Você já conhece a Fé Bahá’i, religião que prega que a Terra é um só país e os seres humanos seus cidadãos? Frase proclamada por Mirzá Husayn-’Ali (1817 – 1892), mais conhecido como Bahá’u’lláh. Ele foi o responsável por fundar a crença em meados de 1844, na Pérsia Cajar (atual Irã).
A Fé Bahá’í
Está baseada em princípios da unicidade, negando a segmentação, divisão e a cisão. Só no Brasil, mais de 200 cidades possuem adeptos do bahaísmo. De acordo com os líderes da igreja no país, o território nacional conta com aproximadamente 30 mil participantes.
A instituição contabiliza 90 mil fiéis, contando com o primeiro grupo que chegou ao Brasil, no século passado. Representantes da comunidade em solo brasileiro alegam que a Fé Bahá’í é uma religião mundial e independente.
O princípio fundamental por trás dos ensinamentos é a unidade na diversidade, partindo de três pilares: unicidade de Deus, da humanidade e das religiões. Relatos de fiéis apontam que Bahá’u’lláh, da forma como o fundador Husayn-’Ali adotou como identidade, é um título que foi assumido por quem se considerava mensageiro de Deus.
Significado
Em árabe, Bahá’u’lláh significa “a glória de Deus”. Os restos mortais do fundador estão localizados em em Bahjí, próximo à Akká, Israel, um lugar de peregrinação para os bahá’ís. Eles reconhecem que Deus é um só, e que todas as religiões, além de verdadeiras, são complementares umas às outras, oriundas da mesma essência divina.
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A humanidade também é vista como uma grande e única família humana, totalmente interdependente e interconectada. Bahá’u’lláh acreditava que a ideia de unicidade sempre foi um elemento pertencente à natureza humana.
No dia 16 de outubro de 2023, ocorreu uma sessão solene na Câmara dos Deputados, em Brasília, em homenagem ao centenário da comunidade da Fé Bahá’í. A ocasião foi requerida pelos parlamentares petistas Zeca Dirceu e Luiz Couto.
O momento foi transmitido ao vivo pela TV Câmara e também pelo canal da casa parlamentar no Youtube, durante 1 hora e 45 minutos. A homenagem foi uma maneira de refletir o quanto as pessoas que seguem a crença são diversas, alegres e desejam servir ao país, acreditando fielmente no potencial do próprio povo. A comunidade busca celebrar o passado com os corações repletos de esperança em um futuro promissor.
100 anos
O marco em comemoração aos 100 anos aconteceu em 2021. No entanto, por conta da pandemia de Covid-19, a celebração oficial precisou ser adiada. A primeira bahá’i a aterrisar em território nacional foi a escritora norte-americana Martha Root (1872 – 1939).
Ela viajava mundo afora com o intuito de levar os princípios da crença, estando inclusive em algumas cidades sul-americanas em meados de 1919. Contudo, foi somente em 1921 que a Fé Bahá’í se consolidou no Brasil, com a chegada da pioneira, Leonora Armstrong (1895 – 1980), à época com 25 anos de vida.
Armstrong foi professora de latim em colégios e ficou sabendo da viagem de Root até o Brasil. Isso teria soado como um incentivo ao seu desejo de também professar a fé. Por esse motivo, é considerada até hoje como a mãe espiritual dos bahá’ís da América Latina.
Democracia sem sacerdotes
A Fé Bahá’í se estabelece hierarquicamente por meio de uma ordem administrativa que é formada por instituições, compostas por cerca de nove bahá’ís eleitos pela comunidade. A crença não possui clero. Vale ressaltar que a eleição dessas nove pessoas é conduzida por um processo eleitoral sagrado, em votação secreta, de natureza espiritual.
Além disso, não há candidatura. Os bahá’ís que são maiores de 21 anos se tornam elegíveis por pessoas maiores de 18 anos. Já em caráter administrativo, os membros das instituições não possuem quaisquer privilégios ou status.
O diferencial é que a autoridade recai sobre as instituições. Portanto, somente elas podem guiar os indivíduos e administrar assuntos de caráter material e espiritual das comunidades bahá’ís. Já no âmbito pontual, o qual inclui uma cidade, as instituições são denominadas de Assembléia Espiritual Local. Se tratando do país, há a Assembléia Espiritual Nacional. A sede fica localizada no Centro Mundial Bahá´’i, em Haifa, Israel. No nível global, a Casa Universal de Justiça atua como o órgão máximo da Fé Bahá’í”.
A nível Brasil, temos atualmente 74 assembleias locais. A sede nacional fica em Brasília e também existem sete conselhos regionais, presentes em todas as regiões do país. As instituições funcionam graças às orientações da unidade e ao princípio da consulta, que consiste em um mecanismo de investigação coletiva da realidade. O propósito principal é encontrar verdade e clareza para se alcançar a decisão mais acertada possível.
A participação nesse cenário é crucial, já que espaços de consulta são criados para que os indivíduos, instituições e a comunidade possam encontrar soluções, por meio de apoio mútuo e cooperação, refletir sobre sua realidade e identificar desafios.
Importante frisar que os bahá’ís não aderem a rituais coletivos, pois acreditam que estes são linguagens que conseguem separar as pessoas. As reuniões são realizadas de formas distintas por cada comunidade, obedecendo a uma organização em três partes: a social, espiritual e administrativa.
Antes dos encontros acontecerem, os fiéis lavam o rosto e as mãos. Há o incentivo de leitura de textos sagrados e as orações podem ser escolhidas pelos participantes. Os escritos não tratam apenas da
Fé Bahá’í, como os livros de Bahá’u’lláh, mas também trechos da Bíblia e do Alcorão.
Já a seção administrativa se encarrega das atividades realizadas pela assembleia local, com compartilhamento de resultados e avaliação dos projetos. Se tratando da parte social, uma pequena confraternização sela e finaliza o encontro.
Um messias para todas as crenças
Bahá’u’lláh foi criado seguindo os preceitos do islamismo. Quando o religioso tinha 28 anos, resolveu aderir à Fé Babi, religião criada por um jovem muçulmano que se proclamou “o prometido”. Os praticantes dessa religião foram duramente perseguidos pelo governo da época, culminando na prisão de Bahá’u’lláh, que acabou encarcerado duas vezes. As profecias propagadas por essa corrente havia a previsão de que um dia haveria um “mensageiro de Deus”.
Quando estava preso pela segunda vez, em 1844, ele teve uma visão com uma donzela enviada por Deus que lhe dava a missão de ser o tão aguardado mensageiro. Foi naquele momento que nasceu a Fé Bahá’í.
Bahá’u’lláh foi classificado como o “prometido” de todas as religiões ao redor do mundo, sendo uma espécie de coletivo de messias em uma só pessoa. Em todos os trechos escritos, ele cita profecias do cristianismo, judaísmo, zoroastrismo, do islã sunita, xiita e da Fé Babi, colocando-se como o enviado.
De acordo com uma explicação feita pelo historiador e teólogo Gerson Leite de Moraes, professor na Universidade Presbiteriana Mackenzie, o bahaísmo é proveniente de uma forte crença entre os maometanos persas de que o último e verdadeiro sucessor de Maomé (571 – 632), o criador do islã, desaparecido no século 10, nunca partiu, mas segue vivo em uma cidade misteriosa, cercado de fiéis, e que no final dos tempos há de aparecer enchendo a terra de justiça.
Moraes acrescenta que o sucessor oculto revela-se em intervalos de tempo aos que esclarecem sua vontade. Essas pessoas são as portas responsáveis pela renovação da comunicação entre o que está escondido e os seus seguidores fiéis.
O último seria um jovem mercador persa chamado Mullá Husayn (1813-1849). Frequentemente ele mencionava um profeta divino que o sucederia. Bahá’u’lláh acreditou ser justamente essa figura.
Após a sua morte, em 1892, o comando da fé foi passado ao seu filho mais velho. De acordo com Moraes, o grande responsável por disseminar o bahaísmo no mundo inteiro foi o próprio ‘Abdu’l-Bahá (1844-1921).
O homem transformou-se em um intérprete fidedigno do pai. Ele visitou os Estados Unidos em 1912, e ali, em Chicago, conquistou seus primeiros discípulos. O grupo cresceu e adquiriu consistência o bastante para se espalhar por inúmeras nações.
O enredo por trás da religião, que por sinal é muito nova, se pauta no imaginário coletivo. Por isso, os fiéis vincularam a Fé Bahá’í em uma narrativa envolvendo um passado histórico, representado pela história do seguidor de Maomé que desapareceu no século 10.
Porém, a doutrina segue uma lógica contemporânea, cercada pela preocupação de encarar a humanidade como um único povo, sem fronteiras, e repleta de princípios democráticos. Acredita-se que os adeptos ao bahaísmo sejam o grupo religioso mais adaptado ao temperamento dos dias atuais.
Enquanto algumas religiões existem para negar a fé dos demais segmentos, se colocando como únicos arautos da verdade, a premissa da Fé’Bahá’í procura se unir em respeito a todas as manifestações de liderança de várias religiões do mundo.
A fé admite a divindade do messias de cada uma das religiões existentes, mas não reivindica o posto de maior divindade ao profeta que os rege, o Bahá’u’lláh. A mensagem apenas descreve que ele trouxe consigo o recado da fonte divina a todos os povos do mundo.
Os adeptos à crença acreditam que cada pessoa tem liberdade de buscar pela sua verdade. Abominam todos os preconceitos e preceitos envolvendo cor, religião, nacionalidade, orientação sexual e classe social.
O principal objetivo dos bahá’ís é contribuir para o desenvolvimento humano, tendo em vista que os desafios sociais e as questões do cotidiano influenciam negativamente o progresso e desenvolvimento da sociedade, adoecendo toda a humanidade. O fato bloqueia o estabelecimento da unidade, já que tal elemento é possível apenas se houver justiça.
Essência do bahaísmo
Os ensinamentos bahá’ís possuem princípios sociais os quais respondem às necessidades primordiais da sociedade, como remédios para superar os males sociais. Alguns desses princípios envolvem: igualdade de direitos e oportunidades entre homens e mulheres; eliminação de todos os tipos de preconceito; busca pela verdade; harmonia entre religião e ciência; educação compulsória e universal; eliminação dos extremos de pobreza e riqueza; e uma língua auxiliar universal.
Os dois pilares principais do bahaísmo consistem na fraternidade e na união, duas coisas importantes para nortear o mundo. A religião vai de encontro ao que se busca como fonte de vida, já que ninguém é contra a paz.
Porém, alguns grupos cristãos não enxergam de maneira positiva a Fé Bahá’í, classificando-a como oportunista, alegando que tentam ocupar o lugar de Jesus Cristo, dizendo para os cristãos que a mensagem deles está ultrapassada.
Você já tinha ouvido falar da Fé Bahá’í?
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