É comum no cotidiano dos nossos afazeres ouvirmos comentários como alguns do tipo “Você viu a cara com que ele estava hoje? Nem parece que trabalha com a gente…” ou “Nossa, que jeito de dar bom dia aos conhecidos…”. Também a famosa frase “Eita ! Já sei de cor e salteado… novamente o mesmo blá, blá, blá!”.
Em meio a sua sociedade pautada pelo volume exagerado de dados, informação e mensagens, estranhamente vivemos em um mundo em que as mensagens e recados crescem assustadoramente (quem já não recebeu mais de 50 mensagens de WhatsApp num só dia?) e as oportunidades de diálogo e de uma conversa mais equilibrada diminuem gradativamente?
Acabamos por desenvolver uma mentalidade e uma postura do imediato, da superficialidade. Tudo é feito com pressa para que a gente consiga dar conta do recado e assim ter tempo para fazer outras e muitas coisas. No final do dia, da semana e do mês, estamos exaustos.
O ritmo frenético do estilo de vida que escolhemos nos induz a fazer as coisas mecanicamente, muitas vezes sem a consciência necessária ou a atenção devida. Nós nos “pré-ocupamos” ao invés de nos “ocuparmos” com o que realmente importa. Com isso, em quase todas as nossas vivências, acabamos por confundir os fatos com as interpretações que fazemos deles.
Mas o que é um fato? A palavra possui uma origem latina. Ela é proveniente do verbo facere, ou seja, fazer. Factum em latim pode ser traduzido como “algo que foi feito, um acontecimento”. Sabemos que muitos acontecimentos ocorridos em nossas vidas nem sempre dependem de nós. Temos inúmeras situações para ilustrar isso: as condições climáticas que mudam bruscamente, um imprevisto que nos atrasa de maneira surpreendente, uma mudança de rumos na empresa, no relacionamento, no trabalho ou na universidade, o cancelamento do voo com a inevitável mudança de planos…
Em muitas circunstâncias, é claro que as nossas atitudes, as nossas omissões e as nossas limitações também incidem em resultados indesejados, mas precisamos ter a maturidade em admitir que nem tudo depende de nós. É sugestiva inclusiva, aquela oração da Sabedoria disposta nas salas de reunião dos participantes dos Alcoólicos Anônimos (A.A.):
“Concedei-nos, Senhor, a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar, Coragem para modificar aquelas que podemos, e Sabedoria para distinguir umas das outras”
Um ponto importante deste artigo aponta para o seguinte princípio: nem sempre o fato ocorrido é que determina os desdobramentos do quem em seguida. Quase sempre são as interpretações que fazemos do fato que comprometem a solução do problema, não é verdade?
A interpretação significa o meu entendimento a respeito do ocorrido. Ela é subjetiva, pessoal e representa o conjunto de emoções, ideias, sentimentos, valores e compreensão devida do que ocorreu. Vamos dar alguns exemplos: um funcionário na empresa em que você trabalha chega e mal dá o tradicional “bom dia” aos colegas. Isto é um fato que não dependeu do grupo. Aí alguém diz: “Tá vendo, o cara já chega de mal humor”. Isto é uma interpretação. A pessoa imagina que o fato de alguém estar em silêncio significa necessariamente que o colega esteja de mal humor.
Outro exemplo: uma colega da faculdade é uma pessoa extrovertida, de bem com a vida. Muitos já questionam a moral da jovem em relação à sua conduta sexual. Fato: extroversão de uma pessoa. Interpretação: julgamento deste tipo de comportamento.
As interpretações são inevitáveis. Em alguns casos elas são até necessárias para que eu possa compreender o contexto, a situação ou a conjuntura do que me cerca. Mas, por outro lado percebemos de maneira iniludível que muitas interpretações estão recheadas de preconceitos, falsos entendimentos e até mesmo ignorância do assunto ou desconhecimento da pessoa.
Para concluir, convido o visitante deste site a fazer uma análise de si próprio, das suas conversas, seus preconceitos e seus medos. A vida é um dom extraordinário e se ainda estamos neste planeta, é porque ainda temos muito o que construir, aproveitar, crescer, evoluir. Que os fatos sejam muitos e as interpretações sejam poucas, mas bem produtivas.
Deixo algumas questões para a sua meditação.
PROPÓSITO DE VIDA
1) Eu costumo julgar de maneira precipitada as pessoas, situações e acontecimentos?
2) Procuro separar o que de fato aconteceu e o que me disseram a respeito desta acontecimento?
3) Tenho preconceito de alguma espécie? O que tenho feito para superar isso?
4) Pratico o exercício de me colocar no lugar do outro para tentar entender as suas atitudes?
5) Tento não me deixar ser influenciado por comentários maldosos de outras pessoas que buscam desestabilizar, confundir e destruir a harmonia nos relacionamentos?
Invista em você: reserve algum momento antes de se deitar e pense em como você tem conduzido a sua vida.
Um abraço e fique na Luz.
Luiz Felippe Matta Ramos