Após dez anos da tragédia da Boate Kiss, entenda mais sobre o julgamento em os culpados.
Em 27 de janeiro de 2013, o incêndio na Boate Kiss, em Santa Maria (RS) matou 242 pessoas e deixou 636 feridas. No mês em que marca 10 anos da tragédia que abalou o Brasil, a Netflix lança a série “Todo Dia a Mesma Noite”, que trata sobre o acidente e a luta das famílias por Justiça.
A série foi inspirada no livro de mesmo nome, escrito por Daniela Arbex. Na época do incêndio, gerou-se uma grande mobilização para descobrir os verdadeiros culpados, tanto da polícia quanto dos pais das vítimas, que não queriam que as mortes dos mesmos ficassem impunes.
As investigações apontaram quatro pessoas como responsáveis pelo incidente, mas 10 anos após aquela noite, eles ainda não foram responsabilizados e condenados pelos crimes que cometeram.
A seguir, explicamos um pouco melhor o que aconteceu com os apontados como responsáveis pelo incidente.
![O que aconteceu com culpados do incêndio da Boate Kiss? Série sobre mostra falta de Justiça](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/01/Screenshot_46-3.jpg.webp)
Os dois primeiros apontados como culpados pelos investigadores foram Marcelo de Jesus dos Santos, integrante da Banda Gurizada Fandangueira, e Luciano Augusto Bonilha, produtor musical. Foram os dois que tomaram a decisão de acender o artifício pirotécnico próximo a um material inflamável, causando as chamas que ocasionaram o incêndio.
Quem também foi responsável pela tragédia, de acordo com a polícia, foram os empresários sócios da boate, Elissandro Callegaro Spohr, e Mauro Lodeiro Hoffmann. Aos olhos da Justiça, ambos tinham conhecimento de que havia um risco de morte no local, uma vez que sabiam que a banda usaria os artifícios durante a apresentação.
Além disso, eles também mantinham a Kiss aberta mesmo sem alvará de funcionamento, com profissionais sem treinamento e sem saídas de emergência. É válido ressaltar que na noite do incêndio a boate tinha ocupação maior do que sua capacidade e que os funcionários da casa haviam sido orientados a não permitir que nenhum cliente saísse de casa sem efetuar o pagamento.
Embora vários fatores indicassem que os quatro deveriam ser responsabilizados, o julgamento levou um bom tempo para acontecer. Ulysses Louzada, um dos juízes que trabalhou no caso, afirmou: “Não tem nenhum país do mundo que tenha tantos graus de jurisdição recursais”.
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Como os advogados dos réus pediam diversos recurso, o julgamento ficava cada vez mais longe, provocando uma ansiedade sem fim nos amigos e familiares pelas vítimas, que queriam Justiça pelas vidas perdidas.
As famílias das vítimas, inclusive, se reuniram logo após a tragédia e criaram uma associação para se manterem informados e lutar juntos para que os culpados pelo incêndio fossem responsabilizados. Mesmo com a demora, eles seguiram firmes em seu objetivo.
Por muitos anos, o sentimento de injustiça permaneceu vivo em seus corações, até que no final de 2021, o julgamento foi finalmente marcado. Com uma duração de seis dias, ouviu diversas testemunhas, inclusive de sobreviventes e ex-funcionários da Boate Kiss.
O veredito dado pelo juiz Orlando Faccini Neto foi de que os quatro réus eram culpados pelo incêndio, e cada um recebeu a sua pena. Elissandro recebeu 22 anos e seis meses, Mauro 19 anos e seis meses e os dois músicos 18 anos.
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Esse era o desfecho que as famílias tanto esperavam, mas o seu alívio infelizmente não durou por muito tempo. Apenas 8 meses após as condenações, o julgamento foi anulado pelo Tribunal de Justiça anulou o julgamento.
Os advogados dos réus apontaram falhas dos procedimentos formais, não sendo seguido um procedimento comum de julgamento. Essas manifestações fizeram com que o julgamento fosse anulado e os acusados tivessem que passar por um novo processo, para o qual ainda não há data prevista.
Orlando Faccini Neto se manifestou após a anulação, se desculpando caso tenha contribuído para essa reviravolta.
“O que eu posso assegurar é que atuei com todo vigor e com toda energia justamente para que isso não ocorresse. Jamais me preocupei se o resultado final do júri aludiria à condenação ou à absolvição de um ou mais dos réus, uma vez que são quatro acusados. O meu objetivo era que houvesse uma resposta, era que houvesse uma resposta. E se as instâncias superiores do judiciário entenderem que nessa minha atuação houve alguma contribuição para que essa demora se intensificasse, eu realmente só tenho que pedir desculpas”, afirmou o magistrado à RBS TV.