O escritor usou as redes sociais para publicar uma comovente reflexão sobre a tragédia no Capitólio, em Minas Gerais.
Logo no início de 2022, um terrível acidente chocou a população brasileira. Nas imagens amadoras feitas pelos turistas que passeavam de lancha numa paisagem paradisíaca, vê-se uma enorme rocha se desprendendo do paredão e caindo sobre uma embarcação, causando aquela que seria uma das maiores tragédias dos últimos anos.
Tudo aconteceu na represa de Furnas, em Capitólio, Minas Gerais. O turismo na região estava em alta, marcando as festividades e as férias do início do ano, por isso muitos turistas em várias lanchas podem ser vistos nas imagens. Até o momento, o Corpo de Bombeiros identificou 10 pessoas mortas na tragédia, todas ocupavam a mesma lancha, que ironicamente tinha o nome de “Jesus”.
A quantidade de pessoas que usaram as redes sociais para prestar homenagens às vítimas, falando um pouco sobre o ocorrido e fazendo suas reflexões, é alta. É possível perceber que, principalmente em momentos delicados, a comunidade escolhe se unir com o objetivo de solucionar problemas, confortar famílias e ajudar como pode. Já vimos isso acontecendo em outros momentos, infelizmente, também trágicos.
Uma pessoa que também usou seu espaço para falar do acidente no Capitólio foi o escritor Fabrício Carpinejar. Em emocionante publicação, ele foi capaz de imprimir sensações, falando da fragilidade humana e da dor da ausência. De acordo com ele, o local é um marco para todos os turistas e moradores de Minas Gerais, reforçando que muitas pessoas já desfrutaram daquela paisagem, das águas da represa e do cânion, inclusive ele.
Carpinejar inicia sua reflexão dizendo que a morte não tem explicação. Quem que estava ali, momentos antes da tragédia, tinha reunido seus familiares e sentia ter a “bênção da proteção”, já que todos ocupavam a lancha “Jesus”. O seria um entretenimento de uma hora, tornou-se assustador, em que todos se perguntavam por que aquilo tinha acontecido.
O autor ainda disse que, para todos os que já visitaram o local, não existe quem não tenha imaginado o próprio fim enquanto olhava para o cânion e seus paredões. Enquanto acompanhava as notícias, sentiu que falecia mentalmente, chegou a se ver entre os escombros, perdendo seus filhos e sua esposa. Algum tempo antes, quando visitou o local, o deslizamento já estava próximo de acontecer, as pedras já se soltavam secretamente, mas por um detalhe, ele e sua família não foram as vítimas.
A revolta do autor ao expressar sua dor pelas 10 vítimas anunciadas e pelas mais de 30 feridas perpassou todos os cidadãos brasileiros. Mesmo que, em um primeiro momento, o choque tome conta, assim que passamos a assimilar a tragédia, buscamos culpados. Especialistas já conseguem afirmar que o intemperismo e a erosão, acelerados pelo turismo e pela construção de resorts no local, podem ser as possíveis causas da tragédia.
Para Carpinejar, o acidente faz com que sintamos que não existe lógica, que somos extremamente frágeis e, em muitos momentos, simplesmente escapamos por muito pouco de nos despedir definitivamente de quem amamos. Enquanto repassa as gravações dos sobreviventes, o autor sente que não consegue parar “de morrer junto”, de tentar encontrar alguma forma de escapar da situação.
Assim como em outras tragédias, o sentimento de luto e de perda custa a deixar de nos acompanhar. Em qualquer lugar, todos falam sobre aquele acidente, sobre o que já sabem sobre as vítimas, o que imaginam ter acontecido. Mas quando estamos sozinhos e pensamos naqueles momentos, parece que conseguimos sentir o que as vítimas sentiram, o desespero, o grito sufocado nos seus últimos segundos.
Que todas as famílias envolvidas sejam confortadas e essa tragédia sirva para que os locais que sobrevivem do turismo protejam mais e melhor suas paisagens, cuidando de cada pedacinho delas. A natureza é nossa estrutura, nossa base fundacional, mas os estragos que fazemos nela a colocam de maneira veemente contra nós. Este é o momento de buscar uma vida com menos impactos ambientais.