Jornalista lutava na justiça por união civil com Jorge Lafond.
Ao morrer de ataque cardíaco, em fevereiro de 2020, Marcelo Padula se remoía em tristeza. O jornalista lutava na Justiça para conseguir o tão sonhado reconhecimento de união civil com Jorge Lafond.
Ele e o ator famoso por interpretar a irreverente Vera Verão no humorístico “A Praça é Nossa”, do SBT, conviveram por mais de 20 anos. Publicamente, foram vistos sempre como amigos e posteriormente, assessor e assessorado.
Segundo o portal Terra, Padula cuidava da imagem do artista, agendava entrevistas e o acompanhava nas gravações na televisão. Anos depois da morte de Lafond, aos 50 anos, também por complicações cardíacas, em 11 de janeiro de 2003, o comunicador contou a respeito do alegado relacionamento amoroso. “Ele era meu companheiro”, garantiu.
Na ocasião, acionou advogados para conseguir ser declarado pela Justiça como marido do ator e herdeiro por direito. A decisão final sobre o status jurídico dos dois saiu somente em 2022, dois anos após seu falecimento. Um tribunal de São Paulo negou o pedido.
Os bens de Lafond, incluindo apólices de seguro de vida e uma casa, já haviam sido destinados a primos do comediante. Marcelo Padula acabou levando consigo para o túmulo outro desencanto: não conseguiu emplacar um projeto de uma cinebiografia.
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Entre colegas e amigos de jornalismo, ele relata com entusiasmo suas ideias para o roteiro e até cogitava atores para viver o papel de Lafond. Seria uma grande homenagem a um artista corajoso, que enfrentou a pobreza, a homofobia e o racismo no caminho até o sucesso na TV.
Sem dúvidas, uma grande perda para o humor e toda a comunidade LGBTQIA+. Diversos produtos de cinema disseram “não” ao projeto, desacreditando do potencial da produção para atrair público e, consequentemente, gerar bilheteria lucrativa.
Quem conheceu Padula pôde testemunhar sua dedicação em tempo integral a Jorge Lafond. Paixão ou amizade, foi uma relação duradoura e sólida, raridade no meio artístico. Devido a seu talento e simbolismo, o intérprete de Vera Verão – e outros personagens menos conhecidos, como Bob Bacall da novela “Sassaricando” – merece peças, filmes, documentários e exposições.
Não é todo dia que, em um país repleto de preconceitos, um homem gay, afeminado e negro, se projeta como bailarino no exterior, cursa duas faculdades (Artes Cênicas e Educação Física), conquista um espaço próprio nas telinhas consagrando-se com uma personagem icônica, que levava os brasileiros aos risos, tornando-se um dos artistas mais populares.
No entanto, este é o Brasi, onde há memória curta e as novas gerações não têm interesse na história de artistas negros e LGBTs, mesmo os consagrados, uma vez que, ainda são vítimas de estigma. Vera Verão tinha mesmo razão em ‘rodar a baiana’.
Jorge Lafond não teve o merecido reconhecimento
De acordo com o UOL, Carlos Alberto de Nóbrega dizia que a personagem tinha sido inspirada nas travestis que brigavam na praça enquanto puxavam gilete da boca. O jeito despachado de Vera Verão, que bradava “Êeeepa! Bicha Não!” pedindo respeito a cada discussão, levou Lafond rapidamente ao estrelato, mantendo-o no ar por uma década.
Tamanha era a simpatia pelo ator que, no auge do sucesso, prestes a lançar a segunda temporada do reality “Casa dos Artistas”, o SBT fez uma enquete perguntando quem o público gostaria de ver no confinamento.
Jorge Lafond ganhou de disparada, desbancando os concorrentes e recebendo apoio de vários famosos em uma campanha pela escalação para o programa. Embora tenha aparecido no primeiro episódio, o humorista teve sua participação vetada pela direção da emissora de Sílvio Santos e não escondeu a mágoa.
Semanas depois, com a popularidade ainda em alta, foi convidado a se retirar do palco do “Domingo Legal” para que o padre Marcelo Rossi pudesse cantar. Em entrevista ao “TV Fama”, na época, ele afirmou que a ação teria o magoado muito. Sempre sem papas na língua, enfatizou que se tivesse mandado o religioso para ‘aquele lugar’ não estaria tão estressado como ainda estava. O mesmo episódio já havia acontecido em uma rádio.