Desistir de nós é um ato de covardia absoluta.
Quando somos gerados, a partir do primeiro momento da fecundação, o embrião envia sinais moleculares à mãe, para que ambos se coordenem como vidas diferentes.
O novo SER é uma pessoa com dinamismo vital aberto, próprio da espécie humana.
A ciência reconhece que a vida humana é a vida de um sujeito ao longo da sua trajetória temporal de crescer, amadurecer, envelhecer e morrer.
Mas a maioria das pessoas atravessa o tempo, esquecendo que este é o caminho certo, aquele que precisa de ser feito com sabedoria, com simplicidade, com equilíbrio, vitalidade e evolução por conta própria.
Na sociedade atual, vive-se a forma de crescer quase sem regras, os jovens estão por sua conta, entregues a recursos de gestão de tempo e de informação, muito à frente daquilo que lhes é próprio da fase de crescimento.
Desde bem pequeno que já se é grande, maduro, desprovido de capacidade de auto conhecimento, de aprendizagem pelas regras simples da descoberta.
Ao longo do percurso a que chamamos amadurecimento, vão-se instalando no ser humano vazios existenciais, pois como tudo já lhes chega num formato pré construído, não precisam do esforço de conquista que aguça a sabedoria e a sensibilidade para vencer obstáculos e aprender a contornar as adversidades da vida.
Chega-se a velho, sozinho, doente na maior parte das vezes sendo-se um estorvo social, quer para a família mais próxima, quer para a sociedade em geral.
Não me parece que os avós do futuro possam acompanhar os seus netos, pois não haverá mais geração de avós e sim pais envelhecidos. Se olharmos ao nosso redor, as mães de hoje como eu, aos 52 anos têm filhos entre os 25 e os 30 anos.
Mas os nossos filhos, quando chegarem à idade que temos hoje já terão filhos mais jovens, ou seja eles serão pais-avós.
Isso é preocupante se avaliado em termos genéticos, porque se perde neste percurso a adolescência, salta-se da infância para uma fase de adultos incompletos, que cresceram num frenesim de acontecimentos que não lhes permitiu SER uma pessoa com dinamismo vital aberto próprio.
Vive-se de tal forma em função de tecnologias tão velozes, que os cérebros se transformam e o que mais se perde neste novo formato de humanos, é o amor próprio, aquele que nos permite ser inventivos, audazes, destemidos, irrefletidos e amorosos.
Basta olharmos para o lado num qualquer espaço das nossas cidades, por exemplo, nos transportes públicos e todos vão de cabeça baixa a usar um equipamento eletrônico.
Em nossas casas, as televisões, ocupam o espaço do diálogo em família e com isso perdem-se os laços de afeto, de educação parental e o amor.
Dei por mim, nas minhas férias de casal, a observar um número assustador de famílias que viajam com pais, filhos e avós para destinos paradisíacos.
Tudo isto na vã esperança de se aproximarem ou a título de descargo de consciência.
No entanto nem assim abdicam dos hábitos nocivos que os afastam ao longo do ano… apenas mudaram de lugar e regressam a casa mais distanciados.
Tal como na história dos irmãos Grimm “ Hansel e Gretel”, precisamos de colocar novas pedras nos caminhos da vida familiar, porque as famílias estão-se a perder e já nem se contam histórias de encantar!