O amor é um dos principais temas da literatura e foi inspiração para milhares de poemas do passado até os dias de hoje.
Como é um sentimento universal e um dos mais puros e importantes que existem, o amor tem sido inspiração para a criação de versos em todo o mundo, ao longo do século. Assim, grandes escritores puderam preencher seus corações, bem como descrever como esse sentimento captura a verdadeira essência do ser humano.
Presente em diversas manifestações artísticas, seja em prosa ou em verso, essa foi a maneira que os escritores encontraram para traduzir o amor, mas nunca sem total plenitude, pois é algo impossível de se fazer. Se você deseja demonstrar esse sentimento a alguém, confira abaixo os 19 poemas mais românticos da literatura, que são inspiração até hoje para vários casais e merecem ser compartilhados!
1. Amor – Álvares de Azevedo
“Amemos! Quero de amor
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu’alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d’esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha’alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!”
Álvares de Azevedo era escritor, poeta e contista da Segunda Geração Romântica brasileira, e é conhecido até hoje como “o poeta da dúvida”. Suas poesias retratam o mundo interior, deixando de lado a angústia e os temas nacionalistas da primeira geração.
2. Amor e seu Tempo – Carlos Drummond de Andrade
“Amor é privilégio de maduros
Estendidos na mais estreita cama,
Que se torna a mais larga e mais relvosa,
Roçando, em cada poro, o céu do corpo.
É isto, amor: o ganho não previsto,
O prêmio subterrâneo e coruscante,
Leitura de relâmpago cifrado,
Que, decifrado, nada mais existe
Valendo a pena e o preço do terrestre,
Salvo o minuto de ouro no relógio
Minúsculo, vibrando no crepúsculo.
Amor é o que se aprende no limite,
Depois de se arquivar toda a ciência
Herdada, ouvida. Amor começa tarde.”
Carlos Drummond de Andrade é um dos maiores poetas brasileiros do século XX, além de ter sido cronista e contista. Ele participou da Segunda Geração Modernista, e na época, foi aclamado pela sua poesia de questionamento em relação à existência humana.
3. Timidez – Cecília Meireles
“Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve…
– mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes…
– palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
– que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando…
e um dia me acabarei.”
Cecília Meireles era escritora, professora, poetisa, jornalista e pintora, além de ser a primeira mulher de grande expressão na literatura brasileira. Com mais de 50 obras publicadas, ela se destacou no campo da poesia.
4. Amar e ser amado – Castro Alves
“Amar e ser amado! Com que anelo
Com quanto ardor este adorado sonho
Acalentei em meu delírio ardente
Por essas doces noites de desvelo!
Ser amado por ti, o teu alento
A bafejar-me a abrasadora frente!
Em teus olhos mirar meu pensamento,
Sentir em mim tu’alma, ter só vida
P’ra tão puro e celeste sentimento:
Ver nossas vidas quais dois mansos rios,
Juntos, juntos perderem-se no oceano —,
Beijar teus dedos em delírio insano
Nossas almas unidas, nosso alento,
Confundido também, amante — amado —
Como um anjo feliz… que pensamento!”
Castro Alves foi um poeta brasileiro, que participou da Terceira Geração Romântica no Brasil. Além dos trabalhos poéticos e indignação que mostrava aos graves problemas sociais do seu tempo, ele também é patrono da cadeira n.º 7 da Academia Brasileira de Letras.
5. Amar você é coisa de minutos – Paulo Leminski
“Amar você é coisa de minutos
A morte é menos que teu beijo
Tão bom ser teu que sou
Eu a teus pés derramado
Pouco resta do que fui
De ti depende ser bom ou ruim
Serei o que achares conveniente
Serei para ti mais que um cão
Uma sombra que te aquece
Um deus que não esquece
Um servo que não diz não
Morto teu pai serei teu irmão
Direi os versos que quiseres
Esquecerei todas as mulheres
Serei tanto e tudo e todos
Vais ter nojo de eu ser isso
E estarei a teu serviço
Enquanto durar meu corpo
Enquanto me correr nas veias
O rio vermelho que se inflama
Ao ver teu rosto feito tocha
Serei teu rei teu pão tua coisa tua rocha
Sim, eu estarei aqui”
Paulo Leminski foi poeta, escritor, professor e tradutor brasileiro, que também esteve muito ligado à música. Durante a vida, produziu poemas sem muito compromisso, se destacando muito, além disso, também fez ensaios, obras infanto-juvenis e traduções.
6. Soneto do Amor Total – Vinícius de Moraes
“Amo-te tanto, meu amor… não cante
O humano coração com mais verdade…
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade
Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente,
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim muito e amiúde,
É que um dia em ter corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.”
Vinícius de Moraes era escritor e um dos maiores compositores que a música popular brasileira já ouviu, conhecido também por ter sido um dos fundadores da Bossa Nova, que surgiu no ano 50. Além das composições, o autor também escreveu belos poemas do amor, inspirando milhares de pessoas até hoje.
7. Soneto XI – Pablo Neruda
“Tenho fome de tua boca, de tua voz, de teu pelo,
e pelas ruas vou sem nutrir-me, calado,
não me sustenta o pão, a aurora me desequilibra,
busco o som líquido de teus pés no dia.
Estou faminto de teu riso resvalado,
de tuas mãos cor de furioso celeiro,
tenho fome da pálida pedra de tuas unhas,
quero comer tua pele como uma intacta amêndoa.
Quero comer o raio queimado de tua beleza,
o nariz soberano do arrogante rosto,
quero comer a sombra fugaz de tuas pestanas
e faminto venho e vou olfateando o crepúsculo
buscando-te, buscando teu coração ardente
como um puma na solidão de Quitratúe.”
Pablo Neruda foi um poeta chileno, considerado um dos mais importantes da língua castelhana, e por conta disso, chegou a receber o Nobel da Literatura em 1971, eternizado pela paixão que demonstrou em seus versos.
8. Para Atravessar Contigo o Deserto do Mundo – Sophia de Mello Breyner Andresen
“Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medo
Ao lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento”
Sophia de Mello Breyner Andresen era poetisa portuguesa, a primeira mulher a vencer o Prêmios de Camões, o prêmio literário da língua portuguesa. Seu trabalho foi muito importante em seu país e até hoje ela é lembrada por suas poesias e contos.
9. Deixa que o olhar – Olavo Bilac
“Deixa que o olhar do mundo enfim devasse
Teu grande amor que é teu maior segredo!
Que terias perdido, se, mais cedo,
Todo o afeto que sentes, se mostrasse?
Basta de enganos! Mostra-me sem medo
Aos homens, afrontando-os face a face:
Quero que os homens todos, quando eu passe,
Invejosos, apontem-me com o dedo.
Olha: não posso mais! Ando tão cheio
Desse amor, que minh`alma se consome
De te exaltar aos olhos do universo.
Ouço em tudo teu nome, em tudo o leio:
E, fatigado de calar teu nome,
Quase o revelo no final de um verso.”
Olavo Bilac era poeta, contista e jornalista brasileiro, muito lembrado por ser o responsável pela letra do Hino à Bandeira. Ele foi um importante representante do Movimento Parnasiano, além de também ter sido membro fundador da Academia Brasileira de Letras.
10. Amar, nunca me coube – Mário Quintana
“Mas sempre transbordou
O rio de lembranças
Que um dia me afogou
E nesta correnteza
Fiquei a navegar
Embora, com certeza,
Não possa me salvar
Amar nunca me trouxe
Completo esquecimento
Mas antes me somou
Ao antigo tormento
E assim, cada vez mais,
Me prendo neste nó
E cada grito meu
Parece ser maior”
Mário Quintana, conhecido como o “poeta das coisas simples”, foi também tradutor e jornalista brasileiro, muito famoso no século XX por suas belíssimas poesias. Em 1980, recebeu o Prêmio Machado de Assis da ABL, e depois, em 1981, ganhou também o Prêmio Jabuti. Ele tinha como inspiração o cotidiano, além de também usar ironia ao falar de amor.
11. Soneto da fidelidade – Vinícius de Moraes
“De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.”
12. Amor é fogo que arde sem se ver – Luís Vaz de Camões
“Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.
É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?”
Luís Vaz de Camões é um poeta português, autor do famoso “Os Lusíadas”, além de ser um dos principais nomes da literatura mundial. Ele representa o Classicismo Português, e neste soneto, faz versos decassílabos, com 10 sílabas poéticas e uma pausa na sexta sílaba.
13. Carrego seu Coração Comigo – E. E. Cummings
“Carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração
Nunca estou sem ele
Onde quer que vá, você vai comigo
E o que quer eu que faça sozinho
Eu faço por você
Não temo meu destino
Você é meu destino, minha doçura
Eu não quero o mundo por mais belo que seja
Porque você é meu mundo, minha verdade.
Eis o grande segredo que ninguém sabe.
Aqui está a raiz da raiz
O broto do broto e o céu do céu
De uma árvore chamada vida
Que cresce mais que a alma pode esperar
ou a mente pode esconder
E esse é o prodígio que mantém
as estrelas à distância.
Eu carrego seu coração comigo
Eu o carrego no meu coração.”
E. Cummings ou Edward Estlin Cummings, foi poeta, artista plástico, dramaturgo e ensaísta estadunidense, considerado um dos principais poetas modernistas da língua inglesa. Durante a vida, teve dezenas de livros de poesia.
14. Canção do Amor Sereno – Lya Luft
“Vem sem receio: eu te recebo
Como um dom dos deuses do deserto
Que decretaram minha trégua, e permitiram
Que o mel de teus olhos me invadisse.
Quero que o meu amor te faça livre,
Que meus dedos não te prendam
Mas contornem teu raro perfil
Como lábios tocam um anel sagrado.
Quero que o meu amor te seja enfeite
E conforto, porto de partida para a fundação
Do teu reino, em que a sombra
Seja abrigo e ilha.
Quero que o meu amor te seja leve
Como se dançasse numa praia uma menina.”
Lya Luft é uma escritora, acadêmica e tradutora brasileira, além de também ter sido colunista da Revista Veja. Durante a vida, produziu diversas poesias, contos, ensaios, crônicas, romances e literatura infantil.
15. Amor – Hilda Hilst
“Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua de estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas.
E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena.
E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida”
Hilda Hilst era cronista, poetisa, dramaturga e ficcionista brasileira, que fez parte da “Geração de 45”. Ela foi considerada uma das maiores escritoras do século XX.
16. Amor como em Casa – Manuel António Pina
“Regresso devagar ao teu
sorriso como quem volta a casa. Faço de conta que
não é nada comigo. Distraído percorro
o caminho familiar da saudade,
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro. Devagar
te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa,
compro um livro, entro no
amor como em casa.”
Manuel António Pina era poeta, jornalista, tradutor e autor de livros infantis, além de formado em Direito também. Como jornalista, ele chegou a ser editor e chefe de relação, passando por programas como “Jornal Nacional”, da Globo.
17. Casamento – Adélia Prado
“Há mulheres que dizem:
Meu marido, se quiser pescar, pesque,
mas que limpe os peixes.
Eu não. A qualquer hora da noite me levanto,
ajudo a escamar, abrir, retalhar e salgar.
É tão bom, só a gente sozinhos na cozinha,
de vez em quando os cotovelos se esbarram,
ele fala coisas como ‘este foi difícil’
‘prateou no ar dando rabanadas’
e faz o gesto com a mão.
O silêncio de quando nos vimos a primeira vez
atravessa a cozinha como um rio profundo.
Por fim, os peixes na travessa,
vamos dormir.
Coisas prateadas espocam:
somos noivo e noiva.”
Adélia Prado é escritora e poetisa brasileira, que se consagrou como a voz mais feminina da poesia brasileira. Seu trabalho, com o livro “Coração Disparado” (1978), lhe concedeu o Prêmio Jabuti de Literatura.
18. Eu te amo – Chico Buarque de Hollanda
“Ah, se já perdemos a noção da hora
Se juntos já jogamos tudo fora
Me conta agora como hei de partir
Se, ao te conhecer, dei pra sonhar, fiz tantos desvarios
Rompi com o mundo, queimei meus navios
Me diz pra onde é que inda posso ir
Se nós, nas travessuras das noites eternas
Já confundimos tanto as nossas pernas
Diz com que pernas eu devo seguir
Se entornaste a nossa sorte pelo chão
Se na bagunça do teu coração
Meu sangue errou de veia e se perdeu
Como, se na desordem do armário embutido
Meu paletó enlaça o teu vestido
E o meu sapato inda pisa no teu
Como, se nos amamos feito dois pagãos
Teus seios inda estão nas minhas mãos
Me explica com que cara eu vou sair
Não, acho que estás se fazendo de tonta
Te dei meus olhos pra tomares conta
Agora conta como hei de partir”
Chico Buarque de Holanda é dramaturgo, escritor e músico brasileiro, que conquistou diversos fãs pelo Brasil. Ele chegou a escrever uma série de livros, lançados e traduzidos, além de ter recebido o Prêmio Camões, pelas obras.
19. As sem-razões do amor – Carlos Drummond de Andrade
“Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou de mais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.”