Cada momento vivido, tendo sido bom ou ruim, deixa a sua marca e efeitos em nossas mentes e corações. Sendo estes, mais sentimentais ou indiferentes; mais exagerados ou moderados; mais passionais ou racionais. Não importam as características, cada pessoa vivencia e sente os momentos de maneira particular, única. O que para uma pessoa pode ser um “soco no estômago”, uma grande ofensa, para outra pode ser apenas uma crítica malfeita e, assim reconhecendo, a ignora sem dificuldade ou pesar.
Não sabemos com exatidão se são as dificuldades impostas pela vida que deprimem as pessoas, ou se atingem tal estado por motivos exclusivamente pessoais ou de saúde, que as transformam. Os três motivos juntos também podem contribuir para uma contínua sensação de tristeza e de auto depreciação.
Contudo, independente do motivo, o sentimento de padecer em constante injustiça é bastante pesaroso para quem o carrega. Com toda certeza a vida nos insere em dificuldades das mais complexas e que não temos controle, elas apenas surgem. Sim, as dificuldades são reais e nos atingem em cheio, muitas vezes. Porém, imputar-se uma permanente vítima das situações e das pessoas é uma das condições ainda mais limitadoras e que, inclusive, dificulta o encontro da resolução dos nossos problemas.
Sentir-nos feitos “coitadinhos (as)” pela vida, por suas situações e pelas pessoas que nela convivemos e conhecemos, é nutrir uma falsa quimera, a de que somos perfeitos. Por mais que reconheçamos que nos seres humanos e em nós mesmos não existam perfeições, sob absolutamente nenhum aspecto, quando mantemos um padrão vibracional constante em que nos sentimos entristecidos e injustiçados, ainda que de modo pouco consciente, pomo-nos os mais perfeitos e corretos.
O mundo e as pessoas, no entanto, estão e são errados. O erro está lá fora, não em nós. Somos constantemente injustiçados e desrespeitados. Não assumimos nossas responsabilidades sobre nossos atos e escolhas, os quais desencadeiam consequências, ora positivas, ora negativas. Erram conosco, mas também erramos. Reclamamos do melindre alheio, mas sabemos, em nosso íntimo, que em algum ponto o melindre também nos atinge, mas alguns de nós não admite isto. Não dão “o braço a torcer”, por medo de demonstrar limitações e fraquezas, mas até parece que somos infalíveis!
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Injustiças e desrespeitos existem, acometem a todas as pessoas, em maior ou menor medida, sem dúvidas, porque, mais uma vez, se existem seres perfeitos no cosmo esses seres não estão em nosso planeta. Em tempos de crise econômica em um país com tamanha desigualdade social, que acompanha sua História, como é o caso do Brasil, as pessoas demonstram mais ainda seus desgostos com a própria vida. A solução, porém, não é invejar as conquistas das outras, inferniza-las com críticas negativas, “golpes baixos”, e com julgamentos equivocados, menos ainda. Olhar para a “vida boa” e opulenta das outras pessoas[1], mas daquelas que alcançaram um trabalhoso “lugar ao sol”, é invejar quem nada pode mudar o que precisa ser modificado por nós mesmos em nossas vidas.
Além disto e da concepção de ser certo ou errado, cada um de nós detém liberdade de pensamento e de ação suficientes para valorizarmos a ostentação ou a humildade. Qual a sua preferência, geralmente oscilamos entre uma postura e outra? Um mínimo de ostentação é o bastante para desencadear uma série de sofreguidão nas pessoas desditosas em seus mais variados estados, momentâneos ou constantes, de infelicidade pessoal. Por outro lado, essas pessoas precisam aprender a lidar com a felicidade e com a vitória das outras, pois as conquistas alheias não devem ser sentidas como derrotas ou limitações pessoais. A humildade, por sua ordem, não é sinônimo de pobreza, mesquinhez ou insignificância. Conceitos reais que nos cabem suas práticas, escolhas, pesquisas, valorações e reflexões, caso intentemos vencer os defeitos e aprimora-los até que se tornem boas características e ações.
O primeiro passo para sairmos das baixas condições de pesar, medo e sofrimento, no entanto, é o reconhecimento que, de algum modo, nós também erramos, fazemos más escolhas, assim como não agimos sempre de acordo com o bem falado e defendido em teoria, pois na prática podemos agir em contradição à probidade reflexiva que defendemos. Somos imperfeitos, não somos santos, mas a busca pela felicidade precisa ser uma constante conquista de mudanças positivas e de satisfações pessoais, que não são encontradas quando olhamos para a vida dos bem-sucedidos. A felicidade exige ação, ela é trabalhosa e exige, ainda, o desenvolvimento de inteligência emocional, que não nos chega de um dia para a noite.
Vitimizar-se é uma dependência em um estado quase fixo, é permanecermos nas sombras emocionais, com poucas mudanças positivas e pouca ou nenhuma atividade, mas condicionados ao comodismo, ao zelo pela ingratidão e pela reclamação. Já os heróis e heroínas, os protagonistas, de suas vidas são sujeitos em ação, movimento, são gratos, ainda que pelas pequenas conquistas, e buscam por seu laborioso lugar ao sol.
Existe uma linha tênue entre um sujeito e outro – a vítima e a protagonista –, entre ambas as suas condições, inegável constatação. Estamos sujeitos a esses movimentos de ordem emocional e somos acometidos a diferentes fluxos da vida, mas a não aceitação dos baixos níveis de satisfação é um valioso passo em direção ao bem-estar e às intrínsecas conquistas de felicidades e realizações pessoais. Lentas ou rápidas não importam, a real importância é que aconteçam.
Muito tem sido divulgada nas redes sociais a seguinte ideia: “Quem se faz de vítima não procura ajuda, mas aliados”. Pois bem, a ajuda e a mudança deste quadro de “coitadismo” acontece quando admitimos nossos erros, nosso exagero diante das situações ruins e das pessoas que erraram conosco. Sem contar que os aliados dos vitimados encontram-se tão ou mais vitimados quanto eles e, sendo assim, a energia de ambos vibra em mesma sintonia, seus polos mentais iguais tendem a atraírem-se. Compartilham uma mesma linguagem negativa e memórias sobre acontecimentos marcados por tristezas, desafetos, injustiças, traições, pensamentos auto sabotadores e supostos fracassos.
Quando converso com amigos mais próximos, não deixo de defender que, as reais vítimas são aquelas que estão imóveis sobre uma cama de hospital, sem saúde, impossibilitadas de falar, andar, dependentes de cuidados de terceiros, como médicos, técnicos, enfermeiros etc. São vítimas porque não podem mais mudar suas vidas e condições físicas ou mentais. Entretanto, pessoas que se colocam em situações humilhantes e nelas continuam a desvalorizar-se, sentindo pena de si mesmas e culpando os algozes, não, não são vítimas de ninguém, talvez apenas delas mesmas e das próprias escolhas, uma vez que podem modificar a situação problemática na qual se encontram, mas não fazem. E mesmo os que se acreditam vitimados pelos complicados acasos da vida podem modificar sua situação. Somos detentores de raciocínio, de capacidades, de habilidades, de competências e ainda temos tempo suficiente para desenvolve-las e descobri-las, caso não as reconheçamos no agora.
Por isto, escolho ser a protagonista da minha vida. Respeito os limites das autoridades, que jamais devem ultrapassar os meus, mas as irrompo quando as percebo injustas, autoritárias, interesseiras e egoístas. Não me coloco como autoridade sobre nada, seja sobre tema, profissão ou matéria, mas, ainda assim, mereço respeito quando não firo o de ninguém de propósito. Assumo minhas indispensáveis necessidades de mudanças positivas a curto ou a longo prazo. “Coitadismo” não me cabe e não pretendo ser melhor que as demais pessoas, mas aprimorar minhas qualidades, a fim de reduzir meus defeitos. Há pessoas sábias por aí, cheias de conhecimentos e ricas bagagens de experiências adquiridas com a vida, pessoas que nunca pisaram em universidades, e sei que tenho muito a aprender com elas. Gostaria que as pessoas fizessem o mesmo, seria interessante para uma convivência mais saudável e harmoniosa.
Não acredito que existam pessoas melhores que outras, mas, em suas diferenças, atitudes melhores e mais desenvolvidas do que outras atitudes. Não aceito críticas quando sei que os (as) críticos (as) cometem os mesmos erros. Acredito, também, que boas condições econômicas facilitem e proporcionem inserções a determinadas colocações sociais e locais, como o estudo em uma universidade, por exemplo. Porém, sem esforço e dedicação pessoal mesmo o filho de um milionário não conclui seus estudos acadêmicos em qualquer área profissional.
Perdoo e também mereço perdão, mas, independente disto, não sou obrigada a manter certas pessoas em minha vida, tal como não exijo estar na vida de algumas. Fechar ciclos é um tanto indispensável diante de relacionamentos desgastados por diferentes motivos. Cedo aprendi a “arte do desapego”, mas, em certos momentos da vida, também precisei (re) busca-la, quando foi difícil me desapegar de quem amei.
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Para a colunista de um site, em São Paulo, Marcia Pereira[2], vinganças são cometidas por pessoas com desequilíbrios, imaturidade, fragilidades emocionais e que não aceitam as frustrações impostas pela vida. Diante disto, para mim, não há pena, uma dívida eterna, ou por toda uma vida, que não mereça perdão devido a algum erro cometido, no passado ou no presente. Não sou perfeita, ou melhor, não somos perfeitos, e, mesmo assim, podemos aprimorar nossas atitudes, cada um no seu tempo, indo além do estado de vítimas e ou algozes.
Somos seres capazes do real protagonismo, que ocorre quando fugimos das sombras emotivas e desenvolvemos: O alcance do nosso lugar ao sol nas emoções positivas e na vida.
[1] Vale um importante esclarecimento, quando aqui se sugere “outras pessoas”, as dos governantes não estão inseridas.