Desde menina, escutava a afirmação de que a vida começa aos 40.
Não via sentido nisso. Tudo certo, o tempo passou e me vi ingressando na minha quarta década de vida. Juro que eu adoraria encontrar uma forma de escrever sobre esse tema sem me expor, mas seria impossível, visto que meu texto não teria nenhuma autenticidade se não retratasse aqui, o que percebo, baseado nas minhas próprias vivências. Óbvio que me inspiro também em incontáveis relatos de outras pessoas.
Acredito que, pelo fato de já estarmos na metade da vida, optamos por reformular nossa maneira de viver. Passamos a ter preguiça de investir tempo e energia em bobagens, em picuinhas, sabe?
Percebemos a nossa jornada se afunilando e nossa alma se apavora no sentido de “peneirar” o que vale a pena ser levado em consideração. Ficamos mais sedentos de vida e vida de qualidade. Passamos a enxugar os excessos, isso serve para coisas acumuladas em casa sem nenhuma utilidade, “amizades” e relacionamentos no geral, crenças limitantes, medos infundados etc.
É como se, num belo dia, olhássemos nossa vida como um cômodo e optássemos por uma faxina. Então decidimos por jogar um monte de tranqueira fora, deixando somente aquilo que tem funcionalidade. Sim, queremos qualidade ao invés de quantidade.
Ficamos atrevidos, no bom sentido. Ficamos ousados. Passamos a nos escutar melhor. Nos blindamos dos julgamentos alheios. Passamos a nos priorizar sem nos sentirmos egoístas por isso. Nos respeitamos cada vez mais. Aprendemos a dizer “não” sem culpa. Evitamos relações tóxicas.
Dentro do possível, resgatamos os sonhos engavetados ou até mesmo sepultados. A mulher que sempre amou rabiscar papéis, escondidinha, agora resolve que vai escrever que nem gente grande, afinal, isso grita na alma dela, oras, dá licença… rsrs. Você pode ter certeza de uma coisa: quando chegamos aos quarenta, nos empoderamos. Torço absurdamente para que alguém leia isso e me dê razão, não é possível que isso seja coisa só da minha cabeça. Eu vejo tudo diferente.
O sentimento é de uma liberdade indescritível, liberdade de alma, liberdade de querer, liberdade de sonhar e, o melhor, liberdade para ser eu mesma. É como se nosso relógio biológico apitasse nos lembrando de que não temos muito tempo, afinal, na melhor das hipóteses, estamos na metade da vida.
Não temos mais tempo a perder com coisa sem futuro, viver se torna urgente. Há um rebuliço em nossas emoções e ao mesmo tempo uma paz.
Rebuliço porque queremos viver nossas verdades e não aquilo que nos enfiaram goela abaixo ao longo da nossa vida. E paz por, finalmente, tomarmos as rédeas da nossa vida. Nos damos conta de tanta bobagem que permitimos roubar nossa paz um dia. Optamos por perdoar logo, não importa quem seja nem o que tenha feito conosco. Afinal, a mágoa seria um entulho nada estético no nosso cômodo sagrado chamado alma.
E nós, as mulheres? Ah, nos sentimos lindas e plenas, independente se nos encaixamos ou não nos padrões estéticos impostos na sociedade. Nos sentimos lindas porque nos enxergamos de forma integral, não somente os nossos atributos físicos.
Enfim… em síntese é isso: ter 40 anos é uma delícia, em todos os sentidos. E pensar que eu tinha tanto receio de chegar nessa fase… grata surpresa.