“Som da Liberdade” estreou em 21 de setembro e tem permanecido no topo das bilheteiras desde então.
Dirigido por Alejandro Monteverde, o filme aborda a questão do tráfico sexual de crianças e entrou no cenário cinematográfico com a expectativa de se tornar um dos filmes mais polêmicos do ano.
De acordo com informações da Comscore, o filme conseguiu vender 1 milhão de ingressos no Brasil e arrecadou mais de R$ 17 milhões em bilheteria em apenas 10 dias.
Nos Estados Unidos, alcançou uma receita de US$ 200 milhões. Apenas durante o período de 28 de setembro a 1º de outubro, o filme registrou a venda de meio milhão de ingressos nos cinemas brasileiros. O rápido crescimento desses números no território nacional tem suscitado curiosidade e gerado bastante interesse.
Um dos elementos que tem suscitado debates a respeito da popularidade de “Som da Liberdade” é a distribuição de ingressos gratuitos.
Uma das iniciativas para fornecer ingressos é conduzida pela Lumine, uma plataforma de conteúdo católico, em colaboração com a 360 WayUp, uma distribuidora de produções audiovisuais. Além disso, outros grupos conservadores, como o site Brasil Paralelo, também estão oferecendo entradas gratuitas.
Através do portal de streaming religioso, é viável obter os ingressos por meio de um registro que requer informações como nome, e-mail e número de telefone.
Posteriormente, eles encaminham um e-mail com instruções para concluir a aquisição no site Ingresso.com. No entanto, a obtenção do ingresso, embora influa nas estatísticas do filme, não assegura necessariamente que as salas de cinema estejam efetivamente lotadas.
Outra alternativa é acessar o site da Angel Studios, que é o estúdio encarregado do filme. No site, é possível adquirir ingressos para uso pessoal, comprar ingressos para doação e até mesmo obtê-los gratuitamente. Há inclusive uma mensagem que encoraja a doação de ingressos:
“Leve este filme ao mundo para alertar sobre o tráfico de crianças”.
A página também exibe o número de ingressos adquiridos em todo o mundo, que, de acordo com os dados fornecidos por eles, já ultrapassou os 22,2 milhões.
Interferência política e religiosa
Desde a pré-estreia, realizada em Brasília e que contou com a presença de Flávio Bolsonaro, Damares Alves e Mário Frias, o filme dirigido por Alejandro Monteverde se consolidou como um favorito da direita brasileira, seguindo a mesma tendência dos Estados Unidos.
Além disso, o filme também ganhou relevância dentro do público cristão, como evidenciado pela parceria com a Lumine na distribuição e por um vídeo viral nas redes sociais, onde fiéis fazem propaganda do filme enquanto entoam cânticos religiosos em um shopping.
Uma das razões para a popularidade do filme é a aparente motivação religiosa do protagonista, interpretado por Jim Caviezel e inspirado em Tim Ballard, que o impulsiona a lutar contra o tráfico de crianças. No filme, ele enfaticamente declara que “os filhos de Deus não estão à venda” e parte para a luta.
Outro elemento que contribui para o sucesso do filme entre a direita é a teoria que sugere que a esquerda norte-americana, representada pelo Partido Democrata, estaria envolvida no crime abordado na trama.
A teoria da conspiração conhecida como QAnon, que desempenhou um papel na invasão do Congresso dos EUA, propaga a crença na existência de pedófilos satanistas entre esses políticos, que supostamente extrairiam de crianças um imaginário “soro da juventude” – ou seja, seu sangue.
No Brasil, também foram observadas ações não convencionais relacionadas à exibição do filme nos cinemas. A Escola Superior de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (ESFAP), que forma novos sargentos em Santa Catarina, organizou uma ida de recrutas para assistir ao filme como uma “atividade extracurricular em momento cultural”.
Esta informação foi publicada no perfil oficial da instituição no Instagram em 22 de setembro. Até o momento, a Polícia Militar de Santa Catarina não respondeu às tentativas de contato do Metrópoles para comentar o assunto. O espaço permanece disponível para qualquer esclarecimento.
Combatente, mas abusador
Embora contenha cenas de ficção, o filme “Som da Liberdade” foi inspirado na trajetória de Tim Ballard, um ex-agente do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos que abandonou sua carreira para se dedicar ao combate ao tráfico sexual de pessoas.
Entretanto, a estreia do filme também levantou novas acusações de abuso contra Tim Ballard.
Segundo informações da Rolling Stone, um conjunto de mulheres que colaborou com Tim Ballard na Operation Underground Railroad (OUR), organização por ele fundada, fez alegações de “assédio sexual, manipulação espiritual, aliciamento e má conduta sexual” contra ele.
Conforme relatos divulgados pela Vice, Ballard teria envolvido uma mulher em missões sob a falsa pretensão de ser sua esposa, convidando-a para compartilhar banhos e dormir na mesma cama.
Tim Ballard, em uma declaração pública, refutou as acusações, embora não seja a primeira vez que alegações desse tipo tenham surgido. Recentemente, ele se afastou de seu cargo na OUR em meio a alegações de má conduta sexual.