A semana está especialmente sedutora. Flores, beijos, declarações delicadas, passeios românticos, caixinhas com fitas coloridas minimamente entrelaçadas. O amor está no ar, em intensos tons de escarlate.
Creio fortemente que existe uma tentativa de as pessoas se conectarem com as sensações mais plenas de seus relacionamentos. Uma tentativa de resgatarem sensações que ficaram adormecidas nos álbuns guardados com cuidado na estante da sala. Só que quando essa conexão não é habitual e espontânea, ou ao menos fortalecida constantemente, logo embarca na rotina e horas depois do famoso 12 de junho vira esquecimento.
De verdade, já parou alguns segundos para pensar: o que é o amor?
Há percepções diferentes sobre esse sentimento, e em geral, muitas se resumem à simplicidade de um olhar infantil.
– Amor? Ah, sim, amor!
– Você sente arrepios ou coisas assim.
– O coração bate forte. Como uma bomba.
– Me faz sentir quentinha, confortável, como um travesseiro.
– Faz sentir que você nunca estará sozinho.
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Questionadas sobre dar flores e chocolates:
– É bom, mas todo mundo faz isso. Seria melhor pensar em algo original.
– Dizer algo que gosta sobre ela.
– Quando você ama alguém, deveria demonstrar e ser gentil.
– Deveria tratá-la de maneira especial.
– Coisas pequenas mostram muito amor.
– Tipo, você não precisa ter muito dinheiro, pode apenas ser você mesmo.
– É muito simples.
– Amor verdadeiro é uma mistura de amizade, apreciação e felicidade.
As frases foram extraídas do vídeo Crianças respondem o que elas acham que é amor, que finaliza com a seguinte frase: talvez o amor não seja tão complicado assim.
Será que nós complicamos?
O amor é um termo difícil de definir já que podemos amar livros, futebol, vinhos, viagens, lugares e, claro, pessoas. Segundo o filósofo Yann Dall’Aglio, a diferença entre amar “coisas” e pessoas está no fato de que as coisas não nos valorizam, já as pessoas, teoricamente sim. Dessa forma: ele define o amor como “o desejo de ser desejado”.
Mas aí vem o dilema: como se tornar e se manter desejável? A resposta não é simples. O homem contemporâneo se apoia em um dos principais meios de sedução: o consumismo. Lembra o que as crianças falaram sobre flores e chocolates, lá em cima? “Acumulamos bens materiais para nos comunicarmos com outras mentes, para fazer com que nos amem, para seduzir”, explica Yann.
Na contramão do comportamento, há aquilo que desejamos de forma muito sutil o profunda: o amor em forma de ternura. Mas, o que isso significa? Que ser terno é aceitar as fraquezas do ser amado. “Há muito charme e felicidade na ternura e isso é um dos melhores meios para que um relacionamento dure”, explica.
A química do amor
Quando nos apaixonamos, esse alguém passa a ter um significado especial para nós. A nossa atenção e a nossa energia passam a estar focadas nessa pessoa, como se pudéssemos fazer qualquer coisa juntas no mundo.
“Um polinésio disse: ‘Sentia como se pudesse pular até o céu’. Você fica acordado a noite toda. Você caminha até o amanhecer. Você sente uma felicidade intensa quando tudo está indo bem, seu humor muda para um desespero horrível quando as coisas vão mal”, explica a antropóloga Helen Fisher.
Há décadas conduzindo estudos sobre o amor romântico, Helen diz que experimentos recentes mostram que ele é mais intenso que o impulso de relações íntimas.
Pessoas vivem por amor. Elas matam por amor. Elas morrem por amor. Elas têm músicas, poemas, romances, esculturas, pinturas, mitos, lendas. Existe toda uma série de razões pelas quais você se apaixona por uma pessoa em vez de outra. O momento certo é importante. Proximidade é importante. Mistério é importante. Você se apaixona por alguém que é um pouco misterioso, em parte porque o mistério eleva o nível de dopamina no cérebro, e isso provavelmente dá aquele último empurrão necessário para nos apaixonarmos. Você se apaixona por alguém que se encaixa no que eu chamo de seu mapa do amor, uma lista inconsciente de características que você vai construindo desde a infância, enquanto cresce. Há mágica no amor!”
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E para você, o que é amor?
É um tanto difícil olharmos para dentro, para os nossos próprios sentimentos e materializá-los em palavras, não é mesmo?
Por isso, o amor é mais que as mensagens de “eu te amo” enviadas ao longo do dia, ligações no meio da noite, rosas vermelhas, alianças douradas e votos de que nunca vai te abandonar. Amor vai além das previsibilidades de um relacionamento, é aquela pergunta inesperada quando o coração parece perder o compasso. A palavra de apoio quando você sente que está lentamente desmoronando por dentro. É o olhar gentil que diz “eu estou aqui”.
Amor é ter opiniões diferentes e comidas preferidas opostas, é gostar de rock enquanto o outro curte o seu sertanejo, e mesmo assim haver respeito, porque todos somos livres para ser quem quisermos. O amor também é conivente com a liberdade e a felicidade mútuas.
Amor não é apenas latência ou promessa. É a decisão e a atitude que você toma o tempo todo. Amor é um presente, não daqueles que a gente sai correndo para comprar às vésperas por convenção. Amor é o presente, pois ele é vivido, construído e compartilhado no agora.
Acredito que as crianças têm razão: talvez o amor não seja tão complicado assim.