Após ser atingido por um tiro na cabeça em 1938 durante a Guerra Civil Espanhola, um soldado passou a enxergar o mundo de forma invertida ao despertar. O caso do paciente M, como ficou conhecido, foi relatado na revista científica espanhola Neurologia.
Para o paciente M, pessoas e objetos pareciam estar localizados no lado oposto ao real, e essa alteração também afetava sua audição e tato. O soldado conseguia ler letras e números impressos normalmente, tanto da esquerda para a direita quanto ao contrário, sem que seu cérebro percebesse qualquer diferença entre os dois.
O paciente M tinha 25 anos quando foi atingido na cabeça em um campo de batalha em Levante, Valência, em maio de 1938. O soldado permaneceu em coma por duas semanas e, ao acordar, relatou que não conseguia enxergar com o olho esquerdo e apenas percebia um leve brilho no olho direito.
Surpreendentemente, o homem se recuperou sem a necessidade de cirurgia ou cuidados especiais, deixando os médicos perplexos, apesar de ter duas perfurações distorcidas no crânio onde a bala entrou e saiu.
Com o passar do tempo, sua visão foi se restabelecendo, mas o soldado passou a perceber “coisas estranhas”. Ao observar o paciente M ao longo das cinco décadas seguintes, o médico chamado Justo Gonzalo Rodríguez-Leal descreveu uma série de sintomas.
![Soldado vê mundo ao contrário após sofrer tiro na cabeça](https://osegredo.com.br/wp-content/uploads/2023/06/Screenshot_58-1.jpg.webp)
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Além de enxergar tudo triplicado, o homem também percebia as cores separadas dos objetos. O soldado ficava surpreso com essas anormalidades, como quando via pessoas trabalhando de cabeça para baixo em andaimes, conforme descrito pelo médico em seu livro “Cerebral Dynamics”.
Essa mudança sensorial também afetou sua percepção do som e do toque, processados pelo cérebro como se viessem do lado oposto do corpo. Apesar dessa grande confusão, o paciente conseguiu levar uma vida normal, o que o médico atribuiu ao desenvolvimento inconsciente de estratégias de adaptação, como a atenção seletiva a estímulos intensos.
No livro, Rodríguez-Leal explica que a bala parece ter afetado a região parieto-occipital esquerda do cérebro do paciente M. Ao observar as consequências dessa lesão, ele postulou que, na verdade, o cérebro pode não ser dividido em regiões distintas como se pensava anteriormente. Até então, os neurologistas acreditavam que o cérebro era composto por regiões separadas por limites bem definidos, com pouca ou nenhuma sobreposição.
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