Conjunção condicional. O SE é aplicado numa sentença quando queremos indicar condição: Se eu soubesse que iria chover hoje, teria saído de casa com um guarda-chuva.
Quando algo inesperado acontece em nossas vidas, e que é de alguma forma um acontecimento negativo, temos a tendência de querer repensar o que se passou, é um ato quase instintivo que nada mais é do que uma forma de tentar entender os fatores que levaram àquele acontecimento. Podemos imaginar aqui, a perda de um negócio, uma demissão, o rompimento de uma relação, ou até mesmo os pequenos desencontros da vida. Ao tentar entender porque as coisas não saíram de acordo com a nossa expectativa ou simplesmente quando somos pegos de surpresa em uma situação, começamos a criar as nossas próprias condições para as coisas, colocando um monte de “SE`s” imaginários para coisas que não dissemos, fizemos, tentamos, ou que achamos que poderíamos ter feito diferente.
É importante frisar que certos acontecimentos só são vistos de forma negativa, pois antes mesmo de acontecer imaginávamos ou esperávamos algo distinto, e como minhas sábias amigas diriam: “a expectativa é a mãe da merda”. Então, temos aqui dois fatores que são da natureza humana, creio eu, mas que realmente deveríamos aprender a manipulá-los a nosso favor. O primeiro, é a péssima mania de imaginar situações futuras. Uma coisa são nossos objetivos, metas, visualizar o que queremos. Mas existe uma diferença muito grande em, por exemplo, imaginar uma situação para decidir a melhor forma de executá-la do que querer prever os próprios resultados da ação e os acontecimentos que virão depois. Antes de entrar na sala do chefe já começamos a maquinar sobre o assunto que ele vai tratar, antes de sair com alguém imaginamos como vai ser o encontro, antes do sexo pensamos em como poderá ser a performance, antes de provar a comida pensamos que gosto ela vai ter, e assim estamos sempre criando expectativas.
E o segundo, é se culpar ou culpar outras pessoas por algo que poderia ter sido diferente, utilizando uma porção de se`s para tentar reconstruir a história de outra forma. Acontece que, diferente do exemplo do guarda-chuva em que você sabe o que você teria feito se soubesse que iria chover, nós nunca saberemos o que poderia ter acontecido quando temos outros personagens na história. Porque aí temos um elemento novo na sentença – o talvez.
Se eu tivesse me esforçado mais no trabalho, talvez não tivesse sido demitido. Se eu tivesse dito que lhe amava, talvez ele não tivesse partido. Se eu tivesse sido honesta com ela, talvez ela não tivesse me enganado.
Fica claro que de nada servem os se`s da vida se não há garantias de que as coisas teriam realmente saído como queríamos. E por isso eu digo, use o se somente a seu favor. Somente para lhe permitir pensar que, SE as coisas não tivessem acontecido exatamente como aconteceram outras coisas melhores que estão destinadas a você não ocorreriam na sequência. Espere mais um tempo para olhar para sua situação, não no auge do seu sofrimento. Espere até que haja um novo encontro, um novo emprego, um novo amor, ou apenas novos acontecimentos, novas alegrias. Espere até você perceber que todos os SE`s não são nada mais que outras possibilidades, outras incertezas, outras perguntas que você não saberia as respostas. E aí, aceite o seu caminho, olhe para o futuro para descobrir o que você pode fazer hoje para chegar aonde quer chegar, mas não para aumentar as expectativas e as decepções. Comece talvez por esperar menos das pessoas, e cobrar-se menos também pelos próprios erros no caminho. Eu prefiro pensar que se um monte de chateações não tivessem acontecido na minha vida, eu não estaria aqui escrevendo esse texto, porque agora que as coisas passaram e eu posso olhar pra traz e ver que tudo tem um outro sentido pra mim. Os episódios passam e novas histórias ganham importância na vida, novas pessoas, as dores parecem menores do que quando foram sentidas, e as que ainda não cicatrizaram em breve serão assim também, algumas coisas que eu esperei anos para ouvir, quando eu ouvi já não importavam mais no meu novo contexto.
Então, pense bem: se você soubesse que iria chover, talvez perdesse o banho de chuva!
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Patrícia Born
Gaúcha, morando no Rio por opção. Escreve porque já fala demais sozinha.
Qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
Acredita que a maior experiência que o homem pode ter é sair pelo mundo para ver tudo
com os seus próprios olhos. Para as dores da alma: um ombro amigo e um banho de mar.