As pessoas querem enquadrar o amor dentro de uma fórmula individual. Gente, esqueçam isso… o amor é livre e soberano demais para se encaixar na equação de alguém.
Certa vez ouvi um desabafo de um homem, aparentemente um cinquentão. Ele me relatou que morria de arrependimento por ter desistido de uma mulher no passado, quando era bem jovem. Ele se apaixonou perdidamente e era correspondido, porém, abriu mão do relacionamento para não decepcionar a família, muito conservadora, que se opunha ao romance pelo fato de a jovem mulher ter 2 filhos pequenos. Ela era viúva. Ele disse que sentiu-se sem forças para persistir com o namoro, pois a família inteira era contra. Ele disse que amava a moça absurdamente e que eles tinham todas as afinidades possíveis. Mesmo sangrando optou pelo fim da relação, tempos depois, casou-se com outra, com o perfil idealizado pela família.
O homem me disse que também não entendia como ele foi se apaixonar por aquela moça, afinal, desde menino, ele idealizava um tipo de mulher para se relacionar e constituir família e que aquela moça não tinha nada em comum com a idealizada. Confidenciou-me também que sentia-se muito culpado por não amar a esposa e nunca ter esquecido a moça do passado. Disse que a esposa era linda e prendada, mas ele não a amava e não tinha química. Um casamento com respeito e consideração. Nada mais.
Ah, detalhe: sempre foi assim, desde o namoro. Viviam praticamente como amigos. Afirmou categoricamente que jamais teria coragem de trair a esposa ou se separar dela, pois era um homem temente a Deus e tal e tinha filhos com ela. Ele finalizou a conversa dizendo: “vou levar esse arrependimento para a sepultura, e se eu voltasse no tempo, tudo seria diferente, eu enfrentaria qualquer obstáculo para ficar com aquela mulher”.
Ouvi aquele desabafo de um estranho numa fila que cismou de se abrir comigo porque eu estava com uma camiseta do curso de Psicologia…daí já viu, né? rsrs. Fiquei com aquela história martelando na minha cabeça, senti pena, era nítida a frustração dele. Mas naquele dia eu me dei conta de algumas verdades no que se refere às relações amorosas. É muito comum as pessoas idealizarem um amor, ou seja, elas criam algumas expectativas sobre como será o parceiro ou a parceira ideal. Como idealizar a construção de uma casa. É mais ou menos assim: quando eu encontrar um homem que tenha estabilidade financeira, que seja honesto que seja assim ou assado, eu vou me apaixonar e casar. Ou: vou me envolver de verdade com uma mulher que tenha tais características físicas e tais valores. OK. Daí a pessoa conhece a pessoa idealizada e não sente nada por ela, absolutamente nada. Somente amizade.
O que ocorre é que, na realidade, as pessoas querem enquadrar o amor dentro de uma fórmula individual. Gente, esqueça isso…o amor é livre e soberano demais para se encaixar na equação de alguém. Ele é quem dita as regras, e ele adora surpreender, impactar. Ele adora “chocar”…
Sim, o amor é mestre em unir os diferentes, os desiguais. Entenda, estou falando de amor, não de conveniências. Estou falando daquilo que abala a nossa estrutura.
Quem nunca se admirou e se perguntou, ao ver um casal composto por pessoas bem diferentes: “o que será que ele(a) viu nela(e)? Seja por diferença de idade, de religião, de nível cultural, enfim. Pois é, você pode ter certeza de que eles estão juntos por amor…algo que foge às convenções sociais. Entenderam? Então fica a lição: ninguém encontrou a fórmula do amor. O cantor Léo Jaime, muito pretensioso, fez uma música sobre isso, afirmando: ainda encontro a fórmula do amor. Ah, Léo Jaime, nada mudou…você não vai encontrar, jamais.
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