Quando eu estava aprendendo a tocar violão, lembro que uma canção que me motivava, depois de Essa noite não, do Lobão (risos), era Apenas mais uma de amor, do Lulu Santos. E essa canção me faz recordar de um momento no mínimo estranho… um dia em um supermercado. Devia ter uns treze anos e havia algo que meu pai e eu fazíamos com frequência: saíamos para comprar sorvete… de flocos. Na escola eu vivia um amor platônico, como outro que já havia experimentado, aliás, sempre fui um ser muito ‘dado’ às imaginações.
Com onze anos quase morri de amor por um garoto da 5ª série, eu ia mudar de cidade, de escola e não o veria mais, aliás, sequer tive coragem de beijá-lo, mas o levei comigo, estava na fase de muito Nirvana e Aerosmith, com várias repetições de Liv and Let Die interpretada por Guns N’ Roses… Foi uma fase depressiva, na verdade tive uma adolescência depressiva, não pensava que fosse gostar de alguém novamente da mesma maneira, aliás, a gente nunca acha… E aí, um garoto que morava no prédio ao lado ganhou o meu “ódio”, discutíamos por tudo, eu sempre procurava uma oportunidade de insultá-lo, interfonava no apartamento dele apenas para ouvir a sua voz e desligar… E ele estava aprendendo a tocar violão… Sentava na direção da janela do meu quarto e tentava tocar Ana Júlia do Los Hermanos… O que ele não sabia é que a garota que o insultava sempre ficava derretida e abaixava o som da televisão apenas apara ouvir aqueles acordes mal tocados, mas tão, tão apaixonantes…
Mas assim como da outra vez… Foi mais um lance platônico, mais um lance que ficou apenas na imaginação… Ele se mudou, trocamos telefones, mas não sei o que aconteceu, nunca mais nos falamos… E fim….
Por que raios estou escrevendo sobre isso? Porque lembro que naquele dia do supermercado comprando sorvete de flocos com meu pai, tocava Apenas mais uma de amor, do Lulu, e lembro que apenas prestei atenção na letra enquanto tentava escolher entre caramelo ou chocolate no sabor da calda para o sorvete.
O que mais me dá esperança no exercício de existir é que há vida… Aqui dentro… Aqui mesmo, dentro de mim… eu ainda posso me emocionar, posso sorrir com lembranças, ainda posso idealizar… Uma das coisas que mais me motivavam na adolescência era ouvir música. Cada música tinha um significado ímpar e cada letra representava um tantinho do que eu sentia.
E é como se os versos das músicas que me representam se intercalassem, fugissem de suas respectivas letras de músicas para compor algo único, que só eu posso compreender.
Aliás, lembrando da época em que eu tocava meu violão… Apenas mais uma de amor era a canção em E (mi) que me remetia à esperança. Saber amar é saber deixar alguém te amar, composta por Herbert Vianna, vinha sempre a seguir me levando a esperançar…
Não sei, sou assim tão carne viva, tão rodriguiana, tão apaixonada, tão boba, estou tão sujeita e tão vulnerável sempre… Mas é como se essa vida toda aqui dentro me protegesse, é como se essa vida toda aqui dentro não permitisse que a dor me dilacerasse.
Sim, talvez você lendo não compreenda o que escrevo. Mas lhe quero bem… Deixo assim ficar subentendido, como uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor obrigação de acontecer….