Há um ano eu estava sentado nesse mesmo lugar, olhando através dessa mesma janela o céu tempestuoso que se aproximava lentamente no final daquela tarde monótona, trazendo a chuva que lavaria a minha alma e molharia todas as minhas palavras. Hoje faz sol.
Eu vi você chegar com o olhar despreocupado e com o sorriso no canto da boca, batendo à minha porta e pedindo para entrar.
Você então entrou e eu pedi, entre uma xícara de carência e outra, para que ficasse. Você sorriu em resposta, confortando o meu espírito, mas não ficou. Eu vi você partir com o mesmo olhar despreocupado e com o mesmo sorriso no canto da boca.
As nossas fotos ainda estão salvas em algum lugar, hoje eu não sinto mais a necessidade de olhá-las para me convencer de que você foi real, porque já tem tanto tempo, que às vezes parece que você foi apenas uma memória tênue num sonho qualquer de uma noite mal dormida.
Os milhares de textos escritos no ápice de todos os sentimentos que você me fez sentir, estão engavetados em algum lugar e alguns são realmente muito bons, caso queira saber, obrigado por me fazer escrever com tanto ardor.
Hoje, você não tem ideia do que se passa na minha vida e eu muito menos na sua, por um lado isso é bom, da mesmo forma que é triste saber que sou um completo estranho para você, sendo que há um ano você era a luz no final do meu túnel, a faísca que alimentava a coragem e a esperança dentro de mim. Talvez você deva saber que essa faísca se apagou e por mais que eu tente acendê-la outra vez, só consigo criar pequenos incêndios que queimam os outros e que não valem de nada.
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Não tome a culpa disso para si, ela é minha.
Depois de um ano eu escuto as músicas que me lembravam você e elas já não significam mais nada. Eu assisto aquele filme em particular e ele continua fazendo sentido algum para mim. Eu ainda vejo você ocasionalmente, mas seu rosto não brilha mais, seus olhos não são mais intensos, seu sorriso não soa mais misteriosos e o seu perfume agora me dá vontade de espirrar.
Eu te conheci e construí uma imagem sua, enquanto bêbado. Agora eu consigo ver com clareza aquilo que você realmente é, enquanto sóbrio. Catarse.
Finalmente posso desejar-lhe o melhor para a sua vida, porque a raiva passou, o ódio escorreu e a mágoa foi transformada em aprendizado. Eu coloquei a culpa em você por ter me enganado, mas a verdade é que eu me enganei sozinho, você está isento dessa culpa.
Não tenho ideia se você parou para pensar em mim no final das contas. Se numa pausa para um café se perguntou onde eu estaria, com quem estaria ou o que estaria fazendo.
A verdade é que voltei para meu universo, meus planos e objetivos. Saí numa jornada para encontrar uma resposta que fizesse sentido, mas vejo hoje que a resposta sempre esteve aqui, dentro de mim. Eu só precisava de clareza para enxergá-la.
Não termino fazendo-lhe agradecimentos, mesmo que eu sinta que devo por todas as coisas maravilhosas que aprendi com você e posteriormente sem você. Não sei o porquê desse texto para ser honesto. Mas como escrevi tanto sobre você com o passar desses 365 dias, um a mais ou a menos não faria diferença. Apesar de que, dentro de mim, o sentimento é de partida, encerramento. Não sei quanto tempo você levou para me deixar no passado, bem menos do que eu, acredito. Mas o tempo, o senhor de todas as coisas, finalmente chegou com um veredito sobre você. E pela primeira vez, para ser honesto, consigo aceitar que isso terminou da forma que terminou. E que, principalmente, terminou.
Escrevo isso olhando pela janela. O céu está azul, o tempo está claro e eu não consigo deixar de pensar que, a tempestade finalmente passou.
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Uma última nota do autor: Essa é a última vez que escrevo sobre você. Ou nós.
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