O folclore brasileiro é um conjunto de expressões culturais que terminam englobando toda uma identidade nacional.
Mitos, lendas, brincadeiras, danças, festas, comidas típicas entre outros costumes podem ser exemplos, já que muitos deles terminam sendo transmitidos de geração para geração.
Por ser bastante diversificado, o nosso folclore conta com vários atributos oriundos das culturas portuguesa, africana e também indígena. Somente a partir do século XIX, o folclore passa a constar nas narrativas oficiais, mas com Mário de Andrade e a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, ele ganha uma característica mais acadêmica.
Segundo o site Brasil Escola, essa guinada acadêmica só foi possível devido à influência do Romantismo como corrente artística e literária, que foi bastante importante no Brasil. Ao ser relacionada com os movimentos nacionalistas, os elementos da cultura nacional passaram a ganhar um maior destaque dentro da área cultural do país.
Já na década de 1940, a Unesco, uma entidade ligada à Organização das Nações Unidas, passou a recomendar que os países estudassem e preservasse o folclore nacional, o que acabou gerando um forte impacto no Brasil, dando origem, posteriormente, à Comissão Nacional do Folclore, em 1947.
Parte bastante importante para o nosso folclore são as lendas, que ficaram no imaginário e cultura popular através de personagens e seres míticos, que terminam reproduzindo algumas características das culturas que influenciaram a formação da cultura brasileira.
Veja a lista com algumas lendas do folclore brasileiro:
1. Saci-Pererê
Esse personagem tem uma provável origem portuguesa e foi relatado primeiro na Região Sudeste, no século XIX. Ele é um menino negro de uma perna só e dependendo da região onde a lenda esteja sendo contada, ele pode adquirir características de personalidade maligna ou não, simplesmente sendo um grande brincalhão.
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Também é bastante característico do personagem vê-lo com um cachimbo e com um gorro vermelho, o que lhe conferiria poderes mágicos. Sua vida é aprontar inúmeras travessuras e com isso, ele acaba se divertindo.
De acordo com o site Cultura Genial, esse personagem já apareceu nas obras de Monteiro Lobato e terminou, inclusive, ganhando um longa-metragem em 1951, com direção de Rodolfo Nanini.
2. Curupira
Outro personagem bastante conhecido por muitos brasileiros é o Curupira. É descrito como um jovem que possui cabelos de fogo e tem seus pés virados para trás.
Por viver nas matas, ele é um dos grandes defensores da nossa fauna e flora, fazendo com que caçadores e outros homens que queiram prejudicar a natureza fiquem confundidos com as pegadas e seus gritos estridentes.
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Para agradá-lo, os índios deixam várias oferendas, como penas, cobertores. A depender da região onde a história é contada, o curupira pode ser uma criança ou até mesmo uma mulher, ou um homem gigante que está montado em um porco do mato.
Um dos primeiros relatos desse personagem o associa com entidades demoníacas, como é descrito no relato de José de Anchieta em 1560.
3. Iara
Relacionada às águas, essa entidade é conhecida também por Mãe D’Água. Algumas vezes, Iara também é relacionada à Yemanjá, a deusa das águas. Acredita-se que ela seja uma mistura de alguns mitos europeus com elementos indígenas.
Iara se apresenta como uma bela sereia, metade mulher e metade peixe. Ela é bastante conhecida por encantar os homens com sua voz enfeitiçada, arrastando-os para o fundo do rio, fazendo com que suas vítimas terminem morrendo afogadas.
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Em um princípio, Iara se chamava Ipupiara, que era um homem-peixe que levava pescadores para o fundo do rio, onde os devorava. A mudança do sexo só aconteceu no século XVIII, onde Ipupiara passou a ser a sedutora sereia Uiara ou Iara.
Dentro da literatura nacional, essa personagem já apareceu em algumas obras de Machado de Assis, Gonçalves Dias entre outros escritores.
4. Cuca
Bastante reconhecida por sua figura, que é uma mistura de uma velha senhora com corpo de réptil. No entanto, a Cuca é uma feiticeira com grandes poderes, que tenta raptar crianças.
A origem do mito teria nascido em Portugal com a personagem “Coca”, que era uma criatura que assustava crianças desobedientes. Essa personagem também guarda afinidades com outros personagens, como o Bicho-papão e o Velho do Saco.
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Essa lenda só passou a ganhar popularidade após Monteiro Lobato incluí-la em suas histórias do Sítio do Pica Pau Amarelo, que tinha 23 volumes e foram escritos entre 1920 e 1947.
Recentemente, a Netflix lançou a série “Cidade Invisível”, que apresentava vários personagens folclóricos brasileiros. A Cuca é interpretada pela atriz Alessandra Negrini, e na trama, ela tem poder de controlar borboletas, ler mentes e fazer com que as pessoas adormeçam. A versão retratada na série, no entanto, se assemelha mais às origens da Cuca do que à figura já conhecida por ter corpo de jacaré.
5. Tutu
Também conhecido como “Tutu Marambá”, ele se assemelha aos personagens que assustam crianças, como o Boi da Cara Preta, o Bicho Papão e a Cuca, como vimos anteriormente.
Esse personagem tem sua origem na Europa, mas somente em solo brasileiro, ele se transformou e passou a usar esse nome graças às influências africanas, já que a palavra “tutu” vem de “quitutu”, palavra angolana que significa “ogro”, de acordo com o historiador Câmara Cascudo.
É conhecido por ser uma criatura muito rabugenta, briguenta e bastante robusta, cheio de pelos. Na Bahia, ele foi relacionado ao porco-do-mato, graças à sua grande força física, e também por existir um animal na região chamado “caitutu”.
Esse personagem também aparece no seriado “Cidade Invisível”, onde é representado por um homem grande e barbudo que vive junto a Cuca.
6. Boto
Bastante comum na região amazônica, o Boto é um boto cor-de-rosa que se transforma em homem jovem e muito bonito em noites de lua cheia ou em festas juninas, para namorar as moças. Conhecido por ser um homem muito elegante, sua principal característica é o chapéu que leva, o que terminaria escondendo o orifício que usa para poder respirar.
Assim que consegue conquistar as moças, ele as leva para a beira do rio onde ele as engravida. Antes que a madrugada chegue, ele volta para as águas do rio para transformar-se novamente em boto.
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Sua história remete bastante às gravidezes indesejadas, onde o homem termina não assumindo a paternidade, como também explica alguns casos de abusos e violências sexuais contra mulheres ribeirinhas.
Na série “Cidade Invisível” (2020), o personagem é interpretado por Victor Sparapane, que recebeu o nome de Manaus.
7. Corpo-seco
Esse personagem é um dos mais assustadores do nosso folclore. Por ser um defunto ressecado, ele passa a assombrar inúmeras pessoas como um morto-vivo.
Quando era vivo, por ele ser um sujeito bastante maquiavélico e cruel, acabou sendo expulso da terra onde morava e passou a vagar sem rumo. Segundo a Wikipédia, ele chegou até a surrar a própria mãe, tamanho traço de maldade que tinha.
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Direitos Autorais: Divulgação / Netflix
Por ser rejeitado por Deus e pelo Diabo, ele sequer foi enterrado, já que a própria terra também o desprezava, o que fez com que ela vomitasse seu corpo.
Seus relatos são mais frequentes em São Paulo, Paraná, Amazonas, Minas Gerais e na região Centro-Oeste.
8. Boitatá
Também conhecido por ser protetor das matas, o Boitatá é uma grande cobra de fogo, que termina queimando os invasores da floresta. A lenda também conta que quem olhar para ele, pode terminar cego e louco.
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A origem da palavra Boitatá vem do tupi-guarani e significa: “mboi” – coisa, e “tatá” – cobra, o que seria “coisa de fogo” para os indígenas. Sendo o único sobrevivente do grande dilúvio, ele mora no fundo dos rios.
Também foram encontrados relatos desse personagem nos escritos do padre jesuíta José de Anchieta, em 1560.
9. Mula sem cabeça
Também está associada ao fogo, a Mula é um personagem bastante presente na cultura ibérica e que foi adotada pelas regiões do nordeste e do sudeste brasileiro.
Sua história remete a uma mulher que é punida por namorar um padre de sua comunidade e devido a isso, ela é transformada em uma mula. No lugar de sua cabeça, ela tem uma grande tocha de fogo.
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Segundo relatos, a Mula percorre sete povoados na noite de sua transformação, e se ela encontrar alguém durante seu trajeto, ela terminaria chupando os olhos, unhas e dedos da vítima.
Sua figura também é retratada como um animal completo, mas que lançaria fogo pelas narinas e boca, onde tem freios de ferro. Caso alguém tire seus freios, o encanto se quebra.
10. Lobisomem
Esse personagem é um homem que costuma aparecer nas noites de lua cheia, onde ele se transforma em uma criatura feroz e enorme, sendo metade homem e metade lobo.
É uma lenda que aparece em vários países do mundo e especula-se que ele tenha feito algum tipo de pacto com alguma entidade maligna ou que ele seja o sétimo filho homem de seus pais.
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De acordo com o site Cultura Genial, na mitologia grega esse personagem tem a história parecida a de um homem que se chamava Licaón e que foi transformado por Zeus em lobisomem.
Existe ainda a crença que bebês que não são batizados se transformam, mais tarde, em lobisomens.
11. Negrinho do Pastoreio
Esse personagem é bastante comum na região sul do país. Seu surgimento data na época colonial, ou seja, no século XIX. Por muito tempo, ele foi visto como um símbolo abolicionista.
Segundo a lenda, o Negrinho do Pastoreio é um garoto que tinha como senhor um homem muito cruel. Um dia, quando ele vai cuidar dos cavalos, ele termina deixando escapar um deles fugir, o que faz com que o senhor fique furioso e ordenou que ele encontre o animal. Mas ele não consegue encontrar o cavalo.
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Por não encontrar, o senhor submete o menino à uma grande tortura e depois o joga em um formigueiro. No dia seguinte, o garoto surge sem marca nenhuma de violência ou rastro das picadas das formigas. Ao seu lado está Virgem Maria, sua maior protetora.
Ao ver Nossa Senhora, o senhor se joga no chão e roga perdão, mas o menino não responde nada. Ele apenas beija a mão da mãe de Jesus e vai embora, montado no cavalo que ficou perdido, mas teria voltado à fazenda.
Sua interpretação assume que o menino foi salvo e subiu aos céus, por ser uma criança inocente. Essa história, inclusive, já foi retratada no cinema por pelo menos duas vezes: uma em 1973, com o ator Grande Otelo interpretando o menino, e outra em 2008, que é uma releitura, onde Evandro Elias vive a personagem.
12. Pisadeira
Bastante presente no sudeste brasileiro, mais precisamente em Minas Gerais e em São Paulo, a Pisadeira relata uma criatura que vive atormentando muitas pessoas à noite, sem deixá-las dormir. É frequente ouvir que quando se come muito antes de ir dormir, a Pisadeira se coloca sobre o estômago da vítima.
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Essa personagem está profundamente ligada aos episódios de paralisia do sono, um fenômeno bastante comum que ocorre logo ao adormecer ou antes de despertar.
Sua figura é retratada como sendo uma mulher bastante assustadora, alta e com dedos e unhas compridas. Ela também tem olhos vermelhos e arregalados, nariz comprido e queixo grande. Ainda de acordo com a lenda, essa figura ficaria nos telhados das casas, observando a movimentação dos moradores.
13. Comadre Fulozinha
Lenda bastante recorrente na região do nordeste brasileiro, a Comadre é uma moça de cabelos compridos e negros que vive na floresta e protege a natureza contra invasores.
Como oferenda por seus trabalhos, ela gosta de receber aveia e mel, e é bastante prestativa a quem tenta lhe agradar.
14. Caipora
Personagem indígena, a Caipora vive nas florestas e é a grande protetora da fauna brasileira. Ela tem o poder de ressuscitar animais e ao ver invasores, ela começa a gritar para afastá-los.
Está representada por uma pequena indígena, que tem os cabelos vermelhos e suas orelhas se assemelham às dos duendes, sendo bastante pontudas.
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O nome “Caipora” vem do tupi, que significa “habitante do mato”. Às vezes é confundida com o Curupira, por terem ambas funções semelhantes, mas a diferença entre ambos é que a Caipora cuida dos animais, enquanto o Curupira, das plantas.
Essa personagem ficou famosa após aparecer no programa de televisão Castelo Rá-tim-bum, da TV Cultura, nos anos 1990.
15. Bicho-papão
Bastante conhecido no mundo inteiro, esse personagem é também popular no Brasil.
Ele é um monstro que assusta crianças que não se comportam, e vive embaixo das camas, mas pode se esconder nos armários e atrás de portas.
16. Cobra-grande ou Boiuna
A Boiuna, ou cobra grande, é uma lenda de origem amazônica, que retrata uma serpente lendária da Região Norte. Ela mora entre as rochas dos rios e sempre que sai é para afundar os barcos.
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Direitos Autorais: Reprodução: Wikimedia Commons/João Guilherme 92
Ao sair de seu esconderijo, o tempo muda, fazendo com que surjam trovões, raios e chuvas. Segundo a lenda, a lua é a cabeça da serpente, as estrelas seriam seus olhos e o arco-íris o sangue da cobra-grande.