O australiano James Harrison dedicou 60 anos à doação de sangue.
No entanto, em contraste com a maioria dos doadores, seu sangue contém um anticorpo fundamental no tratamento que desempenha um papel vital na salvação de vidas, conhecido como Anti-D. Este componente é essencial para o tratamento de mães cujo sangue pode representar uma ameaça para os fetos.
Reconhecido como o “homem do braço de ouro”, estima-se que ele tenha realizado mais de mil doações de sangue. De acordo com o Serviço de Sangue da Cruz Vermelha da Austrália, suas doações contribuíram para salvar a vida de mais de 2,4 milhões de bebês australianos.
A história do ‘homem do braço de ouro’
O início de sua jornada. Aos 14 anos, James enfrentou uma cirurgia delicada que o obrigou a receber transfusões de sangue para sua sobrevivência. Esse evento o sensibilizou para a importância da doação, e, apesar de seu receio em relação a agulhas, ele iniciou suas doações de sangue logo após completar 18 anos.
A revelação ocorreu anos depois. Com o passar do tempo, ficou evidente que seu sangue apresentava altas concentrações de um anticorpo essencial para a produção de Anti-D.
Um tratamento destinado a mulheres grávidas. A imunoglobulina Anti-D é produzida a partir do plasma de doadores, como James, e foi criada com o propósito de auxiliar gestantes que enfrentam a doença de Rhesus, também conhecida como eritroblastose fetal.
- Bem-Estar e Saúde: Neurocientista alerta sobre 3 bebidas que podem envelhecer sua pele (uma delas é surpreendente)
![O que é "sangue dourado", que levou um homem a salvar mais de 2 milhões de bebês?](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/10/Screenshot_1037.jpg.webp)
O tratamento tem o objetivo de prevenir a Doença Hemolítica Perinatal (DHPN), uma condição que pode resultar em anemia, aumento do tamanho do fígado e do baço, danos cerebrais, insuficiência cardíaca e, em casos graves, até mesmo o óbito de recém-nascidos.
Doação contínua. Assim, ele começou a fazer doações de plasma sanguíneo com o objetivo de auxiliar o maior número de indivíduos possível.
Embora os médicos não possam precisar a razão pela qual James possui esse tipo sanguíneo raro, há a suposição de que possa estar relacionado às transfusões que ele recebeu aos 14 anos, após sua cirurgia, conforme reportado pela CNN norte-americana.
Ele encerrou suas doações em 2018.
“É um dia triste para mim” compartilhou com o jornal australiano The Sydney Morning Herald em sua última doação de sangue.
‘Sangue dourado’
Tipo sanguíneo extraordinariamente raro. Cientificamente denominado Rh nulo (Rhesus null), o tipo sanguíneo de James também é popularmente conhecido como “sangue dourado” devido à sua extrema raridade. Conforme um artigo divulgado na Biblioteca Nacional de Medicina (National Library of Medicine, ou NLM na sigla em inglês), a ocorrência desse grupo sanguíneo é estimada em aproximadamente 1 indivíduo a cada 6 milhões.
Deficiente em antígenos. Este tipo sanguíneo é caracterizado pela total ausência ou quase completa ausência de antígenos pertencentes ao sistema Rh (fator Rh) na superfície das hemácias do sangue. As hemácias são células sanguíneas revestidas por proteínas denominadas antígenos, e a presença ou ausência de antígenos específicos determina o tipo sanguíneo. Por exemplo, o tipo A possui exclusivamente antígenos A, o tipo B apresenta apenas antígenos B, o tipo AB contém ambos e o tipo O não possui nem A nem B.
No final das contas, é bom ou ruim? O sangue Rh nulo não gera problemas de saúde em si, mas pode apresentar desafios quando se trata de transfusões sanguíneas, já que é compatível apenas com outros indivíduos que têm o mesmo tipo de sangue Rh nulo.
Consequentemente, encontrar um doador adequado para uma transfusão pode ser uma tarefa incrivelmente complexa.
- Bem-Estar e Saúde: Médico morre no RS: qualquer pessoa pode ter um mal súbito, independentemente da idade?
Descoberto na década de 1960. De acordo com as informações fornecidas pela pesquisadora Penny Bailey ao Mosaic, um site especializado em pesquisa biomédica, a identificação inicial deste tipo sanguíneo ocorreu em 1961, quando uma mulher australiana também foi diagnosticada com ele.
Doença pode causar morte de fetos
Incompatibilidade no sangue. A condição conhecida como doença de Rhesus, ou eritroblastose fetal, é uma condição hemolítica desencadeada pela incompatibilidade do fator Rh no sangue entre a mãe e o bebê.
Essa situação ocorre quando uma mãe com sangue Rh negativo concebe e dá à luz um bebê com sangue Rh positivo, herdado do pai.
Pode causar morte. Nestas circunstâncias, a mãe gera anticorpos anti-Rh que buscam eliminar o antígeno Rh do feto, visto como um “invasor”.
Em gestações subsequentes, esses anticorpos já existentes na corrente sanguínea podem atacar o feto com Rh positivo, levando à destruição de suas hemácias (glóbulos vermelhos do sangue).
Nas situações mais graves, isso pode culminar em danos cerebrais ou até mesmo na morte dos bebês.
Portanto, a produção do anti-D impede que as mulheres gerem esses anticorpos durante a gravidez. Segundo a CNN, a própria filha de Harrison também foi beneficiada com o tratamento.