”Talvez nem todos saibam disso, mas a arte de se colocar no lugar do outro é transformadora. Além de essa atitude poder mudar a sociedade em que vivemos, ela é capaz de fazer o bem às pessoas mais próximas de nossas vidas: nós mesmos. Não é caridade, não é sacrifício pessoal. É sim, a capacidade que todos temos de fazer para o outro apenas aquilo que gostaríamos que fizessem conosco.”
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“… Ainda no mesmo segundo, um espermatozóide provido do cromossomo X, pertencente ao Sr. Raphael Poulain, se afasta do pelotão para se unir a um óvulo pertencente à Sra. Poulain.” E nove meses depois entramos no pequeno universo particular de sua filha, Amélie Poulain.
Estrelado por Audrey Tautou e dirigido pelo cineasta Jean-Pierre Jeunet, o longa metragem francês “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” fala, principalmente, sobre os pequenos prazeres da vida e as sensações que alguns modestos favores podem nos causar. Porém, por meio de um olhar mais demorado sob o filme, dono de um roteiro relativamente simples – mas poético e melancólico -, podemos perceber um valioso ensinamento: a importância de pensarmos uns nos outros.
A obra conta a história de Amélie, uma doce e ingênua menina que cresceu sob os cuidados de pais superprotetores que, consequentemente, proporcionaram a ela uma infância solitária. Mas isso não impediu que, tornando-se adulta, ela percorresse seu próprio caminho mudando-se do subúrbio para Montmartre, em Paris, onde viria a trabalhar de garçonete. Certo dia, Amélie encontra uma caixa escondida no banheiro de sua casa com objetos pessoais e infantis que aparentam ser de uma criança. Logo, ela deduz que as peças seriam do antigo morador, então a jovem decide procurá-lo para devolver. É assim, através desse pequeno gesto, e da evidente alegria do homem ao reaver os seus pertences, que Amélie descobre uma nova forma de ver o mundo tornando-se empática.
Empatia é uma palavra de origem grega e refere-se a nossa capacidade psicológica de tentar compreender sentimentos e emoções de outro indivíduo. Ou seja, quando vemos uma pessoa passando por dificuldades no trabalho, problemas pessoais ou familiares, precisamos nos colocar no lugar dela, nos imaginar na mesma situação. Não é fácil, claro, mas assim como no filme, na vida real o resultado também é prazeroso.
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“Para uma criança, o tempo é eternidade. De repente, você tem 50.”
A empatia leva as pessoas a ajudarem umas às outras. É o que Amélie faz. No decorrer de seus dias, ela passa a efetuar pequenos favores a pessoas conhecidas e outras até então desconhecidas. E é em uma dessas pequenas grandes ações que a jovem encontra um homem que muda o seu destino para sempre.
Podemos então aprender com Amélie uma diferente e real forma de nos tornarmos pessoas melhores? Sim, pois a empatia está intimamente ligada ao altruísmo – amor e interesse pelo próximo – e à capacidade de ajudar. Além de beneficiar as pessoas que estão ao nosso redor, atraímos melhorias para nós, pois exige que sejamos receptivos aos outros e, simultaneamente à nossa totalidade interior. Criamos assim a necessidade de estar dispostos a conhecer tanto o outro como a nós mesmos. Isso pode estreitar os nossos relacionamentos e ajuda-nos a desapegarmos da sensação que gera ansiedade e solidão. Exatamente o que Amélie sentia quando era criança.
Mas claro que, na prática não é tão simples. Para estabelecer novos e bons contatos, precisamos jogar fora pensamentos pré-construídos sobre o jeito de ser do outro. Isso é gerado, principalmente, pelo costume que temos (Sim! Eu e você), de criarmos a imagem de alguém sem procurar conhece-lá previamente. É assim que corremos o risco de cometer equívocos e julgamentos indevidos.
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Praticar a empatia nos aproxima dos outros e nos ajuda a reconhecer as diferenças e os pontos que nos unem. É importante lembrar que, isso não significa tornar-se similar ao outro. Mas sim aprendermos a lidar com as nossas diferenças. Em geral temos o hábito de olhar apenas para as nossas necessidades e acabamos nos esquecemos que vivemos cercados por pessoas com diversos planos, objetivos e sentimentos.
Então vamos fazer disso um hábito: reconhecer nossas qualidades, o que não gostamos em nós e o que o outro tem para nos ensinar. Quanto mais soubermos lidar com as nossas vontades e com os desejos alheios, melhor será o ambiente em que convivemos e mais saudável será a nossa rotina. Sem contar, claro, que ainda teremos o privilégio de termos relacionamentos mais saudáveis e agradáveis melhorando nosso convívio com outros indivíduos.
Sejamos todos um pouco Amélie!