Warwick Estevam Kerr foi um engenheiro agrônomo que ficou conhecido por suas descobertas genéticas e determinação sexual das abelhas. O pesquisador foi o primeiro brasileiro a participar da Academia de Ciências nos Estados Unidos.
Porém seus estudos em apicultura foram marcados por um “acidente”. Em 1956, o pesquisador voltava da África, onde estudou a produção de mel. A ideia era aumentar a produtividade e resistência das abelhas europeias, que foram trazidas para o Brasil em 1839. Essa espécie não conseguiu se adaptar ao clima do país, exceto nas regiões Sul e Sudeste.
Warwick Estevam Kerr: como as abelhas africanas chegaram ao Brasil
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Nisso, Kerr trouxe 51 abelhas rainhas, sendo 50 delas provenientes da África do Sul e uma da Tanzânia, da espécie Apis melífera scutellata, que apesar de ser mais produtiva, é bastante agressiva.
Já no Brasil, elas criaram suas colmeias e ficaram em quarentena em um bosque de eucalipto no campus da Unesp, em Rio Claro. A ideia era só escolher e manter as mais mansas.
Como modo de proteção, foram feitas colmeias fechadas por malhas, onde somente as operárias conseguiam passar, justamente por serem menores. Apesar dos esforços, 26 rainhas conseguiram escapar e cruzaram com as europeias, dando assim origem a vários enxames de abelhas africanizadas que se espalharam pelo Brasil inteiro, e hoje estão nos três continentes americanos.
Com a alta agressividade e sem saber como trabalhar com a espécie, vários apicultores desistiram da atividade, porque não tinham equipamentos adequados para o manejo. Foi nessa época que o nome “abelhas assassinas” surgiu.
O ataque das abelhas africanizadas é uma resposta defensiva dessa espécie, para proteger a colônia. Quando se sentem ameaçadas, elas saem em bando e atacam pessoas e animais, ainda em distâncias longas.
De acordo com a doutora em biologia, Sarah Azoubel, com a fuga das abelhas africanas, Kerr passou a estudar como lidar com essas novas abelhas, e assim estabelecendo outras práticas de apicultura e melhorando os equipamentos de proteção. Os estudos deram certo e em 1990 o Brasil passou a produzir mais mel que antes.
“Claro que causou danos reais, ninguém defende isso, mas teve esse outro lado. Com o passar do tempo, as abelhas foram amansando, e hoje não se ouve mais falar de tantos ataques. É como se o programa de melhoramento original de Kerr tivesse sido feito de maneira informal”, pontua a doutora em biologia Sarah Azoubel, em entrevista para a Folha de São Paulo.
Por longos 14 anos, Kerr sofreu com as perseguições pela introdução da abelha africana, mas com o passar do tempo, os apicultores cresceram e conseguiram trabalhar novamente no setor.
Biografia
Sua trajetória científica teve início em Piracicaba, São Paulo, onde concluiu seu doutorado e, posteriormente, tornou-se professor assistente. Em 1951, realizou um pós-doutorado como professor visitante na Universidade da Califórnia em Davis e, no ano seguinte, na Universidade de Columbia, onde teve a oportunidade de estudar com o renomado geneticista Theodosius Dobzhansky.
Em 1958, recebeu o convite do professor Dias da Silveira para colaborar na organização do Departamento de Biologia da Faculdade de Ciências de Rio Claro, vinculada à recém-criada Universidade Estadual de São Paulo (UNESP).
Permaneceu nessa instituição até 1964, liderando um grupo de pesquisa em genética de abelhas, sua principal área de especialização. Durante os anos de 1962 a 1964, desempenhou o papel de Diretor Científico na recém-fundada Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP).
Em dezembro de 1964, aceitou o cargo de Professor Titular de Genética na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, contribuindo significativamente para a criação de um novo Departamento de Genética.
Nessa posição, Kerr estabeleceu um centro de pesquisa de excelência, especialmente nas áreas de genética entomológica e genética humana, formando numerosos estudantes de mestrado e doutorado.
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O departamento também introduziu uma nova área de pesquisa e ensino em biologia matemática e bioestatística, sendo pioneiro no uso de computadores em biologia e medicina, com foco particular em genética aplicada à pecuária.
Ao longo de todas essas posições, Kerr manteve suas pesquisas sobre Meliponini, com destaque para o gênero Melipona, abelhas neotropicais frequentemente sujeitas à ação predatória de meleiros silvestres (meleiros).
Ele se notabilizou por seus estudos sobre a hibridização da abelha africana e da abelha italiana (Apis mellifera ligustica). Kerr acumula um total de 620 publicações em diversas áreas. Além de ser membro da Academia Brasileira de Ciências, foi também Associado Estrangeiro da Academia Nacional de Ciências dos EUA e da Academia de Ciências do Terceiro Mundo.
Em 1994, foi agraciado com a Ordem Nacional do Mérito Científico na classe Grã-Cruz, conferida pelo presidente Itamar Franco.
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