Um dia, um senhor aparentando uns 60 anos começou a falar de uma namorada da adolescência, e não demorou muito, já estava com os olhos marejados.
Às vezes, eu me pergunto se existem casais que têm a dádiva de viver um amor que seja, ao mesmo tempo, intenso e saudável. Converso com muitas pessoas, nas mais variadas faixas etárias, é muito comum elas me falarem de um amor que marcou, mas não emplacou.
São pessoas que seguiram suas vidas carregando a seguinte interrogação: “Como seria a minha vida, se aquela pessoa estivesse aqui comigo?”
Um dia, um senhor aparentando uns 60 anos começou a falar de uma namorada da adolescência, e não demorou muito, já estava com os olhos marejados. Era um mecânico que estava arrumando o meu carro. Em seguida, a esposa dele entrou pelo portão com algumas sacolas nas mãos, vinha do mercado, com três netos deles. Ele me olhou com um misto de vergonha e culpa.
Eu conheço pessoas que se casaram, constituíram famílias, mas não possuem uma conexão verdadeira com o parceiro.
Existe respeito, companheirismo, responsabilidade, mas não existe brilho nos olhos de ambos. Não existe frio na barriga nem borboletas no estômago. Nunca existiu, nem no início do namoro.
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Uma mulher me disse que enxerga o marido dela como um sócio para dividir as despesas. Ela disse que sente falta de se sentir viva como mulher.
Eu fico imaginando a magnitude da sorte de quem divide a vida com uma grande paixão. Quando falo disso, muitos me censuram: “Ah, Ivonete, esse negócio de paixão não leva a lugar nenhum.” Mas eu sou intensa, então, valorizo pra caramba esse negócio de sentir o coração saindo pela boca.
Eu não sei por que os amores intensos quase não prosperam. Uma pena.
Você prova, se embriaga, se arrebenta, e acaba se contentando com beijos com sabor de isopor de outra boca, com uma aliança brilhando no dedo e os olhos opacos.
Direitos autorais da imagem de capa: Soroush Karimi/Unsplash.