Às vezes, parece que você não se importa com ela”, um amigo me falou após eu ter declarado que não fazia a mínima questão de saber onde e com quem a minha namorada estava prestes a sair naquela noite enluarada.
Meu amigo é do tipo que, à noiva, sempre pergunta: “Aonde você vai?”, “Quem tá aí?” e “Já está voltando?”. Eu já fui como ele, não nego, mas mudei: atualmente, não passo do “Cuide-se” e do “Por favor, não pegue carona com gente imprudente que bebe e depois dirige. Promete?”. E quer saber? A cada novo nascer do Sol, eu fico mais convicto de que evitar interrogatórios – que exalam desconfiança e vontade de ser dono (coisa que nunca serei) – é uma eficiente e bonita maneira de dizer “Eu me importo com você e com seu indestrutível direito à liberdade”.
Algumas pessoas se enganam a ponto de acharem que o “Aonde você vai?” dito por elas é filho legítimo do zelo e da preocupação. Mas não é: na maioria dos casos, o “Aonde você vai?” é fruto da incapacidade de domar o ciúme e reflexo de uma possessividade atômica, e nem preciso fazer exame de DNA pra saber: a resposta “Minha ex-namorada estará lá” costuma incomodar mais do que “Vou a um bairro perigoso num carro sem freio guiado por um bêbado”, o que já é mais do que suficiente para provar o que é filho do quê.
Ainda não entendeu o meu ponto? Vou usar uma analogia mais simples: a frase “Aonde você vai?”, dependendo da maneira que é dita, torna-se um potente desestimulante e um afiadíssimo podador de asas, pois é capaz de fazer com que alguém desista de sair, por exemplo. Ou não é? Sendo assim, a frase “Aonde você vai?” – assim como outras do tipo – pode ser considerada uma gaiola; e gaiolas, por motivos pra lá de óbvios, não são dadas aos pássaros com os quais nos importamos. Certo? Se um beija-flor (ou alguém que consegue beijar sua alma) começar a lhe fazer visitas, ofereça-lhe gostosuras, abrigo para dia de céu preto e razões para novas aparições, e jamais – você sabe o significado da palavra “jamais”, não sabe? – ameace prendê-lo ou impedi-lo de planar solto por aí. Compreendeu agora a comparação ou quer que eu desenhe pro cê?
Em vez de dizer um “Quem tá aí?” em tom rude e controlador – que a fará se sentir insegura e incomodada na próxima vez em que cogitar sair sem mim -, eu prefiro o tradicional e sincero “Divirta-se!” que, a meu ver, é um baita motivo para que minha namorada queira ficar comigo por mais muitas primaveras e temporadas de Better Call Saul; e uma puta razão para que ela, nas vezes em que eu não a acompanho nas madrugadas de boemia, volte pra casa com muita vontade de me acordar com beijos sabor cachaça e olhos irritados que pedem: “Cozinha algo para matar minha larica etílica?”.
Antigamente – em algum lugar entre a minha adolescência acnéica e a vida séria que levo hoje -, eu fazia cara feia se a minha namorada, por acaso ou tequila no gargalo, voltasse bêbada pra casa. Hoje, quando isso acontece, eu faço questão de fazer macarrão (e não estou falando de Miojo ou lasanha congelada) e de tirar sarro da voz “fofa” que ela fica após múltiplas saideiras. Porque quando eu realmente me importo com alguém, eu faço o possível para que essa pessoa se sinta incentivada a permanecer em minha companhia; para que ela perceba o quanto eu me esforço, de diversas maneiras – engolindo o ciúme e a vontade de ultrapassar meus direitos de namorado, inclusive -, para fazer com que ela enxergue, em mim, um lugar no qual vale a pena permanecer, faça chuva ou faça sol, faça tempo de edredom grosso ou brisa quente que pede só lençol.
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Eu me importo com ela, portanto, em vez de perguntas-algemas e afirmações-bigornas, incentivo-a a voar por meio de sinceros “Aproveite a companhia das suas amigas” e “Só pare de dançar quando o salto quinze virar sapatilha”. E assim, lá pelas três da madrugada, após segurar a respiração ao girar a chave e entrar pisando leve pra não me acordar, ela sempre dá um sorriso franco ao me flagrar dormindo. Fingindo dormir, na verdade, porque eu só consigo repousar tranquilo quando ela chega. Afinal, a violência – assim como a importância que dou a ela – não para de crescer.
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Por: Ricardo Coiro – Via: Superela – (Superela é uma plataforma capaz de fazer as mulheres mais felizes, tudo de especial sobre Amor, Sexo, Vida, Beleza e Estilo! Mais textos incríveis em: Superela.com)