, pronome, advérbio, partícula expletiva, e preposição. Já “quê”, além de ser utilizado somente em final de oração, também pode ser classificado como substantivo ou interjeição. Sendo assim, as duas formas estão certas, mas possuem contextos de usos diferentes.
Resumo sobre “que” e “quê”
- “Que” e “quê” são termos que estão certos, mas têm aplicações distintas;
- “Que” é um monossílabo átono, podendo ser pronunciado como [ki];
- “Quê” é um monossílabo tônico, motivo pelo qual possui o acento que marca o som de [ke];
- “Que” pode desempenhar os papéis de pronome, conjunção, advérbio, partícula expletiva ou de realce, e preposição;
- “Quê” ocorre principalmente no final das orações, e ainda é empregado como interjeição ou substantivo.
Qual a diferença entre “que” e “quê”?
Com base na palavra “que” podemos perceber que o português é uma língua muito versátil e rica. Isso porque ela possui diversas classificações e desempenha várias funções dependendo do contexto, de sua posição na frase e do item ao qual se refere.
Existem duas versões da palavra “que”: a tônica (quê) e a átona (que). A primeira é utilizada em casos bem específicos. O termo “que” é um monossílabo átono porque, em muitos momentos, soa como [ki]. Em contrapartida, “quê” sempre é pronunciado como [ke], o que o torna um monossílabo tônico. Para facilitar o entendimento, observe os exemplos a seguir:
- Você está pensando em quê? | [ke];
- Ela tem esse quê de ternura. | [ke];
- Que lindo o seu filho! Cresceu tão rápido. | [ki];
- É necessário que todos sejam devidamente recompensados. | [ki];
- Ainda há muito que se esclarecer. | [ki]
Entre as inúmeras possibilidades, o “que” pode introduzir um questionamento, retomar um termo mencionado anteriormente, ligar informações de orações distintas, realçar um enunciado ou intensificar uma característica.
Dessa forma, o termo “que” pode ser classificado como conjunção (coordenativa ou subordinativa), pronome (indefinido, interrogativo e relativo), preposição, partícula expletiva (ou de realce), e advérbio de intensidade.
A palavra “quê” (a forma tônica de “que”) pode ser usada para exprimir admiração ou espanto, para substituir termos como “alguma coisa”, bem como em finais de frases. Portanto, “quê” pode ser classificado como substantivo masculino ou interjeição.
Quando se utiliza o “que”?
O termo “que” é usado nos enunciados como advérbio, conjunção, preposição, pronome e partícula expletiva.
Uso do “que” como advérbio
No papel de advérbio, “que” intensifica o sentido do advérbio ou adjetivo. Veja os exemplos:
- Que linda a sua jaqueta! Onde comprou?
- Que longe aquela cidade! Na próxima vez, viajaremos para Paraty.
- Que calor! Parece que tem um Sol para cada.
Uso do “que” como conjunção
No papel de conjunção, “que” pode unir tanto orações coordenadas (independentes) como orações subordinadas (dependentes). Veja os exemplos:
- Velha que sou, só vou a festas se houver lugares para sentar. (causa);
- Choveu tanto que alagou o bairro todo. (consequência);
- Que eu saiba, eles se mudaram bem antes de a bebê nascer. (conformidade);
- Espere que a enfermeira já vai buscá-lo. (explicação);
- A felicidade é mais importante [do] que o dinheiro. (comparação);
- Dize-me com quem andas, que te direi quem és. (adição);
- Insistimos [para] que nos diga toda a verdade. (finalidade).
Uso do “que” como pronome
No papel de pronome, “que” pode ser interrogativo, sendo empregado em perguntas diretas ou indiretas semelhantemente a “qual” ou “qual coisa”; indefinido, sendo acompanhado de um substantivo e, às vezes, equivalendo a “quanto(a)”; e relativo, sendo utilizado de maneira a retomar um elemento da oração anterior, assim como “o(a) qual” e as demais flexões do termo.
Veja os exemplos a seguir:
- Que projeto incrível! Mereceu o primeiro lugar. (pronome indefinido);
- O que houve com a Magda? (pronome interrogativo);
- Que decisão vocês tomaram? (pronome interrogativo);
- Que raiva! (pronome indefinido);
- Os países que aderiram ao Programa assinarão um pacto mundial. (pronome relativo);
- Este é o livro de que falamos ontem. (pronome relativo).
Uso do “que” como preposição
No papel de preposição, “que” liga dois verbos que compõem uma locução verbal. Veja os exemplos:
- Pelo visto, há muito que se fazer nessa cidade. (Pelo visto, há muito a/para se fazer nessa cidade.);
- Temos que ser fortes. (Temos de ser fortes.);
- Há que se fazer uma nova proposta. (Há de se fazer uma nova proposta.).
Uso do “que” como partícula expletiva ou de realce
No papel de partícula expletiva, é usado como força expressiva, apenas para dar realce, podendo também assumir a forma “é que”. Veja os exemplos:
- Eu segui o combinado. Eles que se confundiram com o prazo. (Eles se confundiram com o prazo.);
- Quase que perdemos o ônibus! (Quase perdemos o ônibus!);
- Por essas e outras, é que eu nunca empresto dinheiro. (Por essas e outras, eu nunca empresto dinheiro.)
Uso do “quê” como substantivo
Como substantivo, pode flexionar em número (quê; quês), vem sempre acompanhado de um determinante (a exemplo de um artigo, uma preposição ou um pronome), e seu sentido é similar ao do termo “alguma coisa”. Veja os exemplos:
- Percebi em seus olhos um quê de maldade que me arrepiou a espinha;
- Ele tem esse quê de mistério que desperta a curiosidade das pessoas;
- Roupas de linho possuem um quê de elegância. Tenho várias;
- Todos passarão por uma situação assim algum dia. Faz parte dos quês da vida.
Quando se usa o “quê”?
O termo “quê” é utilizado em interjeições, em situações nas quais se apresenta como substantivo masculino ou em finais de frases, interrogativas ou não.
Uso do “quê” como interjeição
Como interjeição, “quê” indica espanto, surpresa, admiração, raiva etc., e vem sempre seguido de ponto exclamativo. Veja os exemplos:
- Quê! Não acredito que disseram isso. E o que você respondeu?
- Quê! Você nunca viu esse filme? Mas é um clássico!
- Quê! Como assim você não gosta de gatos? Eles são tão dóceis…
- Quê!? Estou chocado com essa notícia.
Uso do “quê” no fim de frase
Como último item da frase, “quê” pode ser seguido de ponto interrogativo, de ponto exclamativo ou de ponto-final. Veja os exemplos:
- Ele pediu o carro emprestado não sei para quê. Acho que foi à praia com as crianças;
- O bolo está delicioso! Esse recheio foi feito de quê?;
- Meu amigo, insistir para quê? Ela já te disse que não quer mais.
- — A Letícia não veio por quê?
É necessário ter atenção quanto às reticências, pois elas nem sempre marcam o fim de uma frase. Às vezes, são apenas uma pausa que ocorre no meio do enunciado, como neste caso:
- Ela disse que… Que não retornaria mais.
Importante: note que, nos exemplos anteriores, também fica clara a razão de existirem as formas “porquê” e “por quê”, com o acento tônico. No caso dos “porquês”, aplica-se a mesma regra de acentuação: “porquê” é usado como substantivo, em substituição ao termo “motivo”; e “por quê” é empregado no fim das orações, antes do ponto final ou de interrogação, em substituição a “por qual motivo”. Exemplos:
- Eles modificaram o projeto não sei por quê;
- Não se sabe o porquê da mudança repentina;
- É importante refletir sobre os porquês da vida;
- Está animado por quê?
Como fazer o uso correto dos quatro porquês?
Para fazer o uso correto dos quatro porquês – “porque”, “por que”, “porquê” e “por quê” – é importante entender a função de cada um:
- “Porque”: É uma conjunção causal, usada para explicar uma razão ou causa. Pode ser substituída por “pois” ou “uma vez que”.
Exemplo: Eu não fui à festa porque estava doente.
- “Por que”: É uma combinação da preposição “por” com o pronome interrogativo “que”. É usado em perguntas diretas ou indiretas.
Exemplo direto: Por que você está triste?
Exemplo indireto: Não sei por que ele se atrasou.
- “Porquê”: É um substantivo, equivalente a motivo, razão. Geralmente aparece no final de uma frase ou acompanhado de um determinante.
Exemplo: Não entendi o porquê de sua reação.
- “Por quê”: É a combinação do pronome interrogativo “que” com a preposição “por”, usado no final de uma frase interrogativa.
Exemplo: Você está cansado, por quê?
Lembrando que “por que” e “por quê” podem levar acento quando estiverem no final de uma frase, dependendo do contexto da pergunta.
Exercícios resolvidos sobre “que” e “quê”
Questão 1
Marque a alternativa INCORRETA quanto ao uso de “que” ou “quê”.
A) — Muito obrigado! — Não há de quê.
B) Esse instrumento serve para que? Medir a temperatura do ambiente?
C) O quê?! Eles fizeram isso mesmo?
D) É possível que os resultados cresçam ainda mais no semestre que vem.
Resolução:
Alternativa B
Em fim de frase, usa-se a forma tônica “quê”.
Questão 2
Preencha as lacunas das citações com as formas corretas de “que” e “quê”.
A) “Não é o primeiro ____ me promete alguma coisa, replicou, e não sei se será o último ____ não me fará nada. E para ____? Eu nada peço, a não ser dinheiro […].” (Machado de Assis)
B) “____ lembrança darei ao país ____ me deu tudo ____ lembro e sei, tudo quanto senti?” (Carlos Drummond de Andrade)
C) “Liberdade é pouco. O ____ desejo ainda não tem nome.” (Clarice Lispector)
D) “Como tudo, as palavras têm os seus ____, os seus comos e os seus por____.” (José Saramago)
Resolução:
A) que – que – quê
B) Que – que – que
C) que
D) quês – [por]quês
Dúvidas frequentes
Quando se usa “porquê”, “por que”, “porquê” e “por quê”?
“Porquê” é um substantivo e significa motivo ou razão.”Por que” é usado em perguntas diretas ou indiretas. “Porquê” é usado quando é necessário um substantivo. “Por quê” é usado no final de uma frase interrogativa.
Qual é a grafia correta: “concerteza” ou “com certeza”?
A grafia correta é “com certeza”.
Como se escreve corretamente: “à-toa” ou “a toa”?
A forma correta é “à-toa”, com o uso do acento indicativo de crase.
Qual é a diferença entre “mas” e “mais”?
“Mas” é uma conjunção adversativa, indicando oposição ou contraste. “Mais” é um advérbio de intensidade, indicando quantidade maior.
“De repente” ou “derrepente”? Qual é a forma correta?
A forma correta é “de repente”.
Quando usar “sobretudo” e “sobre tudo”?
“Sobretudo” é uma locução adverbial que significa principalmente ou principalmente. “Sobre tudo” não é uma forma correta.
Qual é a forma correta: “asseito” ou “aceito”?
A forma correta é “aceito”.
Esperamos que o texto tenha te ajudado a entender melhor a diferença ortográfica entre “que” e “quê” dentre outras questões.
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