Um pequeno retalho dessa imensa colcha chamada maternidade.
Só tenha um filho se estiver disposta a se preparar para isso. Você terá no máximo nove meses para entender que não é mais dona nem do seu tempo nem das suas vontades.
Só tenha um filho se não tiver vergonha do seu corpo. Mães de verdade se orgulham da barriga, das estrias e acham lindo andar com as pernas entreabertas, procurando um epicentro para se equilibrar.
Só tenha um filho se tiver forças para abrir mão do sono – não por um ano, mas por toda a vida. Seja pela febre ou porque ele ainda não chegou em casa, você nunca mais vai dormir como antes.
Só tenha um filho se estiver pronta a receber ajuda, mesmo que seja de quem lhe dá palpites, lhe tira as certezas e lhe mostra o quanto você é inadequada. As mães de verdade aprendem a ser humildes pedindo e aceitando ajuda.
Só tenha um filho se souber assumir o seu papel sozinha quando a hora chegar. A ajuda nos primeiros dias, ou meses não te tira o dever de assumir a sua casa e de ser a principal referência de seu filho.
Só tenha um filho se você estiver pronta para abdicar de todas as prioridades na hora de comer, tomar banho, comprar roupas, sapatos. Você não terá mais horário fixo na manicure por algum tempo nem tampouco vai ler ou assistir a um filme na TV. Para ser bem sincera, você não vai nem folhear uma revista no banheiro.
Só tenha um filho se tiver paciência para segui-lo quando ele começar a andar e também para desistir de ir a restaurantes e a shoppings nesse tempo. Quando um filho começa a andar você experimenta uma sensação única de impotência e é tomada pelo instinto de não tirar os olhos dele. Piscar parece ser fatal.
Só tenha um filho se estiver disposta a dar a ele um ambiente familiar saudável. Não falo do estereótipo tradicional nos moldes pai, mãe e filho(s). Muitas mães são mais adequadas criando seus filhos sozinhas e dão a eles um lar acolhedor enquanto que lares teoricamente corretos são verdadeiros campos de guerra. Crianças precisam de amor, segurança e rotina – é disso que falo. Tanto faz o modelo familiar, porém, ele precisa existir.
Só tenha um filho se tiver tempo para levá-lo e buscá-lo da escola, para sentar-se com ele e acompanha-lo diariamente na tarefa de casa. Crianças de dez anos de idade não estão prontas para cuidar de si sozinhas, ainda precisam de supervisão. Talvez seja melhor não ter um filho se você não tem tempo de fazer sequer uma refeição com ele, de acompanhar seu banho mesmo quando ele já estiver cuidando sozinho da sua higiene.
Só tenha um filho se levá-lo regularmente ao médico, ao dentista e a uma ou duas atividades extracurriculares. Ele precisa aprender um esporte e uma arte pelo menos.
Só tenha um filho se puder ir às reuniões na escola e às apresentações comemorativas. Existem ex maridos, ex esposas, mas não existem ex mães e nem ex pais. Jamais falte a uma reunião ou a uma apresentação do seu filho, pois ele jamais se esquecerá disso e com o tempo, as desculpas que hoje você inventa para si mesmo cairão por terra.
Só tenha um filho se puder trabalhar ou como sustentá-lo pelo menos pelos próximos vinte anos e dar a ele o melhor que puder.
Só tenha um filho se estiver disposto a educá-lo. Educar dá trabalho. Se não houver trabalho, não houve educação.
Só tenha um filho se quiser colocá-lo na cama, ler para ele e lhe dar boa noite. Para isso você talvez tenha que mudar seus hábitos de sono. Crianças devem dormir cedo.
Só tenha um filho se puder deixa-lo na casa dos avós de vez em quando, de modo que ele saiba que lá é a “casa da vovó” e que é lá onde ele pode comer besteiras, ficar acordado até mais tarde e descumprir as regras. Avós não precisam e nem devem educar, eles podem apenas mimar. Não dê aos avós a responsabilidade de educar seus filhos.
Só tenha um filho se o seu coração estiver aberto para amá-lo incondicionalmente, seja ele quem for. Esteja preparado para aceitar que ele é um ser humano e que, um dia, vai caminhar com as próprias pernas. Quando isso acontecer você terá paz se disser a si mesmo que fez tudo que pôde enquanto ele precisou de você.