Hoje, perguntaram-me o que eu mais gosto de fazer durante a chuva.
Surpresa pela pergunta, acabei respondendo: “dormir”, como fizeram os demais presentes, mas a verdade é que gosto de muitas coisas nesses dias. Dormir não está entre elas.
Seja pela infância, vivenciada, em parte, enfrentando enchentes que devastaram o pouco que tínhamos, mas que para mim, não passavam de uma grande brincadeira, onde eu podia vestir minhas enormes botas rosa e desbravar a imensidão das águas, descobrindo um mundo absolutamente mágico, como só as crianças sabem fazer; seja pela adolescência totalmente perdida e romantizada, entregue a livros e filmes, onde com as grandes chuvas vinham também os grandes amores… paixões devastadoras… beijos extasiados, capazes de fazer suspirar até mesmo os mais duros corações!
Seja por esse ou aquele motivo, a verdade é que a chuva me inspira… renova!
Gosto de andar sem guarda-chuva, sentindo os pingos molhando meu rosto…. Gosto de abrir as mãos e sentir a água sobre minhas palmas… ou até mesmo pisar em poças propositalmente.
Gosto tanto que nem ligo para os olhares de reprovação que, por vezes, me acompanham.
Gosto de me imaginar sentada em uma grande varanda à beira mar, numa enorme cadeira de balanço e coberta com um xale de crochê, como no mais piegas de todos os romances.
Ficar escondida debaixo das cobertas somente olhando a chuva cair.
Fechar os olhos e ouvir cada som, cada detalhe, cada gota diminuta caindo sobre a terra.
Ouvir a orquestra formada por essa infinidade de sons.
Sentir o cheiro da terra molhada!
Fazer bolinhos de chuva com muito açúcar e canela.
Lembrar da corrida de bicicletas… de passar com o carro em poças, formando ondas gigantescas… do primeiro beijo molhado pela chuva… do abraço apertado regado à muita água e gargalhadas… de subir nos bancos do ponto de ônibus e gritar com o frio naquela chuva de verão… do bolo de aniversário ou do sorvete totalmente arruinados pela imprevisibilidade do tempo.
A chuva é para mim, entre tantas outras coisas, um sinal de que tudo ficará bem, afinal, é como dizem: “depois da tempestade vem a bonança”.
E enquanto ela não chega, eu continuo a me deleitar com as paixões, lembranças e sonhos que toda boa tempestade me traz!
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