Roupas, comportamentos e obrigações apenas de adultos podem fazer com que as crianças percam a noção das próprias vontades e desejos.
A expressão adultização infantil pode ser desconhecida para muitas pessoas, mas basicamente é o estímulo que oferecemos a comportamentos que não condizem com a idade de nossos filhos.
É preciso que os adultos evitem o máximo possível o reforço de comportamentos de exposição prematura e outros estímulos do mundo adulto.
Mas essa adultização não gira em torno apenas da sexualização infantil ou das roupas que as crianças vestem, mas também com o que esperamos que façam e falem.
É muito comum, principalmente nas sociedades ocidentalizadas, que as crianças não tenham espaços claros na comunidade, sendo frequentemente colocadas de lado ou tachadas como “inconvenientes”.
Justamente por isso, muitas mães, pais e/ou responsáveis se sentem pressionados a exigir dos filhos — principalmente em público — um comportamento mais sóbrio, como se fossem miniadultos. Eles não podem pedir nada, não podem chorar, não podem se sujar enquanto brincam, não podem querer brincar em excesso, não podem sentir vontade de comer doces, e por aí vai.
Acontece que todas as vezes que limitamos o desenvolvimento de uma criança, obrigando-a a demonstrar capacidade racional, emocional e física que não condiz com seu desenvolvimento, nós prejudicamos sua evolução afetiva, assim como o desenvolvimento cognitivo, de habilidades motoras e até mesmo sua linguagem.
Os principais especialistas em desenvolvimento infantil concordam que uma das coisas essenciais no processo da infância é o brincar livremente, e nenhuma criança pode ser privada disso. Por isso, preencher os dias dos filhos com sucessivas tarefas, esportes e outros programas pode prejudicar sua capacidade de desenvolver a autonomia e estimular a imaginação.
Sexualizar a criança, exigir dela comportamentos incompatíveis com sua idade e até mesmo puni-la por não corresponder ao ideal de crescimento esperado podem fazer com que ela apresente dificuldades em se socializar no futuro, que adote hábitos de consumo inadequados, seja sedentária e demonstre baixa autoestima.
O respeito é a melhor ferramenta de cuidado
Assim como queremos ser respeitados, as crianças também! Zelar da infância é um compromisso que deve partir principalmente dos adultos e dos agentes de transformação da sociedade, reforçando a importância que damos às novas gerações. Cuidadores, professores e outros profissionais envolvidos no processo da infância sabem muito bem que é preciso seriedade tanto da população quanto de políticos nessa estrutura.
É por isso que, nessa cadeia, pais e/ou responsáveis são as pessoas mais importantes na contenção e repreensão da adultização precoce. Determinar responsabilidades incompatíveis com o processo de desenvolvimento da criança, pressionar, reforçar e exigir resultados que vão muito além das capacidades cognitivas dela não auxiliam em nada na proteção da infância.
Outra coisa que demanda atenção dos pais é a exposição a conteúdos adultos que envolvam violência, cenas eróticas ou qualquer tipo de apelo que não se encaixe na faixa etária das crianças. A internet acaba sendo uma vilã neste caso, e é preciso impor limites em relação ao conteúdo e à quantidade de tempo de uso dessa ferramenta.
Sabemos que, na correria da rotina, muitas vezes usamos os equipamentos eletrônicos como uma válvula de escape, oferecendo telas em excesso para conseguir preparar as refeições, limpar a casa ou até mesmo entregar aquele trabalho para o chefe. Mas é importante que, minimamente, saibamos que tipo de conteúdo nossos filhos consomem.
O diálogo pode ser o melhor instrumento nesse momento, tanto com as crianças quanto com as pessoas que convivem com elas. Falar com a professora sobre o comportamento dos filhos, conversar com eles sobre o que têm assistido e/ou jogado e falar um pouco de suas expectativas e anseios. Além disso, passar um tempo de boa qualidade juntos é indispensável, mesmo que sejam 30 minutos por dia, longe de celulares e obrigações.
Cuidar da infância é um trabalho dos adultos, por isso o engajamento da comunidade também é de suma importância. Precisamos acolher mães, pais e filhos, permitindo que não apenas integrem a sociedade, mas que sejam partícipes relevantes desse processo de construir um futuro em todos caibam e sem se sentir deslocados.