Uma cena que tem se tornado comum nas redes sociais e que merece um pouco da nossa atenção.
As redes sociais transformaram completamente a forma como nos relacionamos com nós mesmos e o mundo ao nosso redor. Se antes tínhamos o costume de ser mais discretos e contar as novidades importantes de nossa vida apenas para os familiares e amigos próximos, hoje compartilhamos absolutamente tudo sobre nosso dia a dia com nossos seguidores.
Estamos cada vez mais imersos nesse mundo online, aproveitando todos os conteúdos interessantes que ele tem a nos oferecer, inclusive a oportunidade de obtermos nossa renda completa por meio das grandes mídias sociais.
No entanto, apesar de esse mundo online nos trazer diversão e lucro, algumas pessoas usam-no de maneiras bastante complicadas. Não é incomum vermos gente fazendo sucesso na web à custa de outras pessoas, seja fofocando, criticando, espalhando notícias falsas e difamatórias, entre outros inconvenientes.
Ainda nessa questão de se valer das dificuldades de outras pessoas em benefício próprio, uma situação que já está se tornando “moda” nas redes sociais, especialmente por parte de pessoas famosas: são as famosas fotos com crianças africanas, sempre acompanhadas de textos enormes sobre todas as suas boas ações e o quanto o mundo precisa mais desse tipo de atitude.
Embora seja verdade que vivemos numa sociedade egoísta, que raramente consegue tirar os olhos dos próprios problemas para enxergar as dificuldades que muitas comunidades mundo afora vivem, a realidade é que nem sempre essas publicações são feitas com o objetivo de nos chamar a atenção e gerar mudanças, mas sim de atrair likes.
Conseguimos perceber que as intenções não são verdadeiras por uma série de fatores, mas principalmente através do fato de que quem realmente se importa em ajudar e fazer a diferença no mundo dificilmente tem como prioridade a exposição de suas ações nas redes sociais.
É fácil perceber que em muitas dessas publicações as crianças africanas, que vivem uma realidade muito difícil, por isso se abrem puramente às pessoas que chegam, são usadas como troféus para obter likes.
As crianças e as suas famílias, que sabem melhor do que ninguém o peso da ignorância e ganância humanas, são “usadas” por essas pessoas, que sabem muito bem o impacto de uma foto ou um vídeo contando a sua história, e apesar de serem sim ajudadas, acabam se tornando coadjuvantes de uma ação de egoísmo, quando deveriam ser o foco principal de uma verdadeira mobilização para espalhar a generosidade e empatia pelo mundo.
Esse tipo de realidade nos mostra o quanto o nosso mundo está de cabeça para baixo. As redes sociais e a necessidade de likes, fama e reconhecimento se tornaram tão grandes, que estamos usando pessoas com necessidades reais apenas para aumentar a nossa popularidade em uma rede social da qual nossa vida não depende inteiramente.
Não estamos dizendo que não existe verdade e boas intenções no coração das pessoas que divulgam esse tipo de ação nas redes, mas deixando claro que nem sempre o seu foco é propagar o bem que esse povo tanto precisa.
Vivemos uma síndrome dos “salvadores brancos”, uma necessidade de as pessoas do Ocidente retratar a África como um lugar em ruínas, que só conhece as doenças, a pobreza e a fome, reforçando o estigma de que o povo africano nunca será capaz de conquistar nada na vida sem a nossa ajuda.
É preciso pensarmos urgentemente nisso e compreender os impactos que esse tipo de atitude causa no mundo. A necessidade de likes não pode ser maior que o nosso desejo de fazer o bem a outros seres humanos e causar um impacto positivo.
As crianças africanas não precisam de fotos com milhões de curtidas nem de uma exposição sem nenhum resultado, elas precisam de corações no lugar certo, que compreendam que dignidade, saúde e comida na mesa valem mais do que qualquer “fama” que a rede social pode nos proporcionar.