É difícil perceber o exato momento que tudo se transforma em desinteresse, principalmente quando o relacionamento perdura.
Acostumados com os romances de novela, somos fisgados pela inconstância da paixão e amarrados pela ideia de que grandes amores nos deixam nas nuvens.
Sempre expostos, desde a infância, a expressões de amor — consideradas e replicadas por muitos como ideais — acabamos acreditando que precisamos nos encaixar nos estereótipos do romance.
Vamos perdendo a espontaneidade e vivendo uma história cada vez mais mecânica, em que os mesmos gestos se repetem sem que nenhum dos dois se preocupe com a relevância daquilo tudo.
Em 1999, Cazuza e “Barão Vermelho” lançaram a canção “Eu queria ter uma bomba”, em que relatam justamente a sensação de viver uma “solidão a dois”.
Mesmo considerado um eterno “exagerado” em seus relacionamentos, Cazuza sempre foi capaz de falar sobre os mais espinhosos assuntos, sobre as verdades que ninguém quer assumir e os tabus em que ninguém quer tocar. Amou a vida mais do que qualquer um e soube como ninguém falar sobre amor — e sobre a ausência de amor.
Sabe aquela sensação de conforto, de estar ao lado daquela pessoa que traz o sentimento de segurança, igual ao que nos percorre assim que chegamos em casa?
Sim, algumas pessoas são casas, lares, proporcionam para nós constância e tranquilidade, mas em muitos momentos não é apenas isso que desejamos ou precisamos.
Por que então muitos casais seguem juntos mesmo quando percebem que o desinteresse fez morada? Quando se naturalizou compartilhar momentos com alguém que já não nos provoca mais nenhuma emoção, que não faz questão de olhar nos nossos olhos e nem sequer esboça uma reação de vontade de estar perto? Naturalizar romances médios não deveria ser o conceito de amor.
Os relacionamentos existem para nos fazer sentir bem, para nos colocar numa posição de evolução, de felicidade constante e bem-estar. É claro que muitos casais passam por crises, mas o desinteresse não é um sinal de mau momento, e sim de constante insatisfação.
Não devemos nos permitir vivenciar menos do que aquilo que desejamos, e isso vale para o outro: libertar aquela pessoa para que viva suas melhores experiências.
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A rotina massacrante, o trabalho exaustivo e os desencontros podem sim minar um relacionamento, mesmo que ainda exista carinho e afeto entre as partes.
Mas é preciso sempre reavaliar a quantidade de interesse existente: eu quero continuar ao lado dessa pessoa? Eu preciso continuar ao lado dessa pessoa? Ela me faz bem?
A autocrítica também é sempre bem-vinda. Não se sinta mal se perceber que o outro já não sente mais desejo por você, ou vice-versa, aproveite essa ausência de sentimentos ardentes para finalmente falar sobre tudo que sente.
Esconder as emoções sob camadas de uma pretensa normalidade serve apenas aos atores e aos mentirosos, e ninguém quer viver uma história baseada na ausência da verdade.
Permita-se ser, permita-se enxergar a insatisfação e jamais deixe o desinteresse ser um participante constante de suas relações. Essa dica também vale para amizades, interações familiares e até profissionais. Só vivemos uma vez até onde sabemos, por isso precisamos fazer valer a pena.
Crie boas memórias, seja a pessoa de que todos vão se lembrar por algo que você admira. Os amores não precisam possuir elos fracos, seja honesto com aquilo que deseja e peça ao outro que faça o mesmo.
Mude tudo aquilo que for capaz, e o que não conseguir, peça ajuda para quem está ao seu lado. Existem pessoas incríveis que estão dispostas a nos fazer momentos incríveis, basta apenas que saiamos do automático.