O errar, mesmo disfarçado, pode ser, por vezes, motivo de distração, as conhecidas válvulas de escape que tanto precisamos para fugir de nós mesmos e da mesmice do dia a dia, quando a vida se torna comum demais.
A frase acima pode parecer controversa para aqueles, que como eu, já atingiram a idade adulta e maturidade equivalente. Com o passar dos anos, avaliamos e reavaliamos o nosso passado, com todo o peso que cabe às escolhas malfeitas, à intensidade e impulsividade da juventude, além dos desacertos que fizeram parte deste caminho, por qualquer motivo que tenha sido.
Aprendemos doloridamente a tal da temperança, o equilíbrio entre o desejo de fazer agora e a sensatez de refletir antes de agir. Quanto tempo se leva para atingir tal maturidade…, e quantas quebradas de cara…?
Fato é que após tantos anos, aprendizados e transformações internas, adquirimos uma tendência natural de nos afastarmos de tudo que possa vir a ser um erro. Não nos permitimos mais errar. Entendemos que errar machuca, causa remorso e leva-se muito tempo até fixar o erro. E se torna mais fácil e aparentemente mais coerente, simplesmente, não mais arriscar.
Mas será que é assim mesmo? Para toda situação, arriscando-se ou não, creio que valem algumas reflexões. Mas talvez não tantas assim.
Errar faz parte da vida, mesmo que já sejamos adultos, velhos e ranzinzas. E se já nos tornamos ranzinzas, uma razão a mais para arriscar o cometimento de um erro.
Que erro?
Quantas vezes ficamos em casa sozinhos pelo medo e falta de vontade de arriscar um novo relacionamento? Ou até mesmo um simples encontro? Não terá se tornado mais fácil, simplesmente deixar para lá, do que se levantar do sofá, para algo que pode ser só novamente uma perda de tempo? Ou não?
E aquela viagem com o amigo? Pensa-se no tempo gasto, no investimento financeiro para tal e, por fim, acaba-se nem vivenciando uma experiência que poderia ter sido única e surpreendente.
Acostumamo-nos com a zona de conforto madura, certa, que não cansa e não causa danos. Soterramos de certezas, manias seguras e confortáveis, que nos permitem o fim de semana de acordo apenas com o que se gosta: uma série na TV, um livro, um esporte, um lazer qualquer, sem erro, aventura ou fora da zona da maturidade responsável.
Será que não nos faz falta um pouquinho da velha impulsividade e falta de juízo? O sair por aí, encarando qualquer um na rua, para o início de um bate-papo qualquer, uma conversa despretensiosa que irá nos levar a algum lugar ou lugar algum.
Amadurecer é bom, pois nos faz cientes de nós mesmos, de tudo o que se gosta e o que se desgosta, de tudo o que se aceita e daquilo que incomoda e nos faz passar longe.
Permite-nos o afastar de quem nada acrescenta, e ao contrário, também entendemos aqueles que se fazem presentes e indispensáveis em nossas vidas.
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Amadurecer traz consciência, equilíbrio, evolução. Mas, convenhamos, também nos torna mais chatos por alguns vieses, porém vieses que podem ser trabalhados vez em quando, permitindo-nos um errar de leve, passageiro, que talvez se transforme num adorável acerto ou um breve momento de prazer, de redescobertas.
Se fizermos um pouquinho de esforço, seremos capazes de nos lembrar, de muitos erros, que mesmo não tendo sido acertos, foram outrora motivos de boas alegrias e risos. O errar, mesmo disfarçado, pode ser, por vezes, motivo de distração, as conhecidas válvulas de escape que tanto precisamos para fugir de nós mesmos e da mesmice do dia a dia, quando a vida se torna comum demais.
Errar, por vezes, ou por pouco tempo, pode ser um breve acertar. Se faz bem, que mal tem?
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