Viver a vida requer tempo. E não é só ter tempo, não. É saber o que fazer com o tempo que se tem. E tendo um tempo dedicado a pensar nas coisas da vida, cheguei a uma reflexão sobre uma onda dessas na qual eu estava mergulhando de cabeça: ser fitness. Tá na moda. É o mais novo jargão internetês, as #s bombam. E eu comecei a querer ser o que as redes sociais mostram que devemos ser: fitness, malhada, costelas aparentes, barriga negativa, braços e pernas torneados, bronze impecável com marquinha de biquíni.
Mas o que meu tempo me permitiu pensar foi: espera aí, eu quero ser fitness porque busco uma saúde de ferro regada a alimentação balanceada e exercícios físicos ou eu quero ser fitness porque uma grande indústria conseguiu, despudorada e implicitamente, colocar na minha cabeça que pra ser bonita tenho que ter aquele modelo de corpo?
Fiquei meio tensa porque a resposta pendia mais para segunda opção do que pra primeira. Então, me dei conta de que ser fitness, ser da geração malhação não era vontade minha, não.
Eu queria continuar comendo miojo quando não tem mais nada no armário e queria poder fazer caminhadas seguidas de um açaí bem gelado! Queria poder continuar indo à piscina e à praia sem ter que me enrolar nas cangas por não estar no shape que a televisão e a internet mostram que é o mais bonito.
Sabe o que é? Eu como frutas, sim! Mas também adoro curar TPM com brigadeiro. E como salada também, mas é a entrada para o prato de nhoque ou para as fatias de pizza. Eu ando de bicicleta, mas não é pra tornear a perna, pra endurecer os glúteos, pra chapar a barriga. É porque eu adoro sentir o vento batendo no meu rosto, dando aquela sensação de voo livre. Eu venho tentando trocar a carne por soja. Mas não é porque soja é rica em alguma coisa que previne alguma doença. É porque quero que todos os animais possam viver suas vidas em paz e felizes, sem servir de comida para o bicho homem.
Aí é que está! Ser fitness pra mim é diferente. Para cada um é uma coisa, pra falar a verdade. Eu me sinto super fitness quando faço faxina em casa e também quando corro com meu cachorro pela rua. Às vezes, me sinto fitness até na frente do computador, porque tem momentos em que escrever faz a gente suar a camisa também! E tem gente que se sente fitness por fazer quase uma hora de esteira. E está tudo bem. Mesmo. De verdade. Nós estamos bem! Eu, que sou doida por lasanha e você, que é low carb. Eu, que não tomo refrigerante há treze anos e você, que mistura refri com energético. Eu, que tiro tomate do lanche e você, que pede pra adicionar cebola empanada. Eu, que acho minhas coxas muito grossas e você, que tenta engrossar as suas.
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O que a gente tem mesmo que aprender com esse negócio de ser fitness é a respeitar a beleza de cada um sem impor rótulos, sem padronizar o que é melhor ou pior, bonito e feio, sem querer determinar normas e estereótipos. Porque está liberado a gente ser o que é, de verdade! Está liberado a gente usar biquíni, maiô, saia curta ou vestido longo. Não tem roupa certa para tipo de corpo nenhum. Tem roupa e tem corpo. E pronto! E ponto!
Porque não tem problema nenhum malhar à tarde para poder devorar um bolo de chocolate à noite. E não tem problema também devorar um bolo de chocolate sem ter malhado. Às vezes, um tanto de gargalhadas bem sonoras queima mais calorias que um tempão na academia.
E o que mais importa nesse negócio todo de ser fitness é ter saúde pra dar, pra vender, pra levar ao parque de diversões e ao parque cheio de árvores e flores. Porque o que mais importa nesse negócio de viver é ser feliz!